'O favelado é muito feliz', diz MC Cabelinho ao relembrar infância

Nascido e criado no complexo de favelas Pavão-Pavãozinho e Cantagalo (PPG), na Zona Sul do Rio, MC Cabelinho relembra sua infância e adolescência no local. "Lembro de coisas boas e ruins, no beco, nas ruas crescendo com os crias. Mas, ao mesmo tempo, vendo muitos se perdendo pro crime ou morrendo. Quando tu cresce na favela, você vê tudo de perto. Eu perdi o DG, na época, ele trabalhava no Esquenta e isso foi muito impactante pra mim. Morar em favela é ver o bem e o mau de perto."

Morando hoje entre o Largo do Machado e Laranjeiras, o funkeiro dos hits Maré e Favela, entre outros, está sempre no PPG. "Tenho muitos amigos e família no morro e sempre que posso tô indo visitar a rapaziada. Amo aquele lugar! Vou levar comigo sempre!", comenta ele, que reflete sobre os aspectos positivos e negativos da comunidade. "A dor é a marginalidade. E não falo só do tráfico, falo da vida marginal que a sociedade e o governo colocam quem mora lá. Excluindo a gente e dando poucas ou nenhuma oportunidade. Mas a parte boa.. aí são várias. Nada paga tu saber que no teu beco moram vários menores que cresceram contigo ou tu sair e conhecer geral que mora ali. Muito bom também a molecada solta na rua, correndo, brincando de várias coisas... Favela é festa, né? Apesar de todos os problemas, o favelado é muito feliz."

A cada morte em comunidade, MC Cabelinho diz se colocar no lugar, principalmente, quando a vítima é jovem. "Claro! Não tem como não imaginar que poderia ter sido eu ou um dos meus amigos. A favela tem tanta coisa boa, tantos talentos e a mídia mostra muito mais a realidade ruim, a polícia só entra pra matar e ferir inocente. Fico muito triste com isso."

Ele revela o que espera dos governantes. "Espero respeito. Se o governo e a galera do asfalto olhassem pros morros com empatia, muita coisa ia mudar. Mas a galera só olha de cima pra baixo, vendo a galera da favela como inferior. Sem respeito eles não vão providenciar a água de qualidade pra morador beber e fazer comida, eles não vão pensar que favelado também consome cultura, vai a shows, curte um cineminha."