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Vila Aliança teve ruas batizadas com nome de profissões a pedido dos EUA

Comunidade de Bangu que está prestes a completar 60 anos foi o primeiro conjunto habitacional da América Latina

Ocupação na região aconteceu na década de 1960
Ocupação na região aconteceu na década de 1960 -
A Vila Aliança, em Bangu, tem em sua origem a aproximação política do Brasil com os Estados Unidos no início da década de 1960. A comunidade da Zona Oeste do Rio foi o primeiro conjunto habitacional da América Latina, erguido no âmbito do programa Aliança para o Progresso, criado pelo presidente norte-americano John Kennedy. Ela completa 60 anos em janeiro.
"O presidente Kennedy queria entrar aqui na América Latina através da comunidade", resume Edilson Adad, diretor da Associação de Moradores da Vila Aliança, que chegou à região com menos de dois anos de idade.
A influência norte-americana foi tamanha que o nome do programa foi parar no nome da comunidade, Aliança. A vizinha, hoje Vila Kennedy, também passou pelo mesmo processo e, na época, se chamava Vila Progresso. Os pedidos dos Estados Unidos para a Vila Aliança foram além.
"O governo americano pediu para que os nomes das ruas fossem nomes de profissões que tinham naquela época. A minha rua, por exemplo, se chama Calceteiro; e das três ruas principais, duas usaram o nome do projeto, uma Aliança e outra Progresso", conta Edilson.
DE UMA FAVELA A OUTRA
Os primeiros moradores que ocuparam a região vieram de outras favelas da cidade. Na época, o então governador Carlos Lacerda se aproveitou da construção do conjunto habitacional na Zona Oeste para acabar com algumas favelas do Centro e da Zona Sul do Rio.
"O governador pegou todas as pessoas das favelas do Esqueleto (onde hoje está a Uerj), Praia do Pinto (entre Leblon e Lagoa) e Pasmado (entre Botafogo e Copacabana) e mandou para cá. A Fundação Leão XIII foi quem trouxe os móveis dos moradores", diz o diretor da Associação de Moradores local.
As lembranças que Edilson tem dos primeiros anos de Vila Aliança não são das melhores, mesmo em se tratando de um conjunto habitacional planejado.
"Não tinha nada. Não tinha escola, posto de saúde e colocaram as pessoas para cá. Jogaram o povo aqui", recorda.
MELHORIAS
Nesses 60 anos, a região ganhou três escolas - duas municipais (Rubem Berta e Marieta da Cunha da Silva) e uma estadual (Colégio Estadual Marieta Cunha da Silva) -, um posto de saúde e uma clínica da família. Enquanto isso, a população foi crescendo, passando de pouco mais de 2 mil para os atuais 70 mil.
"Hoje, você tem várias comunidades, quase 10, em volta da Vila Aliança. São comunidades que, inclusive, os filhos e os netos da Vila Aliança começaram a morar, como Caminho do Lúcio, Minha Deusa e Nova Aliança", enumera Edilson.
A Vila Aliança, no entanto, se orgulha de produzir pessoas com motivação político-social. O irmão de Edilson, por exemplo, Ezemar Adad, é fundador e coordenador de um pré-vestibular comunitário que existe há mais de 10 anos na região.
"Nós temos aqui uma força política e envolvimento muito grande de alguns moradores. Isso cresceu muito. Aqui tem muito talento na arte, na música, na cultura, que precisa de investimento. Eu espero muito que se possa possa investir tanto no trabalho quanto no social, para que as pessoas trabalhem e ganhem dinheiro dignamente", espera Edilson. 
Ocupação na região aconteceu na década de 1960 Reprodução
Edilson Adad é diretor da Associação de Moradores da Vila Aliança Arquivo Pessoal

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