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Pablinho Fantástico celebra sucesso na Web e defende cultura do passinho: 'Minha raiz é a principal fonte do meu sucesso'

Ex-integrante do Dream Team do Passinho e fundador do grupo Oz Crias, artista é cria da Rocinha e faz sucesso dançando nas redes sociais

Pablinho Fantástico fez parte do grupo Dream Team do Passinho
Pablinho Fantástico fez parte do grupo Dream Team do Passinho -
Fã de Michael Jackson e Usher, Pablo H Neirque, o Pablinho Fantástico, sempre acreditou que a dança mudaria a sua vida, e foi justamente isso que ela fez. Cria da Rocinha, favela da Zona Sul do Rio, o dançarino viajou o mundo com o grupo Dream Team do Passinho, e hoje, aos 29 anos, continua vivendo da música, com o grupo Oz Crias. Sucesso nas redes sociais com milhares de seguidores no Instagram, TikTok e Kwai, o artista falou sobre a sua infância na favela, abrindo o jogo sobre os altos e baixos de sua carreira.

"Minha mãe e minha vó me criaram aqui, desde neném. Desde que me conheço por gente sou cria da Rocinha. Minha raiz é a principal fonte do meu sucesso", disse ele, ressaltando o orgulho de ser criado na maior favela da América Latina.

Entretanto, Pablinho, que continua morando na comunidade, falou sobre as dificuldades que enfrentou por crescer lá.

"A falta de oportunidade, de escolaridade principalmente. Quando eu era criança, minha família por parte de pai tinha uma certa condição, mas eu não vivia com eles. Só os via nas férias de final de ano. E na favela, quando eu voltava eu sempre via outra realidade. A galera com mais dificuldade, com falta de tudo."
Pablinho Fantástico vive da dança desde 2011 - Divulgação
Como muitos meninos nascidos em favela, antes de se envolver com a dança, Pablinho tentou ser jogador de futebol.

"Minha última peneira foi pelo Flamengo. Fiquei muito doente e não consegui pegar o ônibus que já tinha saído da Gávea. Chorei muito, mas passaram uns meses e o passinho entrou na minha vida, isso em 2006, eu já tinha 13 anos. Eu conheci o passinho em um baile funk aqui na Rocinha. Quando eu olhei pro lado, vi uma rodinha rolando e fui lá. Foi amor à primeira vista", disse ele, lembrando do momento em que começou a dançar funk.

"Veio os Fantásticos do Passinho, criado pelo Bolinho e por mim, com alguns integrantes da Rocinha, e depois a gente se espalhou pelo Rio de Janeiro todo. Antes disso já tinha o Imperadores e vários clãs do passinho foda que representavam cada lugar do Rio, de cada favela", contou.

Hoje, acostumado a bater milhões de visualizações em seus vídeos, Pablo lembrou da primeira vez que viu sua dança ganhar visibilidade na internet.

"Em 2010 eu fui consagrado como um dos melhores, com o vídeo do tapete. "Pablinho Performance Dance" era o nome do vídeo, onde eu dançava em cima de um tapete. Bateu 50 mil visualizações, e naquela época isso era coisa pra caraca".

Mesmo amando dançar, Pablinho contou que em um determinado momento de sua vida, as dificuldades financeiras fizeram com que ele se afastasse de sua paixão.

"Em 2011 eu dei uma parada de dança um pouco, e comecei a trabalhar, foi quando eu tive o meu primeiro emprego. Tinha que sobreviver, né? Porque eu já era um pouco mais velho, tinha 19. Já começava a pagar minhas contas. Tava morando com uns amigos porque eu estava brigado com a coroa. Passei por muitas coisas sinistras, de superação. E hoje eu sou muito grato pelo que eu passei, serviu de aprendizado para poder ser alguém hoje."

Contudo, o artista lembrou que sua paixão pela dança era tão grande, que nem no trabalho ele conseguia esconder.

"Eu fiquei trabalhando ali no Humaitá, de fiscal de táxi. Eu vivia dançando, chamando atenção dos clientes. Era muito engraçado. Meu patrão se amarrava, mas os taxistas ficavam doidos, dizendo: "tem que trabalhar direito". Eu trazia alegria para aquele ponto. A galera me dava muito mais caixinha."

Justamente nesta época, Pablo teve que superar outra dificuldade.

"Meu patrão soube que eu gostava de dançar e me liberou pra uma batalha do passinho, onde seria a Batalha da Coca-Cola. Mas antes disso, teve uma outra, e eu faltei ao trabalho pra ir. Ele não gostou e me expulsou, e acabou que eu não ganhei a batalha. Fiquei pensando: "perdi meu emprego e perdi meu sonho."
Pablinho Fantástico é cria da Rocinha - Divulgação
Neste momento, o passinho entrou mais uma vez na sua vida, sendo a sua salvação em meio a uma adversidade.

"Chegando em 2012, veio a batalha do Chapéu Mangueira, isso antes do Natal, eu tinha perdido o emprego. Deus me deu a luz, fui na maior felicidade, nem queria ganhar a batalha. Cheguei lá, fui pra final e ganhei do Bolinho, que era meu rival na época. Daí pra frente salvei meu Natal, salvei meu Ano Novo.

Contudo, a maior mudança de sua vida ainda estava por vir. Em 2012, Pablo teve a chance de participar da "Batalha do Passinho" da Coca-Cola, que tinha uma visibilidade até então nunca vista.

"Nesse evento, os 16 finalistas das etapas se garantiam para um espetáculo, onde cada um ganharia R$ 32 mil. Todo mês esse valor X, enquanto o espetáculo durasse. Meu planejamento era passar só pra essa fase, pra comprar minha casinha. Passei das quartas, fui pra semi, mas não passei pra final. Foi onde meu corpo me levou pra final", lembrou ele, que mesmo assim, recebeu um chamado.

"Após umas semanas, o Rafael Dragaud, que foi jurado e um dos idealizadores da Batalha, me ligou junto com a Coca-Cola, e falou: "A gente tem um clipe pra gravar, e te escolhemos. Na minha concepção você é um dos melhores, um dos mais criativos". Isso em 2013 já. Ensaiamos o mês todo e fizemos o clipe 'Todo Mundo Aperta o Play', remix da música da Gaby Amarantos com o Monobloco. Gravamos e com uma semana o clipe bateu 1.7 milhão."

Pablinho explicou que foi justamente através da gravação deste clipe, que surgiu a ideia de criar o Dream Team do Passinho.

"Eu não tinha noção. Era novo naquele mercado que era muito grande. Quando a parada vingou mesmo, veio o telefone. Contratantes do Brasil todo perguntando se a gente tinha show de uma hora. O Rafael sentou com a gente, e em 2013 nasceu o Dream Team do Passinho. Foi onde eu fiz minha carreira sólida no mercado artístico grande, com celebridades, com a Globo, com a Sony Music. Foi nessa época que eu me descobri cantando", disse ele.

Pablinho falou também sobre a importância que o grupo, que encerrou as atividades em 2018, teve em sua vida.

"Foi a minha escola. Eu não estudei muito. Mas sempre fui empenhado em pesquisar e aprender. E lá foi a minha escola porque eu errei muito. Tive que errar pra ser o cara que eu sou hoje. Um cara que respira arte e vive isso com amor. Desde 2011 eu comecei a viver de passinho foda, do funk, da música."

Com o Dream Team do Passinho, Pablinho Fantástico colecionou momentos marcantes, que hoje, ele lembra com muito orgulho.

"Trabalhei com a ONU, fiz comerciais do Mundial, da Fiat, fui em vários programas da Globo, da Record e do SBT. Nossas músicas foram trilhas de novelas da Globo. Fiz muita coisa legal. Também fui pro Rock in Rio duas vezes, com a Fernanda Abreu e com a Alicia Keys, bem na época da guerra na Rocinha, em 2017."
Dream Team do Passinho ao lado de Alicia Keys nos bastidores do Palco Mundo do Rock in Rio de 2017 - Foto: Reprodução / Instagram
Pablinho confessa que na época, sua falta de maturidade gerou alguns problemas para o grupo.

"Como eu sou de favela, eu gostava de postar meus vídeos com funk proibidão. Mas não era nem pelas letras, as batidas, eram muito fortes, tinha uns tiros que combinavam com a minha dança. No Dream Team, como tínhamos marcas grandes com a gente, eu não tinha noção que um vídeo meu poderia prejudicar uma equipe inteira."

O dançarino também falou que por ser muito jovem, não teve cabeça para aproveitar da melhor maneira possível os frutos que colheu durante essa época.

"Quando a gente é novo, com muito dinheiro na mão, vivendo uma realidade que ninguém na favela viveu, ter aquela cabeça naquele momento me fez errar. Quando o grupo acabou, perdi minha renda, minha casa e tudo o que eu tinha. Eu só queria saber de zoação. Gastava cinco mil num dia. Hoje eu consigo fazer a mesma grana que eu fazia naquela época. E com a cabeça que eu tenho hoje, consigo guardar, investir", disse ele, explicando que o grupo se separou quando os integrantes decidiram trilhar caminhos diferentes, como sua amiga Lellê, que seguiu carreira solo.

"Eu já estava começando a cantar e ela também planejava a carreira solo. E a galera também já tava correndo atrás de outras coisas. Foi nesse tempo que a gente pensou em montar um outro grupo. Em uma viagem eu falei, o nome do grupo pode ser Oz Crias. Porque isso tá sempre na boca do poço. Em qualquer lugar o pessoal fala: "E aí, cria?". E cria é o cara que cria e não copia. Que é cria de favela Foi assim que eu pensei no conceito", disse ele, explicando como surgiu o seu atual projeto de vida.

“Aí eu, Breguete e Hiltinho, que hoje não faz parte dos Crias, a gente falou: precisamos de um plano B, se a gente quiser continuar vivendo isso. Eu amo tá no palco, eu amava hip hop, amava Michael Jackson, não é atoa que eu tenho ele tatuado na ponta dos pés aqui no meu peito. É a minha referência. É o que me move. Eu sempre falei depois que o grupo acabou: 'Eu vou ser o Michael Jackson do Brasil.'"
WB Negão, Diogo Breguete, Yuri Passista e Pablinho Fantástico formam Oz Crias - Divulgação
Mesmo com o projeto Oz Crias, Pablinho ainda estava desacreditado. Contudo, ao gravar um vídeo com o pequeno Ygão, criança que também é da Rocinha, ele viu novamente sua vida mudar.

"Em 2021 o Ygão apareceu na minha vida, e num lugar muito desapropriado ele me parou e falou: 'Vamos fazer um vídeo'. Lembro até hoje, dia 06/01/ 2021. Começamos a gravar às 16h. Só terminamos às 20h, de tanto erro. Aí conseguimos acertar. Postei e no dia seguinte já tinha 300 mil visualizações. Em dois dias 1 milhão. Muita gente, do mundo todo, postando. Aí eu fiquei tipo: 'Voltamos pro jogo'. Aí peguei essa estratégia, porque tinha umas crianças no vídeo, e eu agradeço a eles por estarem no vídeo e dar esse brilho todo, me fazer ser novamente quem eu sou. Levamos essa tática para Oz Crias. Pegamos a filha do Breguete, que é do grupo, fizemos um vídeo com muita criança no fundo, que bateu um milhão em um dia. Oz Crias, que tinham 1000 seguidores, foram pra 30 mil em dois dias. E começamos fazer essa forma de fazer a nossa comunicação, introduzindo a favela, a música e a forma de gravar cinematograficamente os vídeos", disse ele, explicando que o vídeo também ajudou a mudar a vida de Ygão.

"Quando a gente fez o vídeo que estourou, a Eliana me ligou, e eu consegui levar ele no programa. E ele ganhou uma casa. Foi uma das coisas mais brabas da minha vida. Eu consegui ajudar a dar uma casa própria para uma família que morava de aluguel."

O artista também falou sobre o maior sucesso do grupo, a música 'Passinho dos Crias”' produzida pela DJ Mumu do Tuiuti, que viralizou nas redes sociais depois que a influencer Evelyn Regly postou um vídeo.

'A Evelyn apareceu um dia dando um bom dia, com um chroma key no fundo e a gente dançando atrás. O vídeo explodiu. Eu mandei uma mensagem agradecendo e ela falou que ia levar pra todos os lugares. Levou para FM e fez a Vivy Tenório dançar. Depois pro POD DELAS, com a Tata e a outra menina, postou nos três perfis verificados. Aí depois a fez a Lorena Improta dançar. Todas as marcas femininas começaram a usar a música. As emissoras de TV começaram a fazer o passinho antes dos programas começarem. A filha do Silvio Santos fez. Eu gravei com a Camilla de Lucas também e aí todo mundo começou a fazer.”
Com quase 150 mil seguidores no Instagram, 380 mil no TikTok e quase 260 mil no Kwai, Pablo falou sobre a importância das redes sociais no seu trabalho.

"Me ajuda muito na visibilidade. Me traz parcerias, me traz trabalho. Algumas marcas grandes apareceram através dos vídeos, como a Telecine, cartão de crédito da Elol, teve a campanha do Instagram que rodou o Brasil todo. Isso a gente almejava há muito tempo. E recuperar esse mercado que a gente tinha na época do Dream Team, abre espaço no mercado do passinho. Não só a gente ganha o mérito, outras pessoas também vão ser vistas. Então ter a rede social ajuda a ter um retorno muito maior."

O dançarino também falou sobre o preconceito que ainda existe com o funk.

"O preconceito sempre vai existir. O brasileiro às vezes é burro. Tem o nariz em pé, um ego e despreza algumas pessoas só porque tem algo a mais. Nas minhas redes, onde eu mostro a minha arte, eu sou atacado todos os dias. Algumas pessoas falam: "E o trabalho?". E isso pra mim é um preconceito, porque eles não conseguem enxergar a minha arte como um trabalho digno. As pessoas são muito cruéis e se você deixar se levar, acaba se envenenando com esse ódio. O melhor é tentar relevar. Eu fico horas sem o celular. Só entro pra fazer o meu trabalho. Posto e saio. Prefiro viver minha vida real, pra não lidar com isso. Absorver essa energia ruim. Tem que tomar cuidado, porque isso mata as pessoas. Deixa depressivo."

Como a dança mudou sua vida, Pablinho acredita que ela também pode transformar a vida de outras pessoas. Atualmente, ela dá aulas de danças para algumas francesas na Rocinha, mas o seu sonho é ter um projeto social voltado para essa área.

"Eu acho muito foda. Isso eleva o nível da favela. Cria esperança e dá oportunidade. Na época do Dream Team, a gente tinha um projeto. Uma academia de dança, onde você estudava, fazia aula de canto, identidade negra. Era uma preparação pra vida. Uma faculdade pros pretos. O meu sonho é fazer uma parada dessa dentro e fora da comunidade. Levar os pregos para fora da favela pra dar aula pra elite pra mostrar a nossa verdade. Ter esses projetos de caridade é uma evolução para nossa favela e nossa arte. É necessário demais. É o meu sonho. Se um dia alguém quiser agregar para fazer, a gente sente e conversa."

Apesar da pandemia ter diminuído o número de shows, Pablinho prometeu um 2022 com muitas novidades.

"A gente tá vindo com uns lançamentos de músicas e clipes. Ontem foi o lançamento do podcast da Evelyn Regly. Vai sair um clipe novo da música do podcast dela, o Vacacast", finalizou.
Pablinho Fantástico é um dos fundadores do grupo Oz Crias - Foto: @pksigla
Pablinho Fantástico fez parte do grupo Dream Team do Passinho Divulgação
Pablinho Fantástico é um dos fundadores do grupo Oz Crias Foto: @pksigla
WB Negão, Diogo Breguete, Yuri Passista e Pablinho Fantástico formam Oz Crias Divulgação
Pablinho Fantástico é cria da Rocinha Divulgação
Pablinho Fantástico vive da dança desde 2011 Divulgação
Pablinho Fantástico é cria da Rocinha Divulgação
Pablinho Fantástico faz sucesso nas redes sociais dançando funk Divulgação
Dream Team do Passinho ao lado de Alicia Keys nos bastidores do Palco Mundo do Rock in Rio de 2017 Foto: Reprodução / Instagram

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