Mais Lidas

Jovens de periferia são selecionados para conferência em Harvard, nos Estados Unidos

Grupo criou uma vaquinha online para ajudar nos custos da viagem

Gabriel de Mattos, de 22 anos, Gabriele Santos, 22, Gabriella Batista, 19, Rebeca Gaudêncio, 20, e Adiban da Silva, 22
Gabriel de Mattos, de 22 anos, Gabriele Santos, 22, Gabriella Batista, 19, Rebeca Gaudêncio, 20, e Adiban da Silva, 22 -
Cinco jovens de bairros periféricos do Rio de Janeiro e São Paulo foram selecionados pelo Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart), para participar do "Brazil Conference 2020", que acontecerá no dia 3 de abril, na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Gabriel de Mattos, de 22 anos, Gabriele Santos, 22, Gabriella Batista, 19, Rebeca Gaudêncio, 20, e Adiban da Silva, 22, foram escolhidos com base em sua trajetória inspiradora. Lá os jovens terão a oportunidade de debater sobre os desafios do país com outras lideranças e expandir sua rede de contatos.

A "Brazil Conference at Harvard & MIT" acontece todo ano e é realizada pela comunidade brasileira de estudantes que vivem em Boston. O objetivo é reunir jovens para promover encontro com líderes e representantes da diversidade no Brasil. A seleção aconteceu através de envio de formulários, onde eles precisaram contar um pouco da sua história. Após a notícia da aprovação, os cinco fizeram um grupo no WhatsApp e decidiram criar uma vaquinha online para custear a viagem.

Desde muito nova, Gabriella teve o desejo de ajudar as pessoas, principalmente através da educação. A estudante de Direito da UFRJ também é professora de redação em um pré-vestibular social no Complexo do Alemão. "Sempre participei de alguns projetos. Quando eu era mais nova fazia parte de uma igreja e lá dava aula de reforço para crianças de escola pública em uma comunidade perto do bairro onde eu morava", explica.

Para ser aprovada no projeto "Ismart Online", a jovem teve que criar um aplicativo para ajudar a combater algum tipo de problema social. "Já ganhei prêmios da feira de ciência do colégio e uma simulação de jornalismo da ONU. Sou voluntária no Greenpeace e faço poesia falada. Ano passado consegui fazer o meu primeiro livro autoral através do Slam e é assim que consigo conscientizar a população periférica dos problemas sociais que ela é atingida, rompendo com as barreiras sociais", explica. Gabriella também enfatiza que eles, os jovens escolhidos, tiveram oportunidades, "mas é importante não se conformar com os estereótipos sociais que são colocados dizendo onde ou não alguém deve chegar".

Estudante de Economia, Rebeca é bolsista na PUC e percorreu um longo caminho para conseguir uma vaga na universidade. A jovem entrou na Ismart quando estava no ensino médio: "Esses três anos foram muito difíceis porque eu acordava muito cedo e voltava muito tarde, então eu acabava tendo que estudar entre as aulas ou no caminho do colégio para casa", desabafa. "Na Brazil Conference terei a oportunidade de me tornar agente de transformação na comunidade em que moro, onde milhares de jovens e adolescentes são expostos a cada dia à fome, ao tráfico de drogas e à prostituição".

Gabriel, que estuda Economia na Unicamp, em São Paulo, conta que desde pequeno foi incentivado pelos pais. Aos 11 anos, venceu o concurso de redação da Associação Brasileira de Difusão de Livros.
"Com 15 anos entrei na ETEC Pirituba e virei bolsista do Ismart Online. Esses dois centros foram importantíssimos para minha formação. Com todo esse apoio, em 2016 eu fui bolsista da AFS para fazer um intercâmbio para Argentina. Lá conheci melhor e me apaixonei pela Economia", conta o paulista, que completou: "Decidi seguir nessa área, pois vi que nela que eu poderia ajudar aqueles que são como eu, mas que não tiveram as mesmas oportunidades".

Gabriele é recém-formada em Engenharia de Produção pela PUC-Rio. Nascida em Nilópolis, entrou na Ismart aos 11 anos e foi premiada com uma bolsa de verão na Universidade de Yale, para aperfeiçoar o inglês. No ano seguinte, aplicou outra bolsa para a Universidade de Notre Dame. A carioca também conseguiu patrocínio por conta do seu desempenho acadêmico na universidade. Atualmente, ela e mais três bolsistas criaram a Oficina Ultrapassar, voltada para educação empreendedora, sustentável e de gestão de negócios para pessoas sem acesso a esse tipo de informação.
"Acredito que a educação, integridade e uma formação empreendedora têm um poder transformacional para o nosso país", ressalta.

Já Abidan, morador de uma região rural de Embu das Artes, em São Paulo, teve o horizonte ampliado a partir da Ismart. O jovem teve a oportunidade de estudar na Harvard Summer School e em 2015 entrou na POLI para estudar Engenharia. Com todo o esforço, Adiban serviu de exemplos para os pais voltarem a estudar, filho de uma empregada doméstica e um marceneiro, que se graduaram em pedagogia e engenharia. Hoje, ele está à frente do Km23, projeto que criou para levar oportunidade e referência aos jovens de escolas públicas e periferia.

Após a viagem, eles pretendem fazer uma visita ao projeto pré-vestibular que Gabriella dá aula e passar pela Feira Literária de São Gonçalo para contar sobre a experiência nos Estados Unidos e incentivar outros jovens. "A gente precisa ser chave e abrir a mesma porta pra outros como nós", diz Gabriella.
*Estagiária supervisionada por Mário Boechat