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Velório de dono de bar tem cerveja e roda de samba

Dono do Bip Bip, Alfredinho morreu no sábado de Carnaval

O corpo de Alfredinho foi velado no bar. Teve cerveja, música e muitas recordações de frequentadores do local
O corpo de Alfredinho foi velado no bar. Teve cerveja, música e muitas recordações de frequentadores do local -

Rio - Teve tristeza. Mas também teve muita alegria e até uma roda de samba na despedida de Alfredo Jacinto Melo, velado ontem no bar Bip Bip, em Copacabana. Dono do tradicional boteco da Zona Sul do Rio, Alfredinho, como era conhecido pelos frequentadores do local, morreu aos 75 anos no sábado de Carnaval enquanto dormia na sua residência, no mesmo bairro. Até a retirada do corpo do imóvel onde morava teve um fato inusitado. Depois de um velório improvisado no local, regado a cerveja e amendoim, um grupo de cinco amigos ficou por mais de uma hora preso no elevador, que enguiçou. Detalhe: o corpo de Alfredinho também estava por lá.

Na chegada à rua Almirante Gonçalves, endereço do bar, já era possível ouvir um coro de gente cantando na roda de samba. Havia, no local, pessoas de todos os perfis e idades. Muitas delas estavam fantasiadas, como se estivessem em um bloco de Carnaval. Na verdade, estavam celebrando a história de um bar que ficou nas suas memórias. "Era a cara dele, bem democrático", comentava um amigo que estava na fila formada em frente ao bar para a despedida do folclórico personagem da boemia carioca.

Reconhecido pela militância a favor da arte popular, a despedida do carioca foi ao som de sambas de raiz e marchinhas tradicionais. A aposentada Maria das Graças Cruz, 70 anos, veio de Botafogo e acompanhava a despedida do lado de fora. "O Alfredinho deixa um legado de resistência. Mas, acima de tudo, de esperança". "Ele ajudava o povo de rua. Ele amava isso aqui", relembra Eraldo Melo, proprietário de uma agência de turismo ao lado do bar.

Um coroa de flores podia ser vista na entrada do bar junto ao corpo, em nome do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, da deputada Gleisi Hoffmann e do PT. A despedida de Alfredinho também contou com a participação de políticos de esquerda, como Marcelo Freixo, Chico Alencar (PSOL) e Jandira Feghali (PCdoB). "As histórias inusitadas dele contam um Rio que não queremos perder. Ele era de esquerda, sim, sonhou com um mundo melhor até o último dia da vida dele. Podem colocar outra pessoa sentada ali, dando esporro, mandando ir pra outro bar se não estiver satisfeito. Mas ninguém será como o Alfredinho. Ele era um símbolo de amor", relembra Freixo.

A atriz Chandelly Braz e o namorado, o também ator, Humberto Carrão, recordavam o legado do dono do Bip Bip. "Um lugar de encontros, de troca de ideias. Tem que continuar sendo assim. Mas ele vai fazer muita falta", diz Carrão. "Ele era um defensor da cultura. O Bip Bip é um lugar de entendimento de pertencimento das pessoas nesta cidade", comenta Chandelly.

Moradora do bairro, Adriana Malan Szechir fez um relato nas redes sociais da importância do bar na sua vida. "Fiz tantos bons amigos ali! Conheci tanta coisa, tanta gente, tanta canção que não sabia. Lugarzinho mágico! Fica um buraco no lugar do Bip. Mas eu vou pensar que os deuses do samba estavam sentindo a falta dele".

O corpo de Alfredinho foi velado no bar. Teve cerveja, música e muitas recordações de frequentadores do local FOTOS Reginaldo Pimenta/ AGÊNCIA O DIA
Rio de Janeiro - RJ - 04/03/2019 - Velorio - Velorio de Alfredinho Bip Bip, o velorio acontece no Bar Bip Bip, na Rua Almirante Gonçalves, em Copacabana, zona sul do Rio- Foto Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia Reginaldo Pimenta