Ator Leandro Firmino fala sobre paternidade atípica:

Rio - Conhecido como o intérprete de Zé Pequeno no filme "Cidade de Deus" (2002), Leandro Firmino, de 47 anos, é um paizão dentro e fora das telinhas. Em "Vale Tudo", da TV Globo, o ator intrepreta o motorista Jarbas, pai de Daniela (Jessica Marques) e André (Breno Ferreira) -  com quem mantém uma boa relação - e é marido de Consuêlo (Belize Pombal). Já na vida real, o artista tem dois filhos, Miguel, de 13 anos, e Levi, de 7. Ele, inclusive, pretende celebrar o dia dos pais, neste domingo (10), coladinho com eles. 

Em entrevista ao Meia Hora, Leandro dá detalhes do personagem do remake de Manuela Dias, fala sobre  projetos futuros e revela os desafios da paternidade, incluindo cuidados com o caçula - fruto do casamento com Letícia da Hora - diagnosticado com autismo. Confira!

Ser pai atípico é, sim, um grande desafio, mas, antes de tudo, é um exercício diário de amor e presença. A paternidade, de forma geral, já exige muito, e quando há um diagnóstico envolvido, isso se intensifica. É preciso criar uma estrutura sólida, garantir as terapias, lidar com incertezas. Ver esse tema ganhando visibilidade é fundamental para que mais pais se reconheçam nesse lugar e saibam que não estão sozinhos. Também é uma forma de quebrar tabus, ampliar o diálogo e transformar o olhar da sociedade.

- Como vocês costumam e pretendem celebrar o Dia dos Pais?

Ficamos em casa pois a família da minha esposa sempre faz algo, ou visito meu pai lá na CDD (Cidade de Deus) quando dá.

Nunca é fácil criar os filhos. Não existe um manual, né? Todos os dias aprendo algo novo, seja errando e acertando, os dois são meios de aprender. O que procuro, do meu jeito, é deixar claro que eles são muito importantes para mim.

- Como é a relação com os atores que são a sua família no folhetim das 21h da TV Globo?
Nossa relação nos bastidores é muito bacana! Sempre trocando e nos ajudamos muito em cena.

- Na primeira versão de 1988, o marido de Consuêlo foi interpretado por Stepan Nercessian. Como foi a construção do personagem para o remake?

Não tive tanto tempo para participar dos ensaios por conta de projetos pré-existentes, então tive que trabalhar com os caminhos orientados e como eles pensavam do personagem. Mas na verdade, entendo que o Jarbas ainda está em construção, pois vou descobrindo coisas novas sobre ele a cada dia que estou gravando. A novela é uma obra aberta.

- Apesar de ser um remake, a trama teve adaptações para a atualidade, como o personagem ser um motorista de aplicativo. O que o público pode esperar do Jarbas, incluindo novidades?

Acredito que o Jarbas vai evoluir de acordo com a trama e a medida que ele for se familiarizando com a rotina da casa dos Roitman. Posso dizer que vão acontecer coisas interessantes.

- Devido a rotina intensa de trabalho como motorista de aplicativo, Jarbas decide se tornar CLT na mansão dos Roitman. A exaustão de trabalhadores, principalmente autônomos, é uma realidade. Como foi representar isso nas telinhas?

Eu faço bastante uso de carros de aplicativo, sempre quando tenho oportunidade viajo conversando com eles. Não é fácil trabalhar, principalmente nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Alguns gostam muito do que fazem, pois fazem seus próprios horários, conseguem ter certa autonomia na rotina, outros trabalham para ter uma grana a mais no orçamento do mês, mas de modo geral, eles sempre comentam sobre o grande estresse no trânsito diariamente e a falta de segurança pública nas ruas e em alguns bairros do RJ. Para mim é um privilégio representar essa categoria de trabalhadores de tamanha utilidade social.

- Recebeu algum relato de motorista que trabalha em aplicativo - ou outro profissional - que se identificou com o Jarbas?

Não recebi nem um relato de forma direta no sentido de focar em um único profissional de aplicativo, mas só de fazer uso disso, me ajudou muito a pensar quem é o Jarbas como ele poderia ser. Minha parcela na construção passou muito pela minha experiência mesmo.

- O funcionário dos Roitman dá boas dicas ao Vasco (Thiago Martins). Na vida real, você se considera um bom conselheiro?

Ser um conselheiro é uma tarefa muito séria e arriscada, pois as coisas devem ser bem ditas de forma que quem ouve possa refletir. Na vida real, procuro sempre falar sobre agir de forma passiva sem fazer com que as coisas piorem. Na verdade procuro sempre ter bons conselhos do que dar.

- Você ficou conhecido como intérprete de Zé Pequeno no filme "Cidade de Deus" (2002). Como avalia esse trabalho?

"Cidade de Deus" e Zé Pequeno fazem parte da minha história como ator. Da minha formação nessa profissão. São importantes demais, pois foi o início de tudo na minha carreira.

- Você também integrou a série "Impuros", do Disney+. Como foi viver personagens tão densos?

"Impuros" considero um super presente de Deus pois nunca imaginei estar em uma série de grande sucesso, com tantas temporadas. Demonstra a complexidade das histórias e dos personagens.

- Quais são os projetos futuros?

No futuro só quero continuar trabalhando. Atuar para mim é algo que me proporciona viver coisas que eu, Leandro, talvez não tivesse coragem de viver. Ou experimentar estar na pele de pessoas totalmente diferentes de mim.

*Reportagem da estagiária Mylena Moura, sob supervisão de Isabelle Rosa