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Na mão da milícia

Vans clandestinas ocupam espaço deixado por linhas de ônibus que sumiram

Vans irregulares invadem rotas dos ônibus e ainda chegam a locais sem transporte convencional: o preço é não aceitar do passageiro benefícios como vale-transporte
Vans irregulares invadem rotas dos ônibus e ainda chegam a locais sem transporte convencional: o preço é não aceitar do passageiro benefícios como vale-transporte -

'Aqui, a gente segue a hierarquia, tem gente grande por trás disso tudo. Não tem ônibus, mas tem a van para atender à população. Além de preço justo, a pessoa vai poder escolher em qual vai andar". Quem diz isso é um homem que se apresenta como um dos fiscais do transporte alternativo na Zona Oeste do Rio. Em um ponto de van próximo à estação de trens de Bangu, ele deixa bem claro: "A van vai deixar você na porta de casa. Estamos em todas as rotas, quero ver o ônibus trabalhar assim".

Com o desaparecimento de algumas linhas de ônibus, o transporte ilegal ganhou mais espaço, principalmente na Zona Oeste. Moradores de Bangu, Realengo, Senador Camará, Campo Grande e Santa Cruz dizem que o número de vans piratas aumentou nesses bairros durante a pandemia do novo coronavírus. "São dez vans para cada um ônibus", completa o homem.

Sem fiscalização, o transporte domina os pontos de ônibus da Avenida Santa Cruz, em Senador Camará. Uma moradora do bairro denuncia que por de trás do serviço oferecido está a milícia, principal grupo criminoso da Zona Oeste.  

"Não existe fiscalização. O transporte circula a qualquer hora e em qualquer lugar. Elas (vans) entram em ruas que os ônibus não entram. Passam em lugares que os ônibus não passam. Dominaram a região. Quem pega transporte diariamente consegue perceber quando é legal ou não. As vans ilegais não aceitam o vale transporte, por exemplo. Algumas circulam com adesivo da prefeitura, como se estivessem regulares, mas basta entrar para entender que a situação é bem diferente", denuncia uma moradora de Senador Camará.

Trabalhadores não têm escolha

Apesar do medo, o transporte clandestino tem sido a única alternativa para um morador de Realengo, que prefere não se identificar. "O 741 (Bangu-Barata) era o único ônibus que passava perto da minha casa. Tenho a consciência que estou colaborando para o crescimento do crime, mas o poder público (é) que deveria se conscientizar em ajudar a população", reclama o rapaz. 

"Como não posso perder clientes, a van se torna a alternativa mais rápida", conta o representante comercial Ivo Amaral, de 72 anos.

O MEIA HORA fez contato com a Polícia Civil e o Ministério Público, mas até o fechamento desta edição não houve retorno.