Após surto de borrachudos, Câmara do Rio cria comissão para buscar soluções

Moradores das Zonas Oeste e Norte da cidade são os mais afetados. Especialistas defendem ação intersetorial para enfrentar o problema

Vereadores cobram solução da prefeitura para acabar com surto de mosquitos borrachudos na cidade
Vereadores cobram solução da prefeitura para acabar com surto de mosquitos borrachudos na cidade -
Rio - A Comissão Especial criada pela Câmara do Rio com a finalidade de acompanhar e propor soluções integradas e eficazes para o enfrentamento da infestação de mosquitos borrachudos realizou a sua primeira audiência pública na manhã desta terça-feira (17). Os parlamentares cobraram medidas efetivas da prefeitura.
Os técnicos ouvidos alegaram que o combate aos mosquitos exige uma atuação intersetorial, já que o problema é causado, principalmente, pelo desequilíbrio ambiental, pela poluição e pela falta de predadores naturais.
Nas últimas semanas, moradores de bairros próximos de áreas de mata ou de lagoas na cidade, na Zona Norte e especialmente na Zona Oeste, vêm relatando um surto de mosquitos borrachudos e como a maior presença dos insetos têm afetado a qualidade de vida da população. Pessoas picadas têm sofrido com coceira, inchaço, vermelhidão, feridas na pele e até reações alérgicas.

Tendo em vista esse cenário, o presidente da Câmara do Rio, vereador Carlo Caiado (PSD), criou uma Comissão Especial para atender as demandas da população e cobrar uma solução do poder público. Para ele, a resolução deste problema de saúde pública passa pela construção de políticas públicas de médio e longo prazo, com início imediato, para que sejam estabelecidas as diretrizes de combate ao mosquito.

"A prefeitura deve liderar esse processo e fazer ações fundamentais, como a dragagem de rios, a limpeza das pedras, ampliar o trabalho dos Guardiões dos Rios e dos garis comunitários Além disso, é preciso envolver a população no que diz respeito à questão do lixo. Também acredito que a criação de uma cartilha oficial da Secretaria Municipal de Saúde é importante para informar a população. As pessoas estão perdidas. Muitas pessoas cobram o fumacê, por exemplo. Mas a prefeitura diz que ele não mata o mosquito borrachudo", explicou Caiado.

Presidente da Comissão, o vereador Marcelo Diniz (PSD) enfatizou que a situação já configura uma epidemia e vai além do aspecto sanitário. "O quadro é muito preocupante porque, além de ser uma questão de saúde pública, os borrachudos afetam também a economia dessas regiões. As pessoas não conseguem ficar em um ponto de ônibus, não conseguem tomar um café numa padaria, por exemplo. Assim, os cidadãos não frequentam mais aqueles locais. Com isso, os estabelecimentos não conseguirão mais vender e os funcionários vão acabar perdendo os seus empregos", alertou o parlamentar.

Diretor da Associação de Moradores de São Conrado, Laudimiro Cavalcanti afirmou que o problema já afeta o comércio na Zona Sul. "Todos os quiosques da orla de São Conrado estão sendo atingidos pelos borrachudos, as vendas estão caindo. Os proprietários chegaram a colocar repelentes nas mesas, mas não está funcionando", lamentou.

Representando a Secretaria Municipal de Saúde, Renato Cony reconheceu que o surto de borrachudos é um problema de saúde pública, mas que a solução é intersetorial e deve envolver outros atores. Ele falou sobre as principais características dos mosquitos e explicou os motivos pelos quais o fumacê é ineficaz.

"A solução precisa ser combinada. Quando eu falo que ele é um mosquito de baixo peso e muito rápido, isso significa que o fumacê é uma ação muito pouco eficiente. O veneno vai repelir o mosquito, e ele vai ficar longe dessa localidade por uns dois ou três dias. Mas depois volta para conseguir o seu alimento, que é o sangue humano, quando o veneno já terá se dispersado. Como ele é pequeno, o veneno não se deposita na sua carcaça. Além disso, o fumacê acaba com os predadores naturais desses mosquitos adultos, como libélulas", pontuou o subsecretário de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde.

Cony destacou que a solução está na adoção de medidas sustentáveis e de longo prazo que envolvem: a escovação das pedras, a preservação da mata ciliar, a manutenção dos córregos e uma postura ecologicamente correta da população, que deverá evitar jogar lixo nos rios.

Morador do Alto da Boa Vista, João Teodoro Arthou falou que este aspecto pode ser resolvido com medidas voltadas para os mais jovens. "O importante é a gente usar a educação e ter ações nas escolas. As crianças são multiplicadoras e levam isso para os pais. As pessoas não podem sujar os rios, muitas chegam a descartar sofá e até geladeira. O Rio é uma cidade turística e hoje está impraticável ir a lugares como o Alto da Boa Vista, São Conrado, Barra da Tijuca, Itanhangá e Vista Chinesa."

O vereador Átila Nunes (PSD) é relator do colegiado e disse que até o desempenho escolar das crianças corre o risco de ser impactado pelo surto de borrachudos. “A gente vem escutando relatos de matrículas sendo canceladas nas escolas do Itanhangá porque os pais não querem deixar os seus filhos vivendo uma situação como essa. Precisamos de uma solução definitiva.”

Saneamento básico

Biólogo da Secretaria Municipal de Ambiente e Clima (SMAC), Paulo Gama citou um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que apontou a falta de saneamento básico como um agravante. “Entre os problemas já citados, um estudo recente apontou como problema a oferta de matéria orgânica nos córregos. Essa espécie tem desenvolvimento larval em águas correntes e o aporte de esgoto contribui para a proliferação dos mosquitos porque elas se alimentam desse material.”

Guardiões dos Rios

Os participantes da audiência pública ressaltaram a importância do programa Guardiões dos Rios no combate aos borrachudos. Criado em 2001 pela SMAC, o programa conta com a atuação de moradores das próprias comunidades na limpeza dos leitos dos rios. Para o vice-presidente da Comissão de Higiene, Saúde Pública e Bem-Estar Social, vereador Dr. Rogério Amorim (PL), um incremento do projeto seria essencial para controle da praga.

“Sem dúvida nenhuma vai melhorar a situação. Esse programa está fazendo falta, é uma medida que não vai pesar nos cofres da prefeitura e vai mostrar algum resultado no controle dos mosquitos borrachudos. Os Guardiões dos Rios já se mostraram necessários”, sublinhou o parlamentar.

“Eles já foram mais robustos em épocas mais antigas. O projeto ainda existe e eles fazem esse tipo de limpeza, mas precisaria de um contingente bem maior. As larvas se utilizam das pedras e resíduos para se fixar”, reconheceu o biólogo Paulo Gama.

Ao final da audiência, o vereador Marcelo Diniz (PSD) disse que todas as demandas serão encaminhadas diretamente para o prefeito Eduardo Paes. Ainda participaram do encontro os seguintes parlamentares: Fábio Silva (Podemos), membro da comissão, Talita Galhardo (PSDB), Dr. Gilberto (SDD), Leniel Borel (PP) e Marcos Dias (Podemos). O encontro também contou com a presença de representantes de empresas e organizações da sociedade civil.

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