Mãe de empresário morto em abordagem desabafa: 'Momentos que nunca pensei em passar'

Rhuan Rodrigues Pereira, de 20 anos, morreu depois de ser baleado dentro do carro em São Gonçalo em agosto de 2024

Segundo a família, Rhuan estava indo para um show de pagode quando foi abordado por PMs
Segundo a família, Rhuan estava indo para um show de pagode quando foi abordado por PMs -
Rio - A família do empresário Rhuan Rodrigues Pereira, de 20 anos, que morreu após ser baleado em uma abordagem em agosto de 2024, em São Gonçalo, na Região Metropolitana, aguarda a condenação do policial militar Marcos Gabriel Silva Mendes, réu pelo homicídio. Nesta segunda-feira (2), aconteceu a primeira audiência de instrução e julgamento do caso.
Ao DIA, Fernanda Rodrigues Garcia, de 43 anos, mãe da vítima, contou que oito pessoas foram ouvidas na sessão, incluindo ela, a filha e o sócio do filho. Após prestar depoimento, ela se encontrou com o acusado e, segundo a mulher, ele teria debochado da situação.
"O advogado pediu para que ele pudesse assistir os depoimentos. No final, quando ficaram eu, a minha filha e o sócio do meu filho, ele se retirou. Quando acabei de dar o depoimento, eu saí e ele estava no corredor. Eu precisava olhar para a cara dele. De primeira, ele abaixou a cabeça e depois passou rindo de deboche. Foi bem difícil olhar na cara da pessoa que assassinou o meu filho, mas estou confiante. Esse é o primeiro passo para a justiça. Estou firme e forte até o fim para honrar a imagem do meu filho", destacou.
A próxima audiência está marcada para o dia 14 de julho, quando serão ouvidos um delegado, um escrivão da Polícia Civil e uma testemunha de acusação que não compareceu à sessão desta segunda. No final, está previsto o interrogatório do réu.
"Espero que seja mais um passo positivo. Sei que será uma caminhada longa e devagar, mas sendo positivo já deixa o meu coração um pouquinho melhor. São muitos meses de sofrimento. Desde o dia 20 de agosto, quando ele morreu, vivo um pesadelo na minha vida. É muito difícil. São momentos que eu nunca pensei em passar na minha vida", completou Fernanda.
Relembre o caso
Rhuan Pereira foi baleado durante uma abordagem policial, no bairro Porto do Rosa, no dia 19 de agosto de 2024. Segundo relatos, ele havia deixado a festa de aniversário da mãe e seguia para um show de pagode com o primo, quando recebeu ordem de parada e foi baleado por um dos agentes. Ele foi internado em estado gravíssimo e morreu no dia seguinte.
De acordo com as investigações, o jovem foi atingido por três tiros nas costas. Em dezembro, o Ministério Público do Rio (MPRJ) denunciou o PM Marcos Gabriel Mendes por homicídio. Para o órgão, o crime ocorreu por "motivo torpe" e o policial fez "uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima".
O MPRJ apontou ainda que o tenente agiu com desprezo pela vida humana, motivado, apenas, por suspeita de que os ocupantes do veículo pudessem ser criminosos. "A viatura estava com giroflex e sirene desligados, dificultando que a vítima percebesse a abordagem", afirmou o órgão.
Na época do caso, a Polícia Militar disse que a equipe solicitou a parada do veículo onde Rhuan estava, que encostou próximo a um acesso à comunidade do Salgueiro. A corporação destacou que criminosos perceberam a abordagem e efetuaram disparos contra os policiais, e que, durante o confronto, o jovem foi atingido.