Pais denunciam omissão de socorro da polícia em despedida a jovem morto no Santo Amaro

Sepultamento de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24, foi marcado por comoção e revolta da parentes e amigos

Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, morto durante ação policial no Santo Amaro, se despedem do jovem no Cemitério São João Batista
Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, morto durante ação policial no Santo Amaro, se despedem do jovem no Cemitério São João Batista -
Rio - A despedida a Herus Guimarães Mendes da Conceição, de 24 anos, morto em um tiroteio em uma festa junina no Morro do Santo Amaro, no Catete, Zona Sul, é marcada pela comoção e revolta de familiares. Os pais do jovem aproveitaram o velório, neste domingo (8), para denunciar uma omissão de socorro por parte dos policiais militares envolvidos na ação emergencial realizada na comunidade, durante o evento, na noite de sexta-feira (6).
O corpo da vítima foi velado e sepultado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul. Muito abalados, a família e amigos compareceram ao cemitério com blusas do Flamengo, time para qual Herus torcia. Eles se reuniram na capela e houve uma salva de palmas em homenagem ao jovem. Os pais, Monica Guimarães Mendes e Fernando Guimarães, também levaram uma foto do jovem em uma comemoração de aniversário, ao lado do filho de 2 anos, e o crachá da imobiliária onde ele trabalhava como office-boy. 
Durante o cortejo para o sepultamento, Monica voltou a ficar muito emocionada, se perguntando o que faria depois de enterrar o próprio filho. "Meu coração está doente, era para eu ter ido primeiro", disse a mulher, que está na fila para transplante, por conta de uma disfunção cardíaca, enquanto era consalada. Um primo dela, identificado apenas como Luciano, cobrou respostas das autoridades.
"Eu não posso andar onde eu nasci, não posso ir a uma festa onde eu nasci. Vocês não dão nada para a comunidade (...) Os policiais do Bope que entraram lá estavam debochando, vocês não foram feitos para isso. Vocês fizeram um juramento, se vocês têm que cumprir a sua missão, cumpram, mas com êxito e não com covardia. Vocês não foram feitos para matar. Policial que atirou no Herus, quando você sai para sua missão, quer retornar para o seu lar, que abraçar seu filho, sua famíla, não quer? A minha prima que estava numa festa vai abraçar como o filho dela? Autoridades, deem uma resposta à minha família". 
Família diz que PMs não prestaram socorro
A mãe da vítima relembrou que pouco antes do tiroteio, a quadrilha da comunidade fazia uma oração para começar a apresentação. Neste momento, Herus, que estava na festa junto dos pais, da avó e de uma tia, decidiu ir comprar um lanche. Monica conta que quando percebeu a movimentação de policiais no local, o filho já estava afastado e cerca de 30 pessoas, incluindo ela e o marido, correram para se abrigar na casa de sua mãe. 
"Ele foi na padaria, só que tinha muita gente, eu só vi o policial passando abaixado, saindo da vila, foi quando começaram os tiros. Só deu tempo de eu puxar meu marido. Quando eu lembrei que meu filho estava fora, muita gente entrou (na casa da mãe). Minha mãe mora num quarto e sala no campo onde aconteceu tudo e entraram mais de 30 pessoas na casa dela, incluindo crianças gritando pelos pais, perdidas", relatou. 
A mãe diz ainda que uma amiga dela viu o momento em que Herus foi atingido por um tiro de fuzil na barriga e caiu, próximo à padaria onde comprava o lanche. Em seguida, ele teria sido arrastado pelos PMs e jogado em uma escadaria. Os policiais também teriam colocado uma grade para impedir que pessoas se aproximassem e se referiram ao jovem como "o vigia caiu". Monica acusa os agentes de terem negado socorro à vítima. O jovem chegou a ser levado em estado grave para o Hospital Glória D'Or, mas a administração da unidade informou que após "exaustivas manobras de ressurreição", acabou morrendo.
"Não socorreram o meu filho, não deixaram socorrer o meu filho. Todo mundo gritando, querendo socorrer o meu filho, eu gritava o tempo todo pela janela enquanto o telefone dele estava chamando na ligação. Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa, mas não isso, porque nenhuma mãe espera isso. A gente acredita até o último minuto que ele só não estava atendendo o telefone", desabafou. "O meu filho foi socorrido pelos amigos, pela comunidade, quando eles viram o alvoroço de pessoas gravando eles, começaram a se afastar. Os moradores recolheram o corpo do meu filho e levaram. Omissão de socorro, foi isso que houve, assassinato".
Parentes e amigos pedem respostas
Segundo a PM, equipes do Bope realizaram uma ação emergencial para verificar informações sobre a presença de diversos criminosos fortemente armados, se preparando para uma possível investida de rivais. A corporação disse que bandidos atiraram contra os militares na região onde ocorria o evento, mas eles não revidaram. Entretanto, "em outro ponto da comunidade, os criminosos atacaram as equipes novamente, gerando confronto".
Os agentes estavam com câmeras de uso corporal e as serão averiguadas. O comando do Bope instaurou procedimento apuratório sobre o caso. As investigações estão em andamento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) que realizou perícia no local do crime, neste sábado (7). As armas dos policiais militares envolvidos no tiroteio foram recolhidas e serão analisadas. 
"As perguntas que eu preciso (de resposta). Quem foi que autorizou essa operação? Se quando os policiais chegaram na comunidade, se viram essa festa junina, se eles passaram para o comandante o que estava acontecendo, se o comandante mandou entrarem assim mesmo, a culpa da morte do meu filho e das pessoas baleadas é desse comandante, é de alguém que autorizou essa entrada. Se os policiais entraram por conta própria, a culpa da morte do meu filho é dos policiais. Se eles não tivessem entrado na comunidade para ter essa troca de tiros, o meu filho não estava morto, as outras pessoas não estavam baleadas. Não teria acontecido nada, a festa tinha sido linda como estava, todo mundo feliz e cada um ia seguir sua vida", cobrou Fernando. 
O confronto também deixou outras cinco pessoas baleadas, entra elas o adolescente E.S.F, de 16 anos, membro de uma quadrilha de São Gonçalo, na Região Metropolitana. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que, neste domingo, apenas uma pessoa permanece internada com quadro estável no Hospital Municipal Souzar Aguiar, e as outras já receberam alta médica.
"Nós sabemos de um menino que é de uma quadrilha junina de São Gonçalo, de 16 anos. Ele precisa de apoio. A dor que nós estamos passando, a gente não quer que a família dele passe por isso", comentou o pai de Herus. "Agora a gente está reunindo o pouco de força que a gente tem, junto com amigos e familiares, porque a gente vai ter que seguir cuidando do meu neto e criá-lo, porque é uma semente que meu filho deixou para a gente", lamentou. 
Além da Polícia Civil, o caso também é acompanhado pela Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e pelo Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública do Ministério Público do Rio (GAESP/MPRJ), que informou ter sido comunicado previamente sobre a operação na região. 
"Até quando? A gente pergunta. Até quando os nossos 'vão ir' e não vai ter justiça? A gente quer justiça (...) O Herus é um menino que cresceu com a gente, estudou comigo, fez Jovem Aprendiz comigo, sempre trabalhou de carteira assinada. Pai que deixou uma família chorando, uma mãe, uma esposa, um filho. Um trabalhador inocente, é mais um trabalhador que se vai e a gente quer justiça. Dói muito, porque é só a gente que se vai: o pobre, o preto, o favelado", declarou uma amiga de infância do office-boy, Isabele Borges. 
*Colaborou Reginaldo Pimenta
Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, morto durante ação policial no Santo Amaro, se despedem do jovem no Cemitério São João Batista
Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, morto durante ação policial no Santo Amaro, se despedem do jovem no Cemitério São João Batista Reginaldo Pimenta / Agência O DIA
Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, se despedem do jovem no Cemitério São João Batista
Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, se despedem do jovem no Cemitério São João Batista Reginaldo Pimenta / Agência O DIA
Monica Guimarães Mendes, mãe de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24, morto em ação policial no Santo Amaro, no Cemitério São João Batista
Monica Guimarães Mendes, mãe de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24, morto em ação policial no Santo Amaro, no Cemitério São João Batista Reginaldo Pimenta / Agência O DIA
Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, morto durante ação policial no Santo Amaro, se despedem do jovem no Cemitério São João Batista
Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, morto durante ação policial no Santo Amaro, se despedem do jovem no Cemitério São João Batista Reginaldo Pimenta / Agência O DIA
Monica Guimarães Mendes, mãe de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24, chora no Cemitério São João Batista
Monica Guimarães Mendes, mãe de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24, chora no Cemitério São João Batista Reginaldo Pimenta / Agência O DIA
Família e amigos se despedem de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, morto durante ação policial no Santo Amaro
Família e amigos se despedem de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24 anos, morto durante ação policial no Santo Amaro Reginaldo Pimenta / Agência O DIA
Fernando Guimarães, pai de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24, morto em ação policial no Santo Amaro, chora durante velório no Cemitério São João Batista
Fernando Guimarães, pai de Herus Guimarães Mendes da Conceição, 24, morto em ação policial no Santo Amaro, chora durante velório no Cemitério São João Batista Reginaldo Pimenta / Agência O DIA
Amigos e familiares estiveram na despedida a Herus Guimarães Mendes da Conceição
Amigos e familiares estiveram na despedida a Herus Guimarães Mendes da Conceição Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Mãe de Herus Guimarães Mendes da Conceição precisou ser amparada
Mãe de Herus Guimarães Mendes da Conceição precisou ser amparada Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição denunciaram omissão de PMs
Pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição denunciaram omissão de PMs Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Mãe de Herus Guimarães Mendes da Conceição ficou muito abalada durante o sepultamento
Mãe de Herus Guimarães Mendes da Conceição ficou muito abalada durante o sepultamento Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Familiares e amigos prestaram homenagem a Herus Guimarães Mendes da Conceição
Familiares e amigos prestaram homenagem a Herus Guimarães Mendes da Conceição Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
Herus Guimarães Mendes da Conceição foi sepultado com bandeira do Flamengo
Herus Guimarães Mendes da Conceição foi sepultado com bandeira do Flamengo Reginaldo Pimenta/Agência O Dia