Como os sambistas que se equilibravam em pernas de pau ao cruzar na Ipiranga, o bloco festejou 10 anos tendo de driblar obstáculos para se manter. "A cobra coral é um ser que troca de pele. Cada década traz uma transformação e estamos nesse momento de mudança, com nova banda, um recomeço", disse a fundadora, Raphaela Barcalla.
Os novos ares começaram antes mesmo do dia do desfile. Raphaela explica que 2024 foi um ano excepcionalmente desafiador para a organização. "Nunca tivemos tanta dificuldade de patrocínio desde o terceiro ano do bloco. As marcas ficaram esperando quem seria o patrocinador oficial da cidade e isso saiu menos de um mês antes do carnaval. Então, elas preferiram apoiar eventos fechados, mas conseguimos levar adiante", disse.
Como o Estadão mostrou, o carnaval de rua de 2024 teve um número de inscritos inferior em relação ao pré-pandemia, com queixas reiteradas em relação à falta de apoio público. E os cancelamentos ocorreram mesmo no período de pré-carnaval. Mas nada que impedisse os foliões, que voltaram às ruas em número até maior que em outros anos, em meio à pandemia.
Segurança
O público começou a se reunir antes mesmo da concentração do bloco, marcada para às 9h, com o intuito de conseguir lugar próximo ao trio. Foi o caso de Rafaela Marques, de 31 anos. A professora frequenta o Tarado Ni Você desde 2022 e explica que, além do repertório de Caetano Veloso, o maior atrativo do evento, para ela, é a presença de uma banda de músicos. "São Paulo é muito carente de bloco com música ao vivo. E esse é o diferencial daqui. A energia é muito melhor e, além disso, sentimos que estamos em casa, porque sabemos que a organização também é feita por pessoas LGBTQIAPN+ e aliados", afirma.
Rafael Hermés, de 29 anos, também frequentador assíduo do evento, diz que, com o passar dos anos, desenvolveu estratégias diferentes para curtir o bloco com segurança. "A maturidade traz sabedoria. Hoje em dia, como aqui enche muito, eu venho com duas pochetes, guardo o celular dentro da roupa. Para conseguir ficar até o final, a dica é hidratação e ter um remedinho pra ressaca", afirma o professor - embora, como o Estadão mostrou ontem, esses remédios muitas vezes não tenham efeito.
O percurso começou às 11 horas, justamente no emblemático cruzamento entre a Avenida Ipiranga com a Avenida São João, foco de problemas de segurança nos últimos meses, e seguiu conduzindo o público na direção do Teatro Municipal. Logo no início, a cantora Any Gabrielly fez uma participação no trio e cantou sucessos de Caetano. Mais tarde, foi a vez da cantora Tássia Reis assumir o microfone.
Apoteose
O momento de destaque do desfile foi o encerramento, com a aguardada chuva de tinta de fumaça no Teatro Municipal. Às 13 horas, a cobra coral ocupou a tradicional escadaria, que também foi coberta de tinta vermelha. "Nós trazemos esse levante de um olhar artístico e cultural para São Paulo. Desmistificar a ideia de uma cidade cinza. Nosso intuito é trazer essa reflexão de ocupar os espaços públicos e trazer essa reinvenção da linguagem estética do carnaval de São Paulo", afirmou Raphaela Barcalla.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.