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'O artista brasileiro pode criar em outros gêneros da arte', defende Érico Brás

Sucesso na televisão e no cinema, baiano mostra toda sua pluralidade com o lançamento do EP 'Sincérico Brásileiro'

Érico Brás
Érico Brás -
Rio - Conhecido nacionalmente após estrear na televisão com 'Ó Paí, Ó', série derivada do filme de sucesso, Érico Brás tem a pluralidade como característica de sua carreira. O baiano despontou em papéis nos cinemas, e nas telinhas pode se redescobrir como apresentador do 'Se Joga', da TV Globo, que ficou no ar entre 2019 e 2021. Agora, Érico Brás lança 'Sincérico Brásileiro', seu primeiro EP, no qual deixa evidente as mil facetas de sua arte. O ator, apresentador e cantor explica a motivação para o novo projeto, a mensagem que pretende transmitir e a importância da população negra alcançar cada dia mais espaço na sociedade. 
Você é conhecido pelos seus trabalhos como ator, humorista e apresentador. De onde surgiu a ideia de lançar um projeto musical autoral?
Eu sempre pensei que o ator, pintor, cantor... ele pode ter acesso a outros gêneros da arte. O artista brasileiro pode mexer, experimentar e criar em outros gêneros. Como eu tive contato com a música a vida inteira, desde criança em Salvador, eu sempre tive esse sonho de pode fazer alguma coisa autoral. Pegar as minhas poesias e musicar. Sentar, de forma responsável e com disciplina, para compor alguma coisa. Isso foi ficando mais sério na pandemia onde tive um tempo mais ocioso, e em determinado momento, comecei a pensar em produzir um primeiro álbum e aí entrei nessa disciplina e responsabilidade de compositor, cantor e intérprete junto com um parceiro e compusemos essas canções. Em seguida, eu consegui produzir e saiu esse disco.

Por que o nome 'Sincérico Brásileiro'?
Nesse disco, todos os temas são tocados com a minha sinceridade. Eu resolvi falar o que eu pensava sinceramente, inclusive sobre esse período da pandemia, o pós-pandemia e como a gente deve viver. Quem conseguiu sobreviver tem que viver, ficar feliz, amar as coisas boas, criar e recriar humor. Essa é a minha sinceridade e é isso que estou fazendo.
Qual a canção presente no EP que mais te marcou?
Todas as músicas são maravilhosas até porque eu preferi apostar na diferença das canções. O Brasil é tão grande, têm vários ritmos, tem muita coisa diferente e boa. Nesse primeiro EP, nós lançamos 'A Dama e o Vagabundo' que é o carro chefe e um sucesso entre as pessoas que ouviram o disco. 

O que as pessoas podem esperar desse lançamento? E qual mensagem você quer transmitir?
Uma pluralidade, diversidade de músicas e estilos. Uma música popular brasileira diferente e que talvez já não se faça mais. Talvez eu esteja sanando uma saudade de alguns ritmos e letras, mas tudo bem ritmado e arranjado pelo Rafael dos Anjos, que é um grande diretor, e muito bem tocado por todos os músicos. O público pode esperar um disco bem esperançoso, que traz alegria e satisfaz a vontade de dançar das pessoas. 
Em que momento a música surgiu em sua vida?
Surgiu quando eu era criança. Eu nasci em Salvador, na Senzala do Barro Preto, Curuzu, onde tem o Ilê Aiyê [associação cultural]. Vivi a vida inteira na Fazenda Coutos, um bairro no subúrbio onde a musicalidade é muito forte e se cria ritmos. Salvador é uma cidade onde se dita o ritmo de muitas coisas e durante muito tempo ditou o sucesso do verão. Nasci na cidade onde o Olodum é um bloco que Michael Jackson, Paul Simon e Jimmy Cliff vieram ver. A musicalidade é um espírito que me acompanha desde cedo e por isso, eu fiz essa obra dedicada a arte da música, do teatro e do cinema que sempre me acompanharam a vida inteira e me salvaram diversas vezes. 
Você já realizou grandes trabalhos na TV, apresentou um programa e ainda fez cinema. Atualmente pretende direcionar seu foco no mundo da música?
A música é uma vertente e mais um lado deste prisma. Eu estou focado em tudo. Tenho outros trabalhos que estão por vir, mas a música é mais uma vertente mesmo, mais uma obrigação e responsabilidade que está vindo agora que é cantar bem, compor bem, interpretar bem e seguir uma carreira artística mais robusta.

Infelizmente, ainda não é comum ver homens negros em posições de grande destaque no mundo artístico. Como você explica isso?
A questão racial no mundo artístico é muito séria porque a cultura brasileira, enquanto instituição, ela é bem desrespeitada. Não existe Ministério da Cultura mais. Independente disso, a gente tem um problema muito sério que é a questão financeira. Quando a arte está dando muito dinheiro, geralmente as pessoas não negras é que se beneficiam e elas ficam fortes quando tem uma escassez de financiamento. As pessoas negras têm os lugares subalternos reservados para elas. Você não vem pessoas negras fazendo sucesso no sertanejo. É um ritmo que ganhou o Brasil, até as mulheres brancas conseguiram entrar e as pessoas negras, se entraram, não tiveram tanto sucesso. Isso é curioso, então não é que a gente não consiga fazer, mas existe uma separação, uma diferença... e essa diferença tem cor. 
Você consegue mensurar a representatividade que carrega?
Eu sou uma pessoa que nasci dentro do movimento, sou uma pessoa negra que conhece a realidade do Brasil, acompanho desde cedo a política partidária brasileira, a cultura, a educação e a economia. Eu sei como a gente é carente de representatividade, por todos os lugares que eu passo, eu sei a responsabilidade que eu carrego e eu posso dizer que a gente precisa de mais representatividade. O Brasil tem um percentual grande de negros e nós não estamos em determinados lugares. Eu me entendo como representante do povo, isso as pessoas dizem nas ruas e nas redes sociais, e eu procuro abraçar essa responsabilidade. 
Pretende realizar shows para promover o EP esse ano?
Ainda não iremos fazer show. É um primeiro disco, eu preciso que as pessoas ouçam e gostem para que a gente entre no campo do show, mas nada impede de tocar por aí. Ainda estou pensando. 
Reportagem dos estagiários Luis André Arruda e Letícia Pessôa sob supervisão de Tábata Uchoa
Érico Brás Divulgação
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