Com tapetes de sal, fiéis celebram Corpus Christi na Catedral do Rio

Programação conta com procissão e missas em diversos horários

Cerca de 50 tapetes de sal coloriram a Avenida Chile em frente à Catedral nesta quinta (19)
Cerca de 50 tapetes de sal coloriram a Avenida Chile em frente à Catedral nesta quinta (19) -
Rio - Como em todo ano, o trecho da Avenida Chile em frente à Catedral Metropolitana de São Sebastião, no Centro, ganhou um colorido especial em um 19 de junho, como é o caso desta quinta-feira. A tradicional confecção dos tapetes de sal para a Solenidade de Corpus Christi reuniu fiéis de diversas ramificações do catolicismo, celebrando Jesus Cristo, como a data prevê. Mas para além do calendário, o que também se vê anualmente, de acordo com os próprios devotos, é uma comunhão entre igrejas e paróquias de diferentes lugares do Rio.
Ao longo da passarela formada por cerca de 50 tapetes, cada um com significados e homenagens distintos, fiéis – muitos desde a madrugada - se esticavam, agachavam e contorcionavam sobre quilos de sal, a fim de homenagear Jesus com a obra mais bonita possível, em meio a uma atmosfera de harmonia e solidariedade, de acordo com os preceitos de Cristo, conforme aponta a religião.
Integrante da Igreja Santa Luzia e São Raimundo Nonato, de Ramos, Vania Messias, de 57 anos, contou que uma das motivações para chegar ao Centro às 7h30 foi a congregação entre os fiéis: “Venho porque vivemos aqui uma harmonia maravilhosa. Interagimos, conhecemos outras pessoas, fazemos uma unidade entre igrejas de todos os lugares do Rio. E, claro, venho pela fé que carrego”.
Darcy Oliveira, de 57, da Paróquia de Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima, em Copacabana, chamou atenção para o auxílio mútuo entre os participantes: “Sou de uma paróquia, ajudo em outra, e toda hora passa alguém perguntando se precisamos de algo, oferecendo lanche. Isso estimula a solidariedade, que é algo que estamos precisando hoje, inclusive para levarmos para outros lugares, como trabalho, escola. É um exercício do que Jesus nos ensinou: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”.
Na tarefa desde as 5h, Claudia Cairo, de 60 anos, da Paróquia Santa Rita de Cássia, da Barra da Tijuca, reforçou o discurso: “Aqui não é um show. O que reina aqui é o trabalho em comunidade. Se faltou um sal, o outro empresta. Vamos sempre ajudando uns aos outros, porque Cristo nos dá esse exemplo, de amor, solidariedade e esperança”.
Habituada a praticar a solidariedade no dia a dia, uma vez que trabalha com assistência social direcionada a pessoas em situação de rua, Tânia Ramos, de 63 anos, da arquidiocese que funciona na própria Catedral Metropolitana, destacou que a harmonia entre os fiéis se reflete nos próprios tapetes: “Neles, colocamos não só o que conseguimos por meio da arte, mas também dedicação, amor pelo outro. Porque esse é o momento em que a igreja abre o seu coração, se confraterna, em que vemos que Cristo vive e está entre nós”.
Tradição de séculos
Pároco da Catedral Metropolitana há oito anos, o Padre Cláudio dos Santos explicou que a basílica promove a festa desde os anos 1970 – o aniversário de 50 anos acontece em 2026 – mobilizando de 30 mil a 50 mil pessoas anualmente. Mas a confecção dos tapetes coloridos na Igreja Católica, no mundo inteiro, vem desde o século XIII.
E um dos significados da tradição é justamente agregar pessoas, como os fiéis exaltaram nesta manhã: “Por meio da confecção dos tapetes, podemos fazer o testemunho real de Jesus na santíssima Eucaristia [como é chamada a celebração da Igreja Católica à morte e à ressurreição de Cristo]. Mas também traz esse espírito de comunhão que Jesus veio trazer”, salientou o Padre Cláudio.
O pároco complementou: “Temos hoje aqui pessoas de outras denominações religiosas; de instituições públicas e civis; de escolas de samba, que vieram pela primeira vez... Elas estão fazendo acontecer essa manifestação por um mundo que precisa de paz”.
Esforço que não é em vão
Além da harmonia e do espírito de solidariedade, outro ponto em comum entre os devotos que participam da trabalhosa produção dos tapetes – que inclui quilos de sal tingidos manualmente, além de outros itens, como serragem – é ver todo o trabalho ser desfeito durante a procissão que desemboca na Avenida Chile ao fim da Solenidade de Corpus Christi.
O que poderia ser motivo de lamentação, entretanto, representa satisfação: “Até dá uma dorzinha no coração”, admitiu Tânia Ramos, contextualizando: “Mas a simbologia é muito maior. E também é uma motivação para estarmos no próximo ano, construindo um tapete ainda mais belo”.
Darcy Oliveira recorreu a uma metáfora para explicar o porquê de não encarar como um drama o trabalho de horas ser pisoteado em um prazo tão curto: “Sabe o gesto do cavalheiro que estende sua capa para que a dama passe na poça, que a gente vê nos filmes? Ele não se importa se a capa vai sujar ou estragar. Quer apenas que a pessoa que ele ama possa passar sem problema. É uma honra dedicar tanto trabalho, mesmo o tapete sendo desfeito, porque é Jesus quem vai passar”.
Já para Vania Messias faltou palavras para descrever o sentimento quanto ao desfecho do ritual: “Fazemos com o maior prazer. Não achamos que ele é desfeito. Não dá para explicar, mas é uma satisfação. Depois que fazemos, as pessoas pisam, mas não dói. É prazeroso, por incrível que pareça”.
Programação
Após missas promovidas entre a manhã e o início da tarde, além da confecção dos tapetes, a Solenidade de Corpus Christi segue ao longo do dia com outras atividades. Às 15h, começa a Oração das Laudes, na Paróquia Nossa Senhora da Candelária, seguida da procissão rumo à Catedral Metropolitana.
Já na Avenida Chile, às 17h, pelo segundo ano seguido, será encenado o Auto de Corpus Christi, uma adaptação com cenas da vida de santos marcados pela experiência mística com a Eucaristia. A apresentação é uma parceria entre o Vicariato Episcopal para a Cultura, a Associação Cultural da Arquidiocese do Rio e a Prefeitura do Rio.
Por fim, após o espetáculo, Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio, vai comandar a Missa Solene do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo, também na Avenida Chile.
Cerca de 50 tapetes de sal coloriram a Avenida Chile em frente à Catedral nesta quinta (19)
Cerca de 50 tapetes de sal coloriram a Avenida Chile em frente à Catedral nesta quinta (19) Érica Martin/Agência O Dia
Cerca de 50 tapetes de sal coloriram a Avenida Chile em frente à Catedral nesta quinta (19)
Cerca de 50 tapetes de sal coloriram a Avenida Chile em frente à Catedral nesta quinta (19) Érica Martin/Agência O Dia
Cerca de 50 tapetes de sal coloriram a Avenida Chile em frente à Catedral nesta quinta (19)
Cerca de 50 tapetes de sal coloriram a Avenida Chile em frente à Catedral nesta quinta (19) Érica Martin/Agência O Dia
Claudia Cairo, da Paróquia Santa Rita de Cássia, da Barra da Tijuca
Claudia Cairo, da Paróquia Santa Rita de Cássia, da Barra da Tijuca Érica Martin/Agência O Dia
Darcy Oliveira (D), da Paróquia de Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima, em Copacabana
Darcy Oliveira (D), da Paróquia de Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima, em Copacabana Érica Martin/Agência O Dia
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal Érica Martin/Agência O Dia
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal Érica Martin/Agência O Dia
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal Érica Martin/Agência O Dia
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal Érica Martin/Agência O Dia
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal Érica Martin/Agência O Dia
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal
Fiéis se reuniram desde a madrugada desta quinta (19) em frente à catedral do Rio para produzir os tradicionais tapetes de sal Érica Martin/Agência O Dia
Tânia Ramos trabalha com assistência social direcionada a pessoas em situação de rua
Tânia Ramos trabalha com assistência social direcionada a pessoas em situação de rua Érica Martin/Agência O Dia
Vania Messias, da Igreja Santa Luzia e São Raimundo Nonato, de Ramos
Vania Messias, da Igreja Santa Luzia e São Raimundo Nonato, de Ramos Érica Martin/Agência O Dia
Padre Cláudio dos Santos, pároco da Catedral Metropolitana
Padre Cláudio dos Santos, pároco da Catedral Metropolitana Érica Martin/Agência O Dia