Oito degraus abaixo do nível do solo do Parque do Ibirapuera, 12 profissionais se espremem em uma sala cheia de notebooks, mesas de som, painéis de luz, monitores e até um teclado que comanda jatos d'água.
O Estadão desceu até essa sala subterrânea para acompanhar como funciona o show multimídia do lago e os bastidores da maior árvore de Natal da cidade. É um ambiente meio industrial, com tecnologia de ponta, e que produz arte visual.
O nome oficial da sala de operações é house mix, espécie de quartel-general onde técnicos de som, iluminação, vídeo e da fonte operam os equipamentos audiovisuais.
Enquanto, na superfície, centenas de visitantes erguem celulares para registrar o instante em que a árvore é iluminada no início da noite de terça-feira, 2, perto do portão 10, ali embaixo impera uma tensão silenciosa.
Apesar de tudo estar programado - literalmente - por diferentes softwares de luz, som e projeção, a ansiedade cresce especialmente antes do primeiro dos três shows da noite. "É sempre o momento mais delicado", diz Paulo Prado, diretor artístico do evento há seis anos.
Basta um botão para o show começar. Por questões de segurança, o Estadão teve de deixar a sala minutos antes da contagem regressiva.
Com seus 400 mil leds e 40 mil flashes de strobos por minuto, a árvore é um espetáculo à parte: um pisca-pisca monumental de 57 metros de altura e 18,5 metros de diâmetro, a maior árvore natalina de São Paulo.
O gigante luminoso é surpreendentemente econômico: consome apenas 10% de toda a energia usada na decoração natalina do parque, que inclui a iluminação do bosque e dezenas de atrações dos parceiros comerciais. O segredo é a tecnologia LED, mais eficiente e sustentável.
Em um ano de tempestades mais frequentes e intensas, a equipe precisou reforçar os cuidados com o clima. Um gerador foi instalado para garantir energia em caso de apagões. Desde a inauguração, no sábado, 29, ele já havia sido acionado duas vezes devido às quedas de energia provocadas pelas fortes chuvas. Mesmo assim, a árvore permaneceu acesa.
A construção da escultura de 24 toneladas mobilizou mais de 100 profissionais ao longo de 30 dias de montagem ininterrupta, entre a chegada das estruturas, instalação e testes.
Teclado controla movimentos dos jatos d'água
No coração do espetáculo, a fonte ornamental do lago é comandada por um instrumento musical. Cada tecla do teclado instalado na house mix ativa um jato diferente, que "dança" sobre o lago.
É possível ver uma tecla sendo pressionada aqui e, um segundo depois, o lago respondendo com um movimento perfeitamente coreografado. Um deles é o gêiser, o mais potente, que lança água a 60 metros de altura. "Em cima da trilha sonora, a gente programa todos os movimentos para que a água dance no ritmo da coreografia", explica Prado.
A comunicação entre a sala subterrânea e os projetores posicionados a 150 metros, na outra margem do lago, é feita por cabos de energia e fibra óptica instalados sob a água.
É nessa superfície líquida que se forma a tela do show: uma cortina fina e contínua de gotículas onde imagens parecem suspensas no ar. Duas máquinas riscam o céu com feixes de laser, enquanto luz, vídeo e água se combinam para criar um painel futurista. É uma experiência sensorial que completa com a trilha sonora que vai além da celebração natalina.
Ali embaixo, o calor é intenso. Com o dia marcando mais de 30 °C, a casa de máquinas - onde ficam as bombas d'água que geram pressão para os chafarizes - eleva ainda mais a temperatura.
O espaço também é tão estreito que dois técnicos não conseguem se cruzar no corredor: para chegar ao teclado, por exemplo, um precisa ceder passagem ao outro.
Do lado de fora, essa dança ritmada das águas é justamente o que mais encanta o público. Clarice Dantas, advogada de 30 anos e moradora da Vila Clementino, interrompeu sua caminhada diária pelo parque - hábito que mantém há quatro anos - só para assistir ao espetáculo. Gravou cada minuto.
A expectativa é de que milhares façam o mesmo. Gratuita e aberta até 25 de dezembro, a visita à árvore do Ibirapuera já se firmou como tradição das festas natalinas na cidade, atraindo paulistanos e turistas em busca do encanto da temporada. No último ano, mais de 3 milhões de pessoas passaram pelo parque - número que deve se repetir em 2025, segundo os organizadores.
Uma das novidades da edição é Bira, um saruê fictício inspirado numa espécie nativa encontrada ali mesmo no parque. O personagem foi criado para reforçar a mensagem ambiental do evento. "A gente procura aproximar a celebração do Natal da essência do parque, que é a preservação da natureza", afirma Prado.
Como visitar a árvore do Ibirapuera
Local: Parque do Ibirapuera - Av. Pedro Álvares Cabral, 5300 - Vila Mariana
Entrada: Portão 10
Cronograma a partir de 30/11
Árvore será acesa e disponível para visitação todos os dias às 19h30
Show de luzes no lago: todos os dias às 19h30, 20h30 e 21h30
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