Luísa Mel: Campanha contra Maus Tratos pela Indústria Alimentícia

Pintinhos Triturados e Bois Vendidos para Serem Abatidos no Exterior

Campanha contra sofrimento de animais
Campanha contra sofrimento de animais -
Colunista Luiz André Ferreira
O Brasil, sendo um dos maiores fornecedores de alimentos para o mundo sofre uma série de pressões que influenciam diretamente os rumos do agronegócio nacional. Atualmente duas campanhas referentes a Indústria Alimentícia estão mobilizando parlamentares e parte da população.
Entre os fatores: aumento da conscientização, maior mobilização proporcionada pela atuação das mídias sociais, existência de novas tecnologias, métodos menos sofridos e crescimento de pessoas aderindo a dietas veganas. Combinados, têm influenciado a produção e o comércio de alimentos no mundo.
Triturados Vivos
Após denúncias, foi protocolado o Projeto de Lei que proíbe o sacrifício de pintinhos machos na indústria de ovos. A proposta foi elaborada conjuntamente pela Animal Equality, Fórum Animal, Mercy for Animals e Sinergia Animal.
A alternativa oferecida pelas entidades de defesa é a implantação do processo conhecido como “sexagem do ovo”, que permite a identificação dos embriões antes de enclodirem. Assim, evita o nascimento dos indivíduos masculinos, poupando a vida de cerca de 84 milhões dessas aves por ano, que acabam trituradas  vivas logo após virem ao mundo. Os machos são considerados inúteis para as indústrias de ovos e carne que mantém o processo produtivo baseado nos indivíduos do sexo feminino.

"Existe a prática de trituração de pintinhos na indústria de criação de galinhas. Apresentamos o projeto para acabar com essa prática apresentando alternativas modernas para a indústria. Defendemos essa e outras iniciativas que visam garantir bem estar dos animais”, justifica a deputada federal Luciene Cavalcante, autora do projeto de lei.

No parlamento paulista já tramita projeto regional semelhante apresentado pelo Carlos Giannazi (PSOL). A iniciativa das organizações de defesa na busca pela implantação de soluções menos traumáticas já conta com 185 mil assinaturas na petição! 
Adesão
Essas entidades tentam guiar o Brasil rumo ao exemplo implantado na Itália. Após uma intensa campanha, o Congresso daquele país conseguiu proibir o descarte em vida, considerado um marco significativo na luta pelos direitos dos animais.

"O Brasil tem condições de ser o primeiro país da América a banir a trituração de pintinhos machos. Para isso é fundamental o empenho do legislativo e do Executivo, pois é inaceitável que animais sejam descartados como lixo", afirmou Carla Lettieri, diretora executiva da Animal Equality.
Enquanto não vira lei, essas organizações de defesa tentam reduzir a tritura desses animais através da conscientização das empresas. Até o momento, quatro indústrias já se comprometeram, sendo eles: Korin, Planalto Ovos, Rair e Grupo Mantiqueira, o maior de ovos da América do Sul. Juntos, esses produtores que aderiram vão impedir que 8 milhões de recém-nascidos deixem de ser triturados. Apesar desses avanços, é crucial ressaltar que apenas compromissos empresariais não são suficientes para proteger efetivamente os animais.
Viagem rumo a Morte
Animais vendidos para o abate em outras nações também estão na mira das entidades de defesa. A campanha foi lançada em 18 cidades brasileiras denunciando as crueldades e irregularidades envolvidas no mercado de exportação em vida. De acordo com  as denúncias, os maus-tratos são comumente observados nos processos de transporte e sem o controle dos órgãos de saúde do Brasil. 
Os animais são carregados em caminhões por longas distâncias, viajando amontoados, em pé por horas a fio. Existem relatos de deslocamentos terrestres que duram mais de 14 horas saindo de vários pontos do Brasil até os portos, onde continuam a sofrida jornada em direção ao abate no exterior. 
Traumatizados e apavorados, muitos deles não conseguem andar, chegando a levar choques de varetas elétricas ou pontiagudas durante as etapas de logística, em que milhares são expostos ao estresse, medo, contração de doenças, quedas e mortes, ocorrências que se prolongam por várias semanas.
A Defensora Luísa Mel
Sem espaço mínimo para locomoção e com o balanço do mar, os embarcados acabam caindo em meio a um mar de fezes, urina e vômitos -relatam as ONGs. Nesse processo, muitos sofrem fraturas e não conseguem mais se levantar ou mesmo se alimentar. Boa parte fica severamente comprometida ou morre. Segundo as denúncias, muitas vezes jogados ao mar. Os animais que sobrevivem a tudo isso, são levados até os abatedouros onde são mortos sem acompanhamento das autoridades brasileiras ou exigência de práticas menos sofridas. 
A campanha conta com a adesão de 60 entidades e apoio da militante em defesa do bem estar animal, Luisa Mell, que atua como co-autora da petição que já conta com mais de meio milhão de assinaturas pelo banimento dessa prática controversa. Ao redor do mundo, a mudança já começou. Proibições e restrições já foram anunciadas na Ásia, na Oceania e na Europa. O Brasil não pode ficar para trás”, afirmam as ONGs na petição pública. 

Impacto Ambiental
Além de todo sofrimento, segundo a entidade, esse modelo de operação se dá em péssimas condições para o meio ambiente em função do despejo de dejetos dos animais em rodovias e vias públicas e, também, pelo odor de fezes e urina que se espalha pelos bairros, provocando desconforto à população. 
A segunda etapa da jornada de longe representa um alívio para esses bichos. Segundo a ONG, geralmente são usadas embarcações em péssimas condições, muitas já descartadas de outras atividades marítimas por serem consideradas sucatas.
“Além de causar intenso sofrimento aos animais, o transporte marítimo de carga viva também impacta o meio ambiente e as cidades portuárias, como foi o caso da embarcação com 27.000 bois retida no Porto de Santos, em 2018 — que resultou em uma multa de R$2,5 milhões por poluição atmosférica, contaminação da rede de drenagem e maus-tratos”,lembra Cristina Diniz, diretora da ONG Sinergia Animal no Brasil
Fora que, se confirmado o descarte ao mar, ainda pode provocar um desequilíbrio ambiental aumentando a proliferação de tubarões no perímetro da rota atraídos pelas carcaças descartadas.
ONGs denunciam maus tratos de animais na indústria de alimentos
ONGs denunciam maus tratos de animais na indústria de alimentos foto de divulgação