A Baía de Guanabara vem dando seguidos sinais de recuperação, com melhoria da qualidade da água e aumento da vida marinha. Isso porque, hoje, 103 milhões de litros de esgoto deixam de ser lançados em suas águas a cada dia. A mudança tem como ponto de virada o fim de 2021, quando a Águas do Rio assumiu a concessão dos serviços de saneamento em 27 municípios fluminenses e iniciou uma série de intervenções no sistema de esgotamento sanitário no entorno da baía. Em um ano, isso representa 38 bilhões de litros a menos de poluição nesse importante ecossistema.
O avanço do saneamento básico é transformador: menos contaminação, mais biodiversidade, praias que voltam a ser frequentadas, saúde preservada e impacto também na economia local. Na capital, o esforço da concessionária se concentra na recuperação de estruturas já existentes, como estações de tratamento de esgoto que operavam abaixo da capacidade, equipamentos defasados, instalações comprometidas ou até fora de funcionamento.
"A recuperação da Baía de Guanabara é um trabalho de todos. E é também um esforço contínuo e estruturado, que requer investimentos e mudança de atitude com relação à gestão dos sistemas de esgoto sanitário, dos resíduos sólidos urbanos e da relação da sociedade com seu patrimônio ambiental. A baía tem uma capacidade incrível de regeneração. Nossa missão é contribuir para que esse processo ocorra de forma acelerada e definitiva", afirmou Sinval Andrade, diretor institucional da Águas do Rio.
Os reflexos desse avanço começam a ser percebidos não só na água mais limpa e na reocupação das praias pela população, mas também no aumento da vida marinha. Referência em educação ambiental e preservação dos ecossistemas costeiros, o biólogo e presidente do Instituto Mar Urbano, Ricardo Gomes, atua há décadas na defesa da baía, onde documenta a biodiversidade marinha e denuncia os impactos da degradação ambiental.
"A recuperação que estamos presenciando da Baía de Guanabara tem uma questão muito importante: ela desperta o sentimento de pertencimento da população. Quando a gente mostra para a sociedade que lá tem muitos cavalos-marinhos, tartarugas verdes e raias, por exemplo, isso faz com que as pessoas sintam orgulho de viver perto desse ecossistema", afirmou Ricardo.
Obras estruturantes
As mudanças para melhorar a qualidade da água do ecossistema de cerca de 400 km² estão ganhando uma espécie de escudo: os Coletores em Tempo Seco (CTS). Com investimento previsto de R$ 2,7 bilhões, esse sistema está sendo implantado em alguns municípios do estado do Rio de Janeiro para interceptar o esgoto que, em dias sem chuva, escapa pelas galerias de drenagem e corre direto para o mar.
Esses coletores funcionam especialmente bem em áreas densas e com redes mistas, onde esgoto e água da chuva compartilham os mesmos caminhos. Ao capturar esses resíduos e enviá-los para tratamento, o sistema forma uma barreira de proteção para canais, rios e praias.
Em Mesquita, na Baixada Fluminense, o primeiro sistema de coletores implantado fora da capital beneficiou 65 mil moradores e protege os rios Dona Eugênia e Sarapuí, que deságuam na Baía de Guanabara. Em São Gonçalo, também na Região Metropolitana, estão sendo construídos cinco pontos de captação, além de obras de saneamento em locais como a Praia das Pedrinhas, que vão melhorar a qualidade da água para os moradores e impedir que milhões de litros diários de esgoto cheguem ao corpo hídrico.
Revitalização hídrica
A expectativa é que a qualidade da água melhore de forma consistente nos próximos anos, trazendo benefícios para o meio ambiente, a saúde pública e a vida nas cidades. Para garantir esse avanço, a Águas do Rio investirá R$ 19 bilhões em obras de água e esgoto e ações de saneamento até 2033, conforme previsto no contrato de concessão e alinhado ao Marco Legal do Saneamento. Nos 35 anos de concessão, os investimentos somarão R$ 40 bilhões, incluindo os R$ 15,4 bilhões em outorga, valores que já foram pagos ao Estado do Rio de Janeiro.