Uma história de sucesso

Pense numa boleira bonita e talentosa. Pensou em Maria da Paz? Depois de ler esta página, você passará a lembrar também de Geane Ferreira, paraense de 38 anos que mora no Rio de Janeiro. Enquanto coleciona elogios de celebridades por causa de seus belíssimos bolos, arranca suspiros por onde vai e provoca justas menções à personagem de Juliana Paes em A Dona do Pedaço.

A confeiteira nasceu na cidadezinha de Rondon do Pará (PR). Quando ela tinha 3 anos, seu pai, grande comerciante e fazendeiro, formou família com outra mulher e deixou a casa, levando só o filho mais velho, para ajudá-lo no comércio. Depois da separação de seus pais, a futura empresária foi carregada junto com seus irmãos para o Espírito Santo, estado onde nasceu Maria da Paz — e onde Geane viveu até o início da adolescência.

Em Vitória (ES), a mãe de Geane passou a fazer doces para fora, para sair da pindaíba. Foi quando ela teve seu primeiro contato com o mundo da confeitaria. Ainda menina, ajudava a mãe a fazer bombons, pirulitos de chocolate e ovos de Páscoa. Apesar do esforço da chefe de família, a situação financeira não melhorou. O aperto era tamanho que, quando Geane tinha 13 anos, seu irmão mais velho, que havia ficado em Rondon do Pará e tinha então uma loja de roupas, convidou a família a retornar para o Norte, onde poderia oferecer a todos uma vida melhor. Convite aceito. "Não foi fácil, mas a gente tinha amor de sobra", conta Geane. "Tive que batalhar muito."

Ela descobriu seus dotes confeiteiros nas comemorações de família. E, em 2014, ela abriu a Bake Gourmet. Entre suas clientes famosas estão Sabrina Sato, Viviane Araújo e Xuxa Meneghel.

Perda de dois irmãos obrigou a menina a crescer

Quando a vida parecia melhorar, uma tragédia roubou de Geane quem ela mais amava. Seus irmãos retornavam de uma viagem a Vila Velha (ES), onde residia parte da família, quando sofreram um acidente de carro na altura da cidade de Colinas (TO). Os dois morreram — um com 21 anos, o outro, com 24. "Na hora a gente não pensa em nada. Além de irmãos, eles ocupavam um lugar de pai. Minha mãe sofreu muito", diz a confeiteira. Sem o auxílio de quem antes sustentava a família, Geane se viu, aos 15 anos, encabeçando a loja de roupas que pertencia ao seu irmão. Mas não deu certo: a loja faliu em pouco tempo.

Sem saber para onde ir, ela e a mãe aceitaram um convite para cuidar de um restaurante em Imperatriz (MA), onde moraram por dois anos. Mas a nova empreitada não deu certo, tampouco. De volta à Vitória (ES), Geane fez um curso de decoração de interiores, que não lhe rendeu muitos frutos. Depois, aos 23, iniciou um curso de teatro. Participou até de um workshop com um assistente de direção de Malhação, que, segundo ela, chegou a sondá-la para o elenco. Mas ela teve de interromper o curso para trabalhar. Nessas idas e vindas, sua educação terminou negligenciada. "Só estudei até o segundo grau. Não tive tempo para fazer faculdade."

O segredo de seu sucesso

Geane conta qual o segredo de seu sucesso. "Muita pesquisa. Se eu for fazer um risoto, eu consulto o livro da Le Cordon Bleu (tradicional escola de culinária francesa)", revela. "Para acertar o ponto do naked cake (bolo pelado), nosso produto mais famoso, eu e meu marido tivemos que repetir a receita umas 50 vezes. Até o tamanho do ovo faz diferença", afirma. Hoje, ela vende de 20 a 30 bolos por semana, e leva encomendas para todo o Rio, de São Conrado a Angra dos Reis. Um bolo seu de 25 fatias custa, em média, R$ 230. Ela também vende bolos de pote — o famoso cake in a jar — por R$ 23.

Elogiada por ser bonita

A confeiteira não chama atenção só pelo talento. As comparações com Maria da Paz, personagem de Juliana Paes, se devem também à beleza. "Fico feliz. Sempre gostei de me cuidar", comenta. Além disso, assim como a boleira da novela, Geane precisou superar muitas dificuldades para ter sucesso. "A história dela é muito legal. Ela é guerreira. Para vencer na vida, você tem que se destacar. Eu penso grande", afirma. "Já ouvi dizerem: 'você é tão linda, por que trabalha com bolo?'. Não tem nada a ver, mas gosto dos elogios."