Jean Wyllys: a �tica de Laerte Bessa

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Rio - A representação que a "bancada da bala" fez contra mim no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, pedindo a cassação do meu mandato, é um absurdo, um insulto à democracia. O assinante do pedido é o deputado Laerte Bessa, condenado em dezembro passado por improbidade administrativa pela 5ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do DF, e a acusação que ele faz contra mim não tem nada a ver com a minha ética.

Bessa, também condenado pela 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do DF, em processo por injúrias movido pelo governador Rollemberg, apresentou uma peça ridícula de duas laudas, na qual me acusa de 'crime de perversão sexual' (sic), tipo penal inexistente na legislação brasileira! Se a representação tivesse sido movida no Irã ou na Arábia Saudita, até que faria sentido. Lá, sob regimes ditatoriais e fundamentalistas, eu seria mesmo considerado um criminoso por ser homossexual. Mas aqui, no Brasil, a lei não proíbe nenhum tipo de relação sexual consentida entre adultos. A minha sexualidade faz parte da minha vida privada e não tem nada a ver com a ética e o decoro parlamentar.

Por incrível que pareça, a acusação de Bessa é por uma resposta que eu dei, em tom de brincadeira, à jornalista Leda Nagle, numa entrevista. Ela me perguntou, com humor, o que eu faria se soubesse que o mundo acabaria amanhã, e eu respondi que consumiria drogas e transaria com todo o mundo. É uma piada que ela faz com todos os entrevistados. Além de "perversão sexual", Bessa também me acusa de apologia ao consumo de drogas, outra acusação absurda.

É importante esclarecer que minha resposta à jornalista está coberta não apenas pela imunidade parlamentar, como também pelo direto à livre expressão que todo cidadão tem.

Na verdade, a representação de Bessa também denunciado por apologia à tortura e incitação à violência é uma improvisada retaliação contra o Psol, porque nós denunciamos seu colega da "bancada da bala" Alberto Fraga, nesse caso sim, por crimes gravíssimos: ele caluniou Marielle Franco depois do seu brutal assassinato, fez acusações falsas e criminosas contra ela. Horas depois de a bancada do Psol ter representado contra Fraga no Conselho por esse motivo, a facção decidiu retaliar com essa representação absurda contra mim.

Muito me orgulha que, num Congresso com tantos processados, investigados e condenados por desvio de dinheiro público, corrupção e lavagem de dinheiro, a coisa mais grave que meus inimigos possam dizer a meu respeito é que defendo a legalização das drogas para uso recreativo e medicinal... e que eu transo. Sim, eu transo, e isso não é crime. Não no Brasil, felizmente. Aqui não é o Irã e nem a Arábia Saudita!

Não podem me acusar por nenhum desvio ético, porque sou honesto, material e intelectualmente, então me acusam por falar livremente sobre a minha sexualidade numa entrevista. E não é por acaso que tenham escolhido essa absurda acusação, que diz mais sobre eles que sobre mim. O que realmente incomoda a eles é a minha sexualidade, o fato de eu ser homossexual assumido e orgulhoso e representar 145 mil cidadãos e cidadãs que votaram em mim.

Mas eles não vão me calar, não vão nos calar. Homofóbicos, racistas, machistas, fascistas não passarão!

Jean Wyllys é deputado federal pelo Psol-RJ

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Lu�s Pimentel, colunista do DIA Divulga��o
Jean Wyllys O Dia

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