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'AINDA TENHO MUITO O QUE FAZER'

Do alto dos seus 80 anos, Martinho da Vila lança Bandeira da Fé, seu 48º álbum, com participação de Mart'nália, filha do cantor, e da jornalista Gloria Maria. À coluna, o sambista fala sobre o CD novo, diz que costuma ouvir rap e conta se esse é seu último disco. Confira a entrevista!

Martinho da Vila
Martinho da Vila -

Com oito décadas de vida muito bem vividas e mais de 50 anos de carreira, você chega ao seu 48º álbum, "Bandeira da Fé". Esse é seu último CD oficial?

Ainda tenho muito o que fazer. Quem não tem o que fazer já pode até morrer (risos). Tudo hoje é digital, a minha ideia era fazer uma música ou duas, gravar e colocar nas redes sociais. Porque é por aí que as coisas estão acontecendo. Mas a Sony Music (gravadora) falou: 'Martinho, faz o disco! 80 anos tem que ter o disco'. Aí eu falei: 'Oba! Então vamos fazer!'.

De onde surgiu a ideia de relançar e atualizar a música "Bandeira da Fé", que dá nome ao álbum?

Essa música fiz com o Zé Catimba, um parceiro antigo. Quem lançou primeiro foi o Agepê, há muito tempo atrás. Eu nunca tinha gravado. Agora, eu achei que está num momento da gente lançar essa música, porque estamos precisando muito acreditar nas coisas. Porque tem uma descrença geral, ninguém acredita em nada.

A música "Bandeira da Fé" é bem pra cima e fala sobre a união das pessoas. Essa é a mensagem que você quer passar para quem está ouvindo?

Exatamente. Esse é o caminho contra a raiva. Temos que cantar, sambar, amar e curtir.

A sua filha Mart'nália participa da música "A Tal Brisa da Manhã". Como é essa parceria de vocês?

A gente é quase que uma coisa só. Quem vai ver o show da Martn'ália me vê no palco. Eu já gravei no disco dela algumas vezes. Então, ela gravou no meu também. Ficou legal.

O rapper Rappin' Hood participa da música "O Sonho Continua". Você curte rap?

Costumo ouvir rap, gosto muito. Gosto do Gabriel O Pensador, Marcelo D2, Emicida, Criolo. Essa música era pra um disco do Rappin' Hood, que ele ia gravar há mais de um ano, mas ele não gravou. Eu falei: 'Rapin' Hood, queria gravar aquela música!'. E ele disse: 'Então, vamos gravar, Martinho!'.

Você sempre cantou sobre as mulheres e, neste novo álbum, a música "Ser Mulher" tem a participação da Gloria Maria em alguns versos. Como surgiu a ideia de fazer esse convite para ela?

Eu fiquei pensando em como a mulher se vê hoje em dia. Fiz essa poesia que misturei com música e virou "Ser Mulher". Depois, eu fui procurar uma mulher para falar alguns versos. E a Gloria Maria se encaixa muito bem nisso. Eu mostrei pra ela e ela gostou da ideia. Aí convidei a Gloria para gravar comigo. Ela ficou feliz da vida e eu também.

Você tem a sua casa na Barra da Tijuca e um sítio em Duas Barras, sua cidade natal. Você sentia falta desse retorno às origens, de ter um ambiente mais tranquilo para descansar e compor?

Duas Barras é o melhor lugar do mundo pra mim. Eu moro lá e moro na Barra da Tijuca também. Eu me divido. Quando eu passo um tempo sem ir pra Duas Barras, eu já sinto falta. Aí eu vou pra lá e curto muito, não quero nem voltar. Quando eu volto de Duas Barras para o Rio, eu acho tudo bonito, tudo bom, fico rindo de qualquer coisa.

Você surpreendeu muita gente quando foi visto nas salas de aula, cursando a faculdade de Relações Internacionais. Você conseguiu dar seguimento com o curso ou precisou fazer uma pausa?

O curso é de quatro anos. Eu cursei três anos presenciais e parei, porque o quarto ano é mais para quem quer fazer monografia. Isso não é meu caso. Eu fui para adquirir mais conhecimento. O motivo não era formação, porque eu já tenho até o título de doutor honoris causa (título de honra concedido para figuras relevantes da sociedade).

Você sempre incentivou seus filhos e netos a investirem na música?

Isso foi tudo acontecendo naturalmente. Na minha vida, tudo vai assim, devagar (risos). Eles são muito talentosos. O Tunico da Vila gravou comigo na música "Baixou na Avenida", Martn'ália participa de "A Tal Brisa da Manhã", a Juju canta e é coautora de "O Sonho Continua". É tudo na boa, eu gosto muito de ter sempre uns filhos por perto.

Você pretende desfilar na Sapucaí pela Vila Isabel no Carnaval do ano que vem?

Eu pretendo ficar mais quietinho, descansando. Mas estando aqui pelo Rio, eu estou lá no desfile, com certeza. Eu gosto muito de desfilar pela Vila.