Rio - Um levantamento realizado pela plataforma Fogo Cruzado revelou que nem o próprio lar do carioca é um lugar totalmente seguro. Seja no quintal, no terraço ou até dentro de casa, 95 pessoas foram baleadas em 2019 – 74 não resistiram – enquanto estavam em lugares onde achavam estar a salvo. De acordo com esse mapeamento, o número de baleados dentro de residências no Rio em 2019 aumentou 79% em relação ao mesmo período em 2018 – com 30 mortos e 23 feridos. O caso mais recente foi o da menina Anna Carolina, de 8 anos, baleada na cabeça enquanto estava sentada no sofá de casa, na noite desta quinta-feira, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
Houve, inclusive, casos com mais de uma vítima. Por volta das 3h do dia 24 de julho, dois homens armados entraram em uma casa na Rua Igaratá, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio, e fizeram vários disparos. O resultado foi uma família inteira baleada: três mortos e um ferido. Entre as vítimas fatais estava uma adolescente, a Lindsay de Almeida Reis, de 15 anos e uma criança, Wictor de Almeida, de 7 anos, morto com um tiro na cabeça. A mãe deles, Luciana Almeida da Silva, de 35 anos, também morreu. O único sobrevivente foi o pai, Wladimir Dativo dos Santos, de 41 anos.
Ainda segundo a plataforma, foram registrados 7.365 tiroteios e disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio, que deixaram 2.876 baleados durante o ano passado. Deste total, 189 pessoas foram vítimas de bala perdida – das quais 53 morreram. Em 2018, esse número foi 16% maior: houve 225 vítimas de bala perdida, das quais, 43 não resistiram aos ferimentos e morreram.
Quando o assunto é bala perdida, 71% dos casos havia a presença de agentes de segurança. Dentre as 189 vítimas de bala perdida, 134 foram baleadas em situações em que havia presença de agentes de segurança na cena. A maior parte das vítimas foi atingida durante ações policiais (operações, ações de rotina como patrulhamento, blitz, etc.): 109 no total. Além delas, roubos diversos (21) e disputas entre traficantes, sem a participação de agentes (18) também deixaram vítimas de balas perdidas.
Nem na igreja se está a salvo
Wallace Evangelista Meira, de 34 anos, foi atingido no dia 14 de março quando orava em uma igreja evangélica no bairro de Trindade, em São Gonçalo. Outros lugares que imaginamos estar a salvo, também mostram o contrário: 4 pessoas foram baleadas quando estavam dentro de algum meio de transporte, 1 dentro do hospital, 1 no shopping e 1 dentro de uma estação de trem.
O caminho da escola também pode ser perigoso
Oito vítimas de balas perdidas foram atingidas quando estavam dentro, indo ou voltando da escola. Stephani Aparecida Silva dos Santos, de 18 anos, foi um dos últimos casos. A estudante voltava da escola quando foi atingida por uma bala perdida na esquina da Rua Cuba com Avenida Prado Junior, na Penha, Zona Norte do Rio, no dia 21 de novembro, próximo ao fim do período letivo. Houve ainda 14 casos onde os tiros não deixaram vítimas, mas acertaram residências (6), veículos (2), unidades de saúde (2), escola (1), shopping (1) e um edifício público (1). No dia 6 de setembro, por exemplo, 3 ônibus foram atingidos durante tiroteio no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Leste Metropolitano.
Até animais de estimação foram vítimas em 2019
Dos 9 animais baleados, 1 deles foi vítima de bala perdida. A vítima, um cachorro já idoso, foi atingido em uma das patas no dia 19 de setembro, durante operação policial no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, Região Central do Rio. Em 2018 também houve casos de animais baleados, foram 4 atingidos por bala perdida, 1 morreu. Entre as vítimas estava um jabuti de 20 anos, que teve que ser sacrificado após ter o casco perfurado por uma bala perdida durante ação policial em Higienópolis, na zona norte do Rio, no dia 19 de junho.