Olhar de cima: Google Maps rastreia favelas do Rio

Moradores contratados para serviços de coleta de dados e imagens

Moradores circulando por ruas da Mangueira
Moradores circulando por ruas da Mangueira -
pelo Colunista Luiz André Ferreira
Embora algumas medidas e ações avancem, ainda são pardas as presença do Estado, da iniciativa privada e da Polícia num tratamento desigual dedicado as favelas em comparação com habitantes de outras áreas urbanas. Nem mesmo a crescente prova do grande poder de compra dessas localidades consegue vencer o preconceito e equiparar os serviços.
Só quem sente na pele consegue mensurar as diferenças, falta de oportunidades, serviços deficitários e a discriminação que circundam o universo das favelas. Usada a expressão "na pele" porque seu outro lado na moeda comprova outra dura realidade. A grande presença negra entre os moradores, evidencia a histórica e atual falta de equidade aos afrodescendentes, maioria étnica nessas comunidades. 
Concessionarias expulsas e pirateadas

A inclusão digital é um importante caminho para pavimentar o empoderamento dessas pessoas moldadas num mundo de preconceitos e discriminação. Mas a estrada ainda é muito longa... Grande parte desses territórios são dominados pelo tráfico ou por milícias, que rapidamente perceberam como fonte de luta e de manutenção do poder, o controle das comunicações exigindo tarifas ainda mais altas e de baixíssima qualidade.
Esses moradores não têm acesso à internet, TV a cabo ou serviços de streaming interceptados de forma pirada pelo poder paralelo e retransmitido as residências, resultando num serviço de péssima qualidade, com quedas constantes e lentidão. Por ironia, muitas vezes pagam tarifas mais altas do que as oficiais, sem ter a quem reclamar e ainda sofrendo violentas represálias se por algum imprevisto caírem em inadimplência.
A criminalidade mantém seu monopólio através do medo e da expulsão das oficiais concessionárias desses serviços. Dependendo da localização, também não conseguem utilizar aplicativos essenciais a rotina contemporânea, como de transporte, entrega de comidas ou remédios.
Google de Olho
Uma iniciativa surge como um passo importante no processo de garantir a cidadania para essas pessoas. O Plus Codes é uma tecnologia de endereçamento digital do Google Maps, implementada inicialmente em oito favelas cariocas.

O projeto é realizado em parceria com a startup de logística naPorta e a ONG Gerando Falcões, beneficiando diretamente 20 mil moradores, distribuídos em cinco mil endereços. A implementação ocorre nas comunidades do Vidigal, Tavares Bastos e Urucânia. Os complexos da Mangueira e do Caju também estão sendo atendidos, abrangendo as localidades da Candelária, Olaria, Chalé, Vila dos Sonhos, Parque Conquista I e II, respectivamente.

Essa solução proporciona aos moradores e pequenos empreendedores o registro digital e a inclusão em geolocalizadores através do Google Maps, mesmo diante da ausência de registro pelo poder público de vários endereços físicos. Trata-se de um avanço significativo para entregas, pedidos por aplicativos de transporte e atendimento emergencial. A presença no mapa digital simboliza um caminho rumo a acessibilidade e inclusão social.
Recrutamento de Moradores

Moradores dessas comunidades foram selecionados para atuar no mapeamento, coleta de dados e imagens, além de instalar placas com os códigos digitais nas fachadas dos imóveis. O serviço é gratuito através da criação de códigos curtos semelhantes aos físicos CEPs, mas integrados ao Google Maps. Em vez de nomes de ruas e números, os endereços são identificados por essas coordenadas alfanuméricas.

“Com seus endereços digitais, os moradores das favelas cariocas agora podem compartilhar seus códigos  e utilizá-los em qualquer serviço compatível com a tecnologia”, explica Wilson Rodrigues, gerente de parcerias do Google Maps para a América Latina.
Vista de Comunidade do Vidigal
Vista de Comunidade do Vidigal Arquivo/Agência O Dia