Justiça ouve mais três testemunhas sobre morte do congolês Moïse

Próxima oitiva está marcada para acontecer no dia 15 de setembro, às 13h

Homenagem ao congolês Moise em frente ao quiosque Tropicália, posto 8 da Barra da Tijuca
Homenagem ao congolês Moise em frente ao quiosque Tropicália, posto 8 da Barra da Tijuca -
Rio - Três testemunhas de acusação no processo que julga a morte de Moïse Kabagambe, de 24 anos, foram ouvidas na tarde desta sexta-feira (28), na 1ª Vara Criminal da Capital. No encerramento da audiência, a juíza Alessandra da Rocha Lima Roidis marcou para o dia 15 de setembro, às 13h, a continuação das oitivas das testemunhas. Brendon Alexander Luz da Silva, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Fábio Pirineus da Silva são acusados de matar Moïse em um quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, em janeiro do ano passado.

O primeiro a prestar depoimento foi Maicon Rodrigues Gomes que contou que trabalhava nos quiosques da praia como freelancer e que conheceu a vítima na semana da sua morte. A testemunha disse que Moïse estaria há três dias ficando pela praia e consumindo bebida alcoólica e que chegou a oferecer dinheiro ao congolês para que ele fosse para casa descansar. A testemunha afirmou ainda que a vítima estava tentando pegar cerveja e que Jailton Pereira Campos, conhecido como "Baixinho", estava tomando conta do cooler e não permitia.
Disse que "Belo" apareceu com um pedaço de madeira para agredir Möise e que, então, percebeu que a situação estaria saindo do controle e saiu para tentar chamar a polícia. Em seguida, Jailton foi ouvido pela juíza. Ele disse que é amigo dos acusados, que não conhecia Moïse e que trabalhava no Tropicália e estava tomando conta do quiosque no dia da morte do congolês. Lembrou ainda que era seu segundo dia de trabalho lá e que, embora o seu turno fosse diurno, estava dobrando o horário porque o outro funcionário, que deveria rendê-lo, não chegou.

Jailton confirmou suas declarações quando prestou depoimento em sede policial, relatando toda a dinâmica das agressões cometidas pelos acusados, que resultaram na morte de Moïse. Disse que Brendon foi o primeiro a abordar o Moïse, chegando a derrubá-lo e imobilizá-lo com um golpe conhecido como "mata-leão". Em seguida, o Fábio chegou com um pedaço de madeira e começou a desferir vários golpes contra a vítima. Disse que o Aleson saiu de outro quiosque, pegou a madeira da mão de Fábio e também desferiu vários golpes contra Moïse.
Revelou que a vítima foi amarrada com uma corda e que, ainda assim, o Brendon chegou a desferir vários chutes contra ela. Contou que os acusados só decidiram desamarrá-la, quando viram que Moïse já estava morto. Daí, resolveram chamar o Samu.

A terceira e última testemunha ouvida na audiência foi Luis Carlos Cortinovis Coelho, proprietário de uma barraca da praia, localizada atrás do quiosque Tropicália. Luis Carlos contou que tinha trabalhado na praia durante o dia, mas que saiu por volta das 19h, não presenciando o ocorrido. Disse que Brendon, um dos acusados, trabalhava com ele na barraca e que nunca havia se envolvido em qualquer confusão. Afirmou que conhecia o Moïse, por ele trabalhar como freelancer no quiosque, mas que sempre procurou se manter afastado dele, porque enquanto trabalhava, ele também bebia e se metia em confusão.

Luis Carlos disse que soube do crime após receber um telefonema do Fábio, um dos acusados e que, quando chegou, o corpo de Moïse já havia sido retirado do local. Revelou, ainda, que entrou em contato com os acusados Fábio e Brendon, tentando convencê-los a se entregarem. Disse que, informado por um familiar do Fábio, conseguiu localizar o taco de beisebol usado para agredir Moïse e que o recolheu e entregou na delegacia.
Réus
Os réus também vão ser ouvidos. Fábio Pirineus da Silva, o Belo; Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove; e Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota, estão presos preventivamente desde a morte de Moïse e respondem por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima.
De acordo com a polícia, Fábio assumiu ter dado pauladas na vítima, já Cristiano confessou ter participado das agressões, enquanto Brendon aparece nas filmagens imobilizando o congolês no chão.
Na primeira audiência, a mãe de Moïse, a comerciante Lotsove Lolo Lavy Ivone, foi ouvida. Durante depoimento, ela contou que soube do ocorrido na mesma noite, porém, quando chegou ao quiosque Tropicália, onde aconteceu o crime, o corpo de Moise já havia sido levado para o IML. A mulher ainda chorou e pediu justiça pelo filho que, segundo ela, foi morto "como se fosse uma cobra".
Inicialmente, doze pessoas iriam prestar depoimento, mas apenas três compareceram à audiência. Foram ouvidos Viviane Matos Faria, que administrava o quiosque vizinho, e o policial militar Alauir de Matos Faria.
Relembre o caso
Moïse Kabagambe, 24 anos, trabalhava no quiosque Tropicália na praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele foi espancado e morto por Fábio Pirineus da Silva, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Brendon Luz da Silva na noite do último dia 24 de janeiro. Os três homens agrediram o jovem com socos e chutes, golpes de taco de beisebol e pauladas.
O motivo, de acordo com relatos colhidos pela Polícia Civil, foi um desentendimento após Moïse cobrar valores de duas diárias de trabalho no quiosque.
O crime gerou grande comoção com repercussão nacional e internacional, protestos e até relatos de ameaças de familiares do jovem congolês que chegaram a dizer que teriam sido inibidos ao ir até o local onde fica o quiosque para protestar e mostrar a indignação pelo assassinato brutal de Moïse.
Organizações de Defesa dos Direitos Humanos, grupos antirracistas e outras entidades de grande importância, bem como artistas e autoridades foram às redes sociais protestar contra o crime. O caso chamou a atenção das autoridades sobre condições de trabalho insalubres, maus tratos, abusos e não cumprimento de leis trabalhistas para com os imigrantes que moram no Rio.
Moïse Kabagambe, congolês morto espancado em quiosque da Barra da Tijuca
Moïse Kabagambe, congolês morto espancado em quiosque da Barra da Tijuca Reprodução