'Orgulho de ter nascido na favela'

É com muito balanço e clima de nostalgia que Carnaval, um dos filmes nacionais queridinhos do momento na Netflix, vem conquistando o público. Para quem anda com saudade dos bloquinhos de rua, a produção é um verdadeiro gatilho emocional. E muito desse sucesso se deve, claro, ao ator e cantor Micael Borges, que, além de interpretar o artista baiano Freddy Nunes, ainda dá conta da trilha sonora da produção. Um momento especial na carreira do rapaz, cria do Morro do Vidigal, na Zona Sul, que explora todo o seu talento num só trabalho.

"É um gatilho (risos), principalmente, por ter sido filmado antes da pandemia. Foi a nossa última folia até então", conta. No longa, gravado por entre os trios de Salvador, ele vive o cantor de axé cheio de bossa. "Foi um grande desafio. Primeiro por causa do sotaque, sou carioca. A minha preocupação era fugir do estereótipo. A cultura baiana é única e a parte musical foi muito prazerosa. É onde me encontro com Freddy: além da música, tem o amor à arte", declara.

E por falar em arte... essa é uma paixão antiga na vida de Mika, que surgiu graças à vivência no Vidigal. Afinal, o trampolim para uma nova realidade para ele e sua família veio através do projeto Nós do Morro. Desde então, o currículo soma trabalhos como Malhação, Rebelde, projetos musicais e 1,2 milhão de seguidores no Instagram. "Foi onde tive meu primeiro contato com teatro e música. Toda minha caminhada, tudo que aprendi foi no Nós do Morro. Sou grato por ter conhecido nosso presidente Guti Fraga". 

Mesmo morando há 8 anos em São Paulo, Micael nunca deixou para trás suas raízes e as lembranças de uma infância muito feliz, com direito à pipa, bola de gude e futebol com os amigos da época. "Ser criado numa favela te traz valores que, pra muitos, são coisas que não têm importância. Aprendi muito sobre respeito. E, além da vivência, tenho certeza que o valor de sempre ter minha família unida fez total diferença pra mim", lembra o ator, refletindo sobre as dificuldades do povo periférico. Ele ressalta a falta de carinho das autoridades para a localidade.

"Tem várias questões que precisam ser resolvidas antes de chegar nas comunidades. Eu tenho orgulho de ter nascido na favela, assim como tenho orgulho de ser brasileiro. A questão não é o lugar e, sim, quem o representa. Antes de subir uma favela pra combater qualquer coisa, precisa ser combatida a sujeira de quem administra o país. Assim, um dia, quem sabe, todo mundo vai andar tranquilamente pela favela", avalia.