PM que matou Ágatha Felix é julgado: 'O que está mais aflorando é a esperança', diz mãe

Assistente de acusação Rodrigo Mondego afirma que vai buscar a responsabilização de quem cometeu o crime

Ágatha Victoria Felix estava com a mãe em uma kombi no Morro da Fazendinha quando foi atingida
Ágatha Victoria Felix estava com a mãe em uma kombi no Morro da Fazendinha quando foi atingida -
Rio - A mãe de Ágatha Félix, Vanessa Félix, afirmou na manhã desta sexta-feira (8) que enfrenta um mix de emoções com o tribunal do júri do réu, acusado de matar a criança de oito anos. Ela destacou a esperança pela condenação. O julgamento do policial militar Rodrigo José Matos Soares acontece no Fórum, no Centro do Rio. Atualmente, ele responde ao processo em liberdade.

"Estou com um mix de emoções: ansiedade, tristeza, euforia, alegria, tudo ao mesmo tempo. O que está mais aflorando é a esperança de que o réu seja condenado", declarou antes de entrar no plenário.

Vanessa acrescentou que os cinco anos decorridos desde o crime não afetam a saudade da filha. "As últimas semanas têm sido de muita ansiedade. Podem se passar anos, séculos, eu sempre vou sentir a falta. A saudade sempre vai existir. A gente tenta sobreviver por conta das memórias que ela deixou. Confio muito em Deus", disse.
No julgamento, serão ouvidas as testemunhas de acusação e defesa. Pela acusação, prestarão depoimento Vanessa Francisco Sales, mãe de Ágatha, Moisés Atanazio Adriano, motorista da kombi, Ismael da Conceição Sacramento, morador, Igor Querino Veríssimo, funcionário de um bar, e Luiz Gabriel Bragança da Silva, também morador e amigo de Igor. Pela defesa, falarão os policiais militares Paulo Orlando Picolo da Silva, Anderson Fernandes de Oliveira, Alanderson Ribeiro de Oliveira, Bruno Luiz de Souza Mayrink e Ronson de Matos Lima.
A primeira a depor foi Vanessa. Ao júri, ela detalhou o momento do crime. A mãe de Ágatha contou que estava de férias no trabalho e voltava de um passeio no shopping quando a filha foi morta. "Ela adorava lanchar no Mc Donald's. Mal saberíamos que aquele seria o último lanche. Tudo que eu fazia eu incluía a Ágatha, tudo era voltado para ela. Ágatha falava muito e hoje eu não a ouço mais", relatou. O depoimento de Vanessa é atravessado pela emoção da mãe e de familiares que assistem o testemunho da plateia.
Familiares de vítimas da violência do estado marcaram presença em frente ao Fórum. A mãe de João Pedro, morto no Complexo do Salgueiro aos 14 anos, em 2020, Rafaela Mattos, diz que o júri representa a Justiça que sua própria família ainda não alcançou. Os três policiais acusados pela morte do adolescente foram absolvidos sumariamente, sem ir ao júri, em julho desse ano.
"Estar aqui hoje é uma sensação de justiça porque eu tive esse pedido de júri negado. É claro que justiça seria os nossos filhos estarem aqui vivos, mas a gente espera que a justiça faça a sua parte nesse dia. Eu vim aqui também para dar um abraço na Vanessa [mãe da Ágatha], porque somos nós por nós mesmas. Ela foi uma das primeiras mães a me apoiar", declara Rafaela.

O assistente de acusação Rodrigo Mondego afirma que vai buscar a responsabilização de quem cometeu o crime e uma resposta para a família de Ágatha Félix. "A gente não pode naturalizar a morte de crianças. A gente vive em uma cidade onde uma criança é morta voltando para casa com a mãe, depois de ter feito compras. Isso não é razoável, não é civilizado", afirma.

A menina foi atingida nas costas enquanto voltava para casa de Kombi com a mãe, no Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão, Zona Norte, em 20 de setembro de 2019. O policial atirou de fuzil contra dois homens em uma moto, achando que se tratavam de criminosos. O disparo, no entanto, acertou o veículo onde a criança estava. O inquérito da Polícia Civil confirmou que o projétil que causou a morte da menina veio da arma de Rodrigo.

Em dezembro de 2019, o PM foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) por homicídio qualificado. Apesar de o caso ter acontecido há cinco anos, o processo só começou a ser julgado em 2022. O júri popular foi confirmado em abril do ano passado.

O MP-RJ fez uma investigação própria e concluiu que o policial atirou e por isso ele se tornou réu e responde pelo homicídio doloso. No mês de setembro do ano passado, a defesa do policial chegou a entrar com recurso para barrar o júri popular, mas a Justiça entendeu que o processo deveria seguir.