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'Não estamos fazendo nada desrespeitoso', revela rainha de bateria da Mangueira sobre desfile

Evelyn Bastos fala sobre a expectativa para o Carnaval, comenta as críticas que o enredo já vem recebendo e muito mais. Confira!

Rio, 22/01/2020, Rainha de Bateria da Mangueira, Evelyn Bastos, foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Rio, 22/01/2020, Rainha de Bateria da Mangueira, Evelyn Bastos, foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia -

Há sete anos à frente da bateria da Mangueira, Evelyn Bastos se orgulha do título. Cria da comunidade, a beldade, de 26 anos, deseja que a agremiação conquiste o título do Carnaval novamente este ano. À coluna, ela fala sobre a expectativa do desfile, adianta detalhes da fantasia, comenta as críticas que o enredo 'A Verdade Vos Fará Livre' já vem recebendo e muito mais!

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Como está a expectativa para o desfile da Mangueira?

A gente está numa expectativa maior pelo fato da escola ter ganhado no ano passado. É uma sensação diferente, porque a gente precisa fazer um desfile além do desfile campeão. Ele precisa ser mais forte, ter algo a mais. E nas minhas visitas ao barracão eu já consigo sentir essa força.  É uma expectativa grande e muito satisfatória. Vamos fazer um grande Carnaval. 

Sempre rola aquele frio na barriga quando você pisa na Sapucaí?

É inevitável, porque a gente sente o enredo, a história que está sendo contada. A sensação é de como se fosse final de Copa do Mundo.

Como é a sua relação com os integrantes da Mangueira?

Eu desfilo na Mangueira há 22 anos e sou Rainha de Bateria há sete. Então, é a relação de uma grande família mesmo. Essa geração com quem estou hoje no Carnaval é uma que veio de criança. Nós crescemos juntos na quadra. É uma relação de continuidade. A Mangueira tem isso: tem a tradição e a valorização dos integrantes. 

A sua fantasia vai representar o que este ano?

Não posso falar muito. Estou me preparando e preparando meu coração, porque é algo que me emociona, me toca... A fantasia terá uma mensagem importante.

Como será sua fantasia? Vai ser mais comportada ou vai mostrar o corpo?

Não venho ousada. Isso é a novidade e é só o que eu posso contar. Já falei até demais (risos). 

O enredo já está sendo criticado, né, Evelyn? Isso de certa forma gera em vocês uma certa preocupação ou frustração? 

Não tem esse sentimento, não. Não nos frustramos em nenhum momento. Nós da Mangueira temos um ambiente muito família. Mas também temos uma questão de fazer do Carnaval uma forma de protesto. A função do Carnaval, inclusive, era essa. O samba surgiu com essa questão do protesto. E as críticas não nos abalam. Pelo contrário, nos traz uma força muito grande, nos dá mais garra. Não estamos fazendo nada de errado ou desrespeitoso. Temos que parar de achar que Jesus é uma propriedade. Ele não é. 

Você tem uma religião? 

Eu sou candomblecista, espírita. Mas eu vou à missa, tenho amigos na igreja evangélica, canto louvores. Eu acho que a fé vai muito além dessas coisas. 

Você já se espelhou em alguma Rainha de Bateria? Qual?

Sempre tiro algo do que eu acho produtivo de todas elas. Cada uma tem algo que mais chama atenção. A gente se espelha em algumas coisas e em outras a gente entende que é uma diferenciação e particularidade daquela Rainha. Minha mãe, Valéria Bastos (que foi Rainha de Bateria da Mangueira na década de 80), sempre foi uma crítica na minha vida. Ela sempre avaliou minhas apresentações e isso sempre me ajudou muito. Aprendi com ela a valorizar as particularidades. Temos muitas Rainhas hoje em dia, mas eu tenho a opinião de que as Rainhas deveriam ser da comunidade. 

Hoje em dia poucas são da comunidade, as outras são pessoas famosas. Você tem algo contra as Rainhas famosas? 

Não tenho nada contra e nem a favor (risos). Me baseio nisso de achar que a Rainha tem que ser da comunidade, porque eu sei a importância desse cargo e acho que ele deve ter uma continuidade. É preciso alimentar o sonho das pessoas da favela, que, pra mim, é o maior ambiente cultural do mundo. 

A Mangueira vem trazendo o tema da favela sempre para os seus desfiles. Você acha importante? 

Claro que todo mundo gosta do glamour. Mas o poder da escola de samba é a essência dela. Quando você entrega seu sangue e seu suor para a escola é diferente. É um movimento. Todas as vezes que a gente traz no enredo a valorização para essas comunidades, a gente traz mais força para ela. Nós somos um povo muito resistente. 

Tem algum ritual antes de entrar na Avenida?

Eu tenho uma questão religiosa. Eu tento sempre colocar minha fé na frente. Faço minha oração, recarrego minha energia, me coloco mais perto de Deus...

Tem um momento mais difícil de enfrentar na Sapucaí? E o mais prazeroso?

Eu passei por um momento difícil em 2015, quando a Mangueira desfilou embaixo de uma chuva muito forte. Eu fiquei muito abalada de ver o desenvolvimento do enredo, o desfile esteticamente, as penas completamente encharcadas. O momento mais prazeroso é o do final. Quando você vê que tudo aconteceu de forma linda, correta. 

O Carnaval te emociona, Evelyn?

Ele não só me emociona. Ele tem uma magia. Não é só por ser uma festa, mas é por contar uma história. 

Você faz algum treinamento especial para o Carnaval?

Meus treinos são anuais. Eu gosto de treinar, de fazer exercício físico. A dieta é mais complicado (risos). Mas eu não me cobro muito. A questão de 'ser mulher bonita' vai além da estética.

Como você lida com o assédio masculino no meio do samba?

Eu nunca sofri nada disso. 

E como está o coração?

Eu estou noiva (do presidente da câmara do vereadores de Guaratinguetá, Marcelo Coutinho). O casamento deve sair esse ano ainda. Mas estou mais focada no Carnaval, por enquanto. 

 

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Evelyn Bastos é a Rainha de bateria da Mangueira LEO QUEIROZ/ DIVULGAÇÃO
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