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'A cultura da favela é muito diversificada', diz MC Du Black

Funkeiro relembra sua vivência na favela e fala das coisas boas de lá

MC Du Black
MC Du Black -

'Me titulam como favelado e não vejo problema. Me orgulho de ter vindo da favela. Deixo que minhas conquistas falem por mim'. É desta forma que MC Du Black, de 24 anos, define sua história na comunidade do Dique, no Jardim América, na Zona Norte do Rio. E a importância deste local em sua vida não se reflete apenas em seu lado pessoal. Ele traz suas raízes até nas canções. "A comunidade é a minha maior inspiração. A cultura da favela é muito diversificada, são muitas portas abertas no meio musical."

As lembranças da época em que ele vivia no local são inúmeras. "Vivi quase minha vida inteira no Dique e ainda moro no Jardim América. Até julho do ano passado, eu trabalhava em uma serralheria dentro do Dique. Tenho muitas lembranças boas de lá. Muito futebol, pagode e risada. Sempre fui um entusiasta da música, desde pequeno, por influência do meu irmão, que tocava na igreja. Então, mesmo trabalhando, nas horas vagas, gostava de compor e fazer uns batuques (risos). Gaiola É o Troco foi minha tacada final no mundo da música e que bom que deu certo", confessa. 

E deu certo mesmo. A música estourou nos quatro cantos do Brasil e MC Du Black fez inúmeros shows. Mas um deles vai ficar marcado pra sempre em memória: o do Dique: "Tive a chance de me apresentar lá, sim. Foi aquela recepção calorosa, onde pude rever amigos e colegas que foram só pra me prestigiar. Sem falar da sensação de ver que minha favela 'tá' orgulhosa de mim. Hoje sou espelho para muitos que moram lá."

Mas nem tudo são flores. Há o lado bom e o ruim de se viver na favela. "É muita parte boa. É vivência, aprendizado e cultura. Acho que a parte ruim é a marginalização e injustiça. É revoltante ver os nossos governantes tratando a favela como um problema. Nós somos solução e resistência, só precisamos de assistência", desabafa. 

Os noticiários confirmam o desabafo do cantor. Não é difícil ligar a TV ou ler na internet e jornais sobre a morte de inocentes nas favelas do Rio. E é difícil se manter ileso a essas informações. "Impossível não se sensibilizar. Pode ser mais fácil para quem não vive lá passar por cima, mas para nós, que sentimos na pele, que vivenciamos dia a dia, é sempre muito doloroso e sempre vai ser. Pode ser eu todos os dias, em qualquer lugar, porque ,infelizmente, vivemos num país racista. Já nascemos sabendo que estamos três vezes mais em risco."

 

MC Du Black WYSS BRAZIL / DIVULGAÇÃO
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MC Du Black Nobru/ divulgação
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