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Pesadelo chega ao fim

'Nunca imaginei ser preso um dia por alguma coisa que não fiz'

Após passar três dias preso, o violoncelista Luiz Carlos Justino é recebido pela mãe, Angélica da Costa
Após passar três dias preso, o violoncelista Luiz Carlos Justino é recebido pela mãe, Angélica da Costa -

A defesa do violoncelista Luiz Carlos Justino, solto ontem, em São Gonçalo, estuda os próximos passos no processo do jovem de 23 anos. "A gente cumpriu uma etapa importante que é a questão da decisão liminar que revoga a prisão preventiva dele", afirma Renan Gomes, da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB-RJ, e um dos advogados do caso.

Para a defesa, por mais que a decisão não fosse a originalmente pretendida liberdade, ela acabou sendo também encarada como uma conquista. "A prisão domiciliar é um espaço de conforto para ele e a família em relação à injustiça que ele vem sofrendo", destaca o advogado Renan Gomes.

"Nunca imaginei ser preso um dia por alguma coisa que não fiz", desabafou Luiz Carlos, que recebeu abraço emocionado da mãe ao deixar a prisão. Ele teria sido preso por engano no último dia 3, em uma blitz no centro de Niterói, na Região Metropolitana. Ele foi acusado de participar de assalto em em 5 de setembro de 2017, em Pendotiba, Niterói, e havia mandado de prisão preventiva em aberto. Segundo parentes e amigos, o músico estava se apresentando com colegas na hora do crime.

Uma onda de comoção tomou das redes sociais e até um abaixo-assinado foi criado pedindo a libertação de Luiz Carlos. Membro da Orquestra de Cordas da Grota, ele descreveu um cenário de horror atrás das grades. "Fiquei numa cela com mais de 80 pessoas e nos serviram comida estragada", lembra, visivelmente abatido. "Fiquei com muito medo. Aquilo não é lugar para ninguém. Quero agradecer primeiramente a Deus e a todos que se mobilizaram a me ajudar nesse processo e injustiça", disse.

Orquestra prepara live comemorativa

Lenora Mendes, professora de Luiz, conta que a Orquestra de Cordas da Grota, planeja uma ação celebrando a saída dele da prisão. “Estamos planejando uma live. Mas hoje (domingo), ele só queria ir pra casa dele descansar. Vou ver a data direitinho e aviso”, conta ela. A professora destaca que estão todos confiantes na liberdade definitiva de Luiz Carlos. “Vamos ficar do lado dele até isso tudo acabar. Vamos tentar manter a mobilização para o caso do outro jovem que está preso nas mesmas condições dele, o Danillo Felix”, frisa Lenora.

Outra família cobra justiça

Família afirma que Danillo Félix de Oliveira é inocente - Reprodução/Instagram
Outra família que acusa a polícia de também prender um homem inocente é a do Danillo Felix de Oliveira. Segundo a companheira dele, Beatriz Faria, o jovem de 24 anos, no dia 6 de agosto, foi detido e levado para a delegacia antes mesmo de expedirem um mandato de prisão. Segundo a mulher, ele foi preso por agentes da Polícia Civil que estavam à paisana em um carro descaracterizado. A família afirma ainda que houve falha no reconhecimento dele.
“Chegaram algemando ele, interrogando e levando ele para a delegacia, onde foi a única vez que consegui ter contato com ele. Depois, ele foi transferido para Benfica, depois para o Tiago Teles. Ele está sendo acusado de roubo à mão armada e somente com a palavra da vítima, que disse que o autor do crime era um rapaz de aproximadamente 20 anos e pardo, sendo que o Danillo é negro retinto”, explica ela se referindo ao crime que aconteceu no dia 2 de julho, em Niterói.
Ainda segundo a mulher de Danillo, houve reconhecimento por foto. Mas, para Beatriz, aí está um das falhas na investigação. A mulher diz que Danillo não tem antecedentes criminais. “Eles (policiais) pegaram foto do Facebook do Danillo, uma de 2017 e outra de 2018 em que a aparência dele é diferente de hoje. São fotos de dois, três anos atrás. No dia em que ele foi preso, o cabelo estava grande, de trança. Acho que se a pessoa fosse assaltada pelo Danillo, ia falar que o assaltante era ‘pretinho de cabelo grande’. E a vítima fala que no local tem câmeras de segurança, que não foram solicitadas pela polícia e que seriam crucial para provar a inocência do Danillo”, argumenta ela, que até organizou uma petição pela internet que já tinha mais de 11 assinaturas até ontem à tarde pedindo a soltura do rapaz.
Beatriz e Danillo são pais de uma criança de um ano e três meses, que sente a falta do pai. “Está sendo bem complicado. Nos primeiros dias não estava tanto, mas agora, está sendo muito complicado porque ele (o filho) não sabe falar tudo, mas sabe falar ‘papai’. Fica chamando o tempo inteiro. Pega o celular para ligar, fica chamando. Isso é o que mais dói em mim. A gente sente falta, mas quando vê nosso filho chamando e vendo toda essa injustiça que fizeram com ele dói demais”, desabafa.
Após passar três dias preso, o violoncelista Luiz Carlos Justino é recebido pela mãe, Angélica da Costa Acervo Pessoal
O violoncelista Luiz Carlos Justino Reprodução/Facebook
O violoncelista Luiz Carlos Justino Reprodução/Facebook
O violoncelista Luiz Carlos Justino logo após ser solto, junto dos advogados Sônia Ferreira e Renan Gomes, da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB-RJ Divulgação
O violoncelista Luiz Carlos Justino após ser solto Acervo Pessoal

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