Dos 163 bairros da capital fluminense, 41 estão sob o domínio de grupos paramilitares. É o que aponta pesquisa inédita feita em parceria entre o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni/UFF), o datalab Fogo Cruzado; o Núcleo de Estudos da Violência da USP; a Pista News e o Disque-Denúncia. Até o ano passado, as milícias tinham sob seu poder 58,6% da superfície territorial da cidade. Atualmente, quase 2,5 milhões de cariocas vivem sob os olhos dos milicianos. Um mapa com a expansão de todas as organização criminosas do estado será apresentado hoje, em um seminário sobre a violência.
Segundo estudo, os grupos paramilitares seguem forte na Zona Oeste, mas avançam por outras regiões, como a Zona Norte e cidades da Região Metropolitana. Das 148 comunidades do Rio, 96 estão divididas entre o tráfico e milícia. Outras 52 estão sob disputa.
O mapeamento mostra que os paramilitares estão em mais 199 bairros da Baixada Fluminense, São Gonçalo e Itaboraí. As três facções do tráfico juntas têm 246 bairros.
O principal grupo miliciano, a Liga da Justiça, é chefiado por Wellington da Silva Braga, o Ecko, de 34 anos. Ele é o responsável pela expansão desse tipo de crime de está foragido da Justiça. O Disque-Denúncia oferece recompensa de R$ 10 mil por informações que levam à sua prisão. "As milícias atuam em territórios cada vez mais extensos, cobrando taxas extorsivas sobre serviços como água, luz, gás, TV a cabo, transporte e segurança, além do mercado imobiliário", ressalta o pesquisador Daniel Hirata, que participou do mapeamento.
De olho na política
Investigações da Polícia Civil apontam que a tentativa da milícia de entrar na política. Para as eleições municipais desse ano, a instituição montou uma força-tarefa para investigar a ação de milicianos na indicação de candidatos. A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) vai convocar, a partir de hoje, candidatos da Zona Oeste do Rio e da Baixada Fluminense para prestar depoimento, para esclarecer um possível relacionamento com a milícia. Somente neste mês de outubro, dois candidatos a vereador foram assassinados em Nova Iguaçu. Ambos eram suspeitos de serem milicianos.
Mais mortes pela polícia
O relatório Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que o Brasil atingiu o maior número de mortes em decorrência de intervenções policiais desde que o indicador passou a ser monitorado pelo órgão, em 2013. Rio de janeiro e São Paulo lideram o ranking, com respectivamente 867 e 1.810 mortes por intervenções de policiais civis e militares no último ano. No Rio de Janeiro, a cada cem mortes violentas, 30,3% foram cometidas com a presença dos agentes de segurança pública.