Rio – As investigações da Polícia Civil que resultaram na prisão de 37 pessoas, na manhã desta terça-feira (18), descobriram que uma quadrilha especializada em roubo de celulares seguido de extorsão tinha acesso a funcionários de operadoras de telefonia. A Operação Omiros foi deflagrada pela Delegacia de Defesa de Serviços Delegados (DDSD) para cumprir mandados de prisão preventiva.
Em coletiva após as capturas, o delegado Felipe Curi, Secretário de Polícia Civil, revelou que os criminosos demandavam dos funcionários uma tarefa específica: "Nossa investigação provou que eles tinham acesso nas operadoras, de forma remota, a funcionários, que efetuavam os desbloqueios dos IMEIs (número único e global de identificação do aparelho), internamente".
A polícia acredita que com os aparelhos desbloqueados, eram maiores os lucros e a probabilidade de acesso a contas bancárias e aplicativos financeiros das vítimas.
Questionada sobre tal vínculo, a Polícia Civil informou que "o envolvimento de funcionários de operadoras é objeto de investigação".
Extorsão
Na coletiva, Curi ressaltou uma proximidade dos ladrões de celulares – que atuavam principalmente na Central do Brasil, no Centro; Calçadão de Bangu, na Zona Oeste; e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense – também com o Comando Vermelho.
De acordo com as investigações, a facção criminosa fornecia armamento para os roubos e autorizava os crimes em troca de parte dos lucros, cuja origem era a outra atividade praticada pelo grupo que a polícia constatou no decorrer da operação.
Após roubarem os telefones, os assaltantes passavam a extorquir as vítimas – de diferentes maneiras –, como uma outra forma de conseguir informações presentes nos dispositivos, sobretudo, sobre a conta bancária.
Curi deu mais detalhes: "Nas comunidades, eles levam os produtos roubados aos traficantes, que querem o conteúdo do celular. Se desbloqueiam uma conta bancária com R$ 10 mil, R$ 20 mil, R$ 100 mil, seja o que for, boa parte disso vai para o traficante, que dá para o cara que praticou o roubo, muitas vezes, o aparelho. E essa é mais uma fonte de renda para a facção criminosa".
Forma de atuação
De acordo com as investigações, o grupo era dividido em diversos núcleos, responsáveis por diferentes atividades, como fornecimento de armas, prática do roubo, receptação dos celulares e extorsões. Este último, para conseguir senhas e acesso aos dispositivos, faziam uso de ameaças diretas, intimidação psicológica e coação financeira, exigindo pagamentos e outras informações, inclusive para familiares das vítimas.
De acordo com as investigações, o grupo era dividido em diversos núcleos, responsáveis por diferentes atividades, como fornecimento de armas, prática do roubo, receptação dos celulares e extorsões. Este último, para conseguir senhas e acesso aos dispositivos, faziam uso de ameaças diretas, intimidação psicológica e coação financeira, exigindo pagamentos e outras informações, inclusive para familiares das vítimas.
"Essa estratégia sofisticada tornava a organização ainda mais lucrativa, pois dispositivos desbloqueados têm maior valor de revenda e permitiam o acesso a contas bancárias e aplicativos financeiros das vítimas", acrescentou a Polícia Civil.
Os diferentes métodos de coação eram:
- Ameaças diretas via WhatsApp e SMS: fotos de armas de fogo e exposição de dados pessoais das vítimas, incluindo endereços e nomes de familiares, eram enviados para gerar pânico;
Os diferentes métodos de coação eram:
- Ameaças diretas via WhatsApp e SMS: fotos de armas de fogo e exposição de dados pessoais das vítimas, incluindo endereços e nomes de familiares, eram enviados para gerar pânico;
- Uso de informações adquiridas na “dark web”: criminosos acessavam bases de dados para personalizar as ameaças e aumentar sua eficácia;
- Golpes de “phishing”: mensagens falsas induziam vítimas a inserir credenciais em sites fraudulentos, permitindo que os criminosos desbloqueassem os celulares e acessassem aplicativos bancários;
- Pressão psicológica e chantagem financeira: algumas vítimas eram obrigadas a fazer transferências bancárias para evitar que suas informações fossem vazadas ou repassadas a facções criminosas.
Quando esses métodos falhavam, os celulares eram desmontados e vendidos como peças para assistências técnicas clandestinas.
Quando esses métodos falhavam, os celulares eram desmontados e vendidos como peças para assistências técnicas clandestinas.
Nesta terça (18), uma vítima esteve na Cidade da Polícia – no Jacaré, Zona Norte, para onde também foram levados os detidos – e contou que foi alvo da quadrilha depois de anunciar um celular em um site de vendas. Segundo a mulher, que preferiu não se identificar, ela recebeu um comprovante falso de pagamento e entregou o aparelho. Desde então, não recebeu o dinheiro.
"Eu anunciei no dia 12 de fevereiro e à noite mesmo começaram a me procurar. Pediram para fazer tudo por WhatsApp e que a negociação ia ser toda por e-mail, onde chegou um comprovante falso de pagamento com um falso de cadastro de dados bancários. Falaram que eu ia receber em dois dias úteis. A pessoa o tempo todo pedia pressa, dizendo que eu só tinha duas horas para mandar o telefone. Só percebi que era um golpe no dia 14 porque não caiu o dinheiro. Na esperança alguma justiça e que outras pessoas não caiam nesse golpe", comentou.