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Adolescente morto durante operação em São Gonçalo sonhava ser advogado, segundo familiares

João Pedro foi socorrido no helicóptero da Polícia Civil para a Zona Sul do Rio e familiares ficaram 17 horas sem notícias de seu paradeiro até descobrir que seu corpo estava no IML

João Pedro Matos Pinto tinha 14 anos
João Pedro Matos Pinto tinha 14 anos -
Foram 17 horas de procura e aflição, até a família do estudante João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, descobrir o seu paradeiro, na manhã de ontem. Ele estava morto, no Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. O adolescente ficou desaparecido após ser baleado dentro de casa e socorrido pelo helicóptero da Polícia Civil, durante uma operação conjunta com a Polícia Federal, no Complexo do Salgueiro, no mesmo município, na tarde de segunda-feira.
O corpo de João Pedro foi sepultado no final da tarde de ontem, no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo. Parentes contam, que o sonho dele era ser advogado. "Meu sobrinho teve o sonho interrompido. Era um menino estudioso, engraçado, muito divertido. Queremos justiça", desabafou a tia, Denise Roza.
O adolescente cursava o 9º ano do ensino fundamental no Centro Educacional Pereira Rocha, no bairro Porto do Rosa, e a escola suspendeu as aulas online de ontem, por solidariedade aos familiares e amigos. De acordo com o professor de ciências Leandro Gouveia, João Pedro sempre foi um ótimo aluno e muito querido por todos.
"Eu dava aula para ele há dois anos. Sempre foi bom aluno, participativo e tinha vários amigos. Sempre respeitou muito todos os professores e funcionários da escola, era um garoto religioso, de família. Mesmo durante a pandemia, ele estava presente em todas as aulas online. Muito triste isso que aconteceu com ele, lamentável", contou.

Familiares ficaram horas sem notícias

Familiares afirmam que o estudante foi socorrido pelos agentes de segurança por volta das 14h de segunda, e que os policiais não deram informações sobre onde estavam o levando. Na manhã de ontem, foi divulgado que o João Pedro foi atendido por médicos bombeiros, que apenas constataram seu óbito, por volta das 15h15, no Grupamento de Operações Aéreas (GOA) do Corpo de Bombeiros, na Lagoa, Zona Sul do Rio.
"Os policiais pularam o muro da nossa casa atrás dos traficantes e entraram atirando. Todo mundo se jogou no chão, mas o João foi atingido na barriga. Os policiais rapidamente pegaram ele e o colocaram dentro do helicóptero. O pessoal foi tentar ir atrás, mas o policiais não deixaram e ainda o ameaçaram, dizendo que se eles saíssem iriam atirar", informou um primo, que preferiu não se identificar.

Socorrido para a Lagoa, na Zona Sul do Rio

Na cidade de São Gonçalo há o Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT). A unidade de saúde conta com um heliponto e fica a cerca de 15 km da Praia da Luz, no Complexo do Salgueiro. O local estava liberado para o pouso de aeronaves. Questionada se os policiais acionaram o Heat, a assessoria de imprensa do governo estadual não se pronunciou.
A base militar onde João Pedro foi levado fica a 43 km de distancia do local da ocorrência.
Questionadas sobre o local de socorro do adolescente, a Polícia Federal respondeu que "a Polícia Civil já abriu inquérito para apurar as circunstâncias da morte e do socorro". Já a Polícia Civil não deu retorno a respeito, informando apenas que a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) instaurou um inquérito para apurar a morte do adolescente.
A corporação disse que ainda que especializada fez a perícia no local e que duas testemunhas prestaram depoimento na delegacia. "Os policiais foram ouvidos e as armas apreendidas para confronto balístico. Outras diligências estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias do fato", afirmou, em nota.
A operação no Complexo do Salgueiro tinha o objetivo de cumprir dois mandados de busca e apreensão contra lideranças da facção criminosa que age na comunidade, segundo as corporações. A Polícia Federal ainda informou que os mandados não foram cumpridos por conta do confronto armado e fuga dos suspeitos.

Autoridades políticas cobram respostas

O caso gerou grande repercussão entre as autoridades. A assessoria do governador Wilson Witzel, que vem sendo criticado por suas políticas de segurança pública, informou que "o governador lamenta profundamente a morte do adolescente e presta sua solidariedade à família neste momento de dor", além de "ter determinado rigorosa investigação sobre as condições da morte do jovem".
Em nota, a Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Alerj classificou a tragédia como "consequência da falta de uma política pública calcada em inteligência, prevenção e investigação". A presidente da comissão, Renata Souza, reforçou ainda que repudia a política do governador Wilson Witzel, "é cruel que o governo destine à morte nossa juventude negra, que deixe uma mãe virar uma noite sem saber pra onde levaram seu filho, provavelmente morto", concluiu.
João Pedro Matos Pinto tinha 14 anos Arquivo Pessoal
João Pedro Matos Pinto tem 14 anos Arquivo Pessoal