Rio – Descritos na canção de Adriana Calcanhoto como inimigos dos dias nublados, os cariocas também são protagonistas recorrentes de uma infinidade de memes em redes sociais como os que recorrem àquele casaco guardado há meses no guarda-roupa ao menor sinal de queda de temperatura. Mas a poucas horas da chegada do inverno 2025 – o início oficial acontece às 23h42 desta sexta-feira (20) – moradores do Cachambi, na Zona Norte, se mostraram uma exceção da regra.
Sob um sol leve de fim de outono, o casal Manoel Freire, de 80 anos, e Maria de Lourdes Quintana, de 74, se exercitava nesta manhã na Praça Avaí. Eles não são cariocas na certidão de nascimento, mas podem ser considerados como tais por tempo de residência na cidade: quase 60 anos.
E ao contrário da fama de fã dos 40º C que acompanha quem vive no Rio, vestem a camisa do time do frio: “Eu só posso falar por mim: prefiro o inverno. Não gosto daquele calor, não”, afirmou categoricamente o aposentado cearense, ao DIA.
“Gosto do inverno, acho o verão muito ruim. Deus me livre”, complementou a dona de casa, que nasceu em Nova Friburgo, na Região Serrana.
Carioca de natureza, o arquiteto Luiz Tadeu Castor, de 45 anos, argumentou que sua predileção pelo inverno se dá pela severidade que marca o verão na capital fluminense: “Prefiro sempre o tempo mais ameno porque nosso verão é de rachar. O início do inverno é uma boa notícia”.
O também carioca Marcelo Bello, de 54 anos, seguiu uma linha de raciocínio semelhante: “Com o calor que tem feito, fora do normal no Verão, eu prefiro o inverno”, ratificou o técnico em agronegócio.
Impactos na rotina
A preferência pelo inverno, entretanto, tem seus limites. Luiz Tadeu destacou que procura manter suas atividades cotidianas - profissionais e de lazer -, mas admitiu que quedas demasiadas de temperatura alteram a rotina ao ar livre: “Quando o dia está muito frio e chuvoso, fica difícil. A gente evita sair de casa”.
Em meio às atividades físicas em uma academia da terceira idade, Dona Maria de Lourdes também revelou que termômetros apontando temperaturas muito baixas intimidam: “Só não venho fazer meus exercícios se estiver muito frio. Preciso de sol, para minha saúde, desde que não seja aquele sol de matar”.
Já o marido dela se mostrou mais fiel à preferência pelo frio: “Mantenho minha rotina. Sempre venho, com calor ou frio. Temos que manter a atividade”, ressaltou Manoel.
Acompanhado da cachorrinha Pink, Marcelo contou: “Saio mais quando está frio, a não ser que esteja chovendo muito”.
Pouca chuva e veranicos
Mas, afinal, como será o inverno no Rio de Janeiro em 2025? A reportagem ouviu especialistas, que apontaram expectativas de pouco rigor para a estação.
“As temperaturas geralmente mais altas que o normal, com dias típicos de inverno menos frequentes”, resumiu Thiago Sousa, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia do Rio de Janeiro (Inmet), estimando a temperatura média em todo o estado para as próximas semanas: “Entre 22° C e 24° C, com variações conforme altitude e proximidade do mar”.
“As temperaturas geralmente mais altas que o normal, com dias típicos de inverno menos frequentes”, resumiu Thiago Sousa, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia do Rio de Janeiro (Inmet), estimando a temperatura média em todo o estado para as próximas semanas: “Entre 22° C e 24° C, com variações conforme altitude e proximidade do mar”.
Lucio Silva de Souza, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), reforçou que temperaturas mais baixas vão depender de condições específicas: “Quando da incursão de massas de ar de características polares no sudeste”.
Outra tendência são os veranicos, como são conhecidos os momentos de calor fora de época: “São possíveis, intercalados com períodos mais frios, típicos do inverno carioca”, analisou o meteorologista Thiago.
“Veranicos são elementos normais do inverno, especialmente em julho e agosto. Portanto, a anomalia se configura na falta do veranico. E o início do inverno terá um padrão de bloqueio atmosférico, o que gera veranicos. Essa situação tende a persistir por até duas semanas”, acrescentou o professor Lucio.
Já para os cariocas que se recusam a sair de cada quando um pingo “cai do céu”, eis uma notícia que pode agradar: “A expectativa é de chuvas abaixo da média histórica”, adiantou Thiago.
O professor Lucio ponderou: “Mas isso não significa que não possam ocorrer eventos de chuva moderada e ocasionalmente forte”.
Olho na gripe
Além das temperaturas amenas, há uma outra característica do inverno, esta nada agradável. A estação, usualmente, acompanha um aumento no número de casos de gripe, o que torna a vacina contra a doença ainda mais importante.
“Eu já tomei a vacina, aqui”, salientou a dona de casa Maria de Lourdes, apontando para o braço direito.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio, 3.785 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foram registrados na cidade até 17 de junho. Destes, 312 terminaram em óbito.
Já os imunizados contra a doença no município giram em torno de 1,7 milhão. A pasta enfatizou que a vacinação é a forma mais eficaz de prevenção contra a gripe (influenza) e suas complicações.
As doses estão disponíveis para todos acima dos seis meses de idade, em 240 salas de vacinação de unidades de saúde do Município. Também é possível ser imunizado no Super Centro Carioca de Vacinação de Botafogo (todos os dias, das 8h às 22h) e Campo Grande, no ParkShopping (todos os dias, de acordo com o horário do centro comercial).
Fim de outono na praia
Já em Copacabana, muitos cariocas “enforcaram” a sexta-feira em meio ao feriadão de Corpus Christi para se despedir do outono na orla. O calçadão ficou tomado por aqueles que aproveitaram o sol leve e a temperatura amena para correr, pedalar ou simplesmente passear.
Dentre a multidão, era comum ver botafoguenses orgulhosos e devidamente trajados com a camisa alvinegra após a histórica vitória por 1 a 0 contra o poderoso PSG, da França, na noite desta quinta-feira (19), em partida válida pela Copa do Mundo de Clubes.
Também era fácil avistar flamenguistas, já que o Rubro-Negro entra em campo logo mais, às 15h, para medir forças com o Chelsea, da Inglaterra, também pelo Mundial. Com camisas e bandeiras, muitos seguiam para a Fan Zone da competição, montada na areia, na altura do posto 2. O espaço, que exibe jogos dos times brasileiros em telões de LED, tem capacidade diária para 10 mil pessoas e entrada gratuita.
