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'Só quem vive sabe'! Paixão pelo saxofone deu novo fôlego para Chacal do Sax

Cria do Complexo do Lins, Jonathan Fernandes Vieira venceu o samba enredo de 2021 da Unidos de Padre Miguel

O amor pelo instrumento de sopro transformou a carreira de Chacal do Sax
O amor pelo instrumento de sopro transformou a carreira de Chacal do Sax -

Um menino que cresceu no colégio interno e, lá, encontrou uma paixão que iria mudar sua vida: o saxofone. Esse é o resumo da vida de Jonathan Fernandes Vieira, de 36 anos, conhecido como Chacal do Sax, que é cria da comunidade Barro Vermelho, no Complexo do Lins.

O artista, que também é cantor, compositor e venceu o samba enredo de 2021 da Unidos de Padre Miguel, lembra que ficava internado, com outros 150 meninos, de segunda a sexta-feira, e lá havia uma banda marcial que tocava para que eles marchassem.

"Me apaixonei pelo saxofone. Porém, eu não tinha o meu e tinha certeza de que nunca iria ter por causa da realidade da minha mãe, que trabalhava como auxiliar de limpeza. Morávamos numa casa de um cômodo no pico do morro. Um dia, ela me fez uma surpresa e colocou debaixo do meu travesseiro o saxofone que ela tinha comprado pra mim, choramos juntos a noite toda", recorda ele, que hoje não mora mais na comunidade, mas está sempre por lá, onde deixou amigos e familiares.

"Tenho muito orgulho da minha comunidade. Vi muitas coisas ruins e boas. Só levei comigo as boas. Viver em uma comunidade é muito difícil, só quem vive sabe como é, mas sempre tive o apoio dos meus amigos no incentivo à música. Então, pra mim, foi muito bom ter crescido lá. Hoje, dou muito valor às coisas que conquistei e conquisto. "Hoje vivo da música, graças a Deus, à minha mãe e ao meu professor Mestre Paulo Salvador, que me ensinou como a um filho. Eu o tenho como um pai".

 

Preconceito pra todo lado

Apesar de hoje viver da música, Chacal — que recebeu esse apelido na comunidade por causa de um participante do Programa de Calouros, do SBT — conta que já sofreu muito preconceito por ser negro, morador de favela e escolher uma profissão nada comum. "Uma vez fui parado por um policial que não acreditou que eu tocava saxofone e fez com que eu tocasse no meio da rua pra ele acreditar. Fico muito triste por sermos definidos pela cor da nossa pele. Tenho muito orgulho da minha cor. Fiz uma música que se chama Sou Preto e um samba para disputar pelo Salgueiro, com o enredo sobre resistência. Mas tenho fé que um dia isso irá mudar", afirma.

O amor pelo instrumento de sopro transformou a carreira de Chacal do Sax DIVULGAÇÃO
Chacal do Sax cresceu na comunidade Barro Vermelho, no Lins DIVULGAÇÃO