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'A Vila Aliança é meu país', diz Franklin, da ONG Craques da Vida

Colunista convidado do caderno 'Alô, Comunidade' tem projeto de futebol para jovens da Vila Aliança

Franklin, do Craques da Vida, projeto na Vila Aliança
Franklin, do Craques da Vida, projeto na Vila Aliança -
Meu nome é Franklin Ferreira, o Franklin do Futebol. Sou presidente da ONG Craques da Vida, que atua na nossa favela há 23 anos. Sou nascido e criado na Vila Aliança, comunidade que tem 56 anos de existência. Meu avô foi o primeiro barbeiro daqui. Aí está essa minha origem, essa identidade que eu carrego com a comundiade que eu amo, e que procuro trazer oportunidades. através do futebol para jovens e adolescentes.
Morei 35 anos na Vila Aliança. Hoje moro na Estrada do Engenho, que corta a Vila. Estou pertinho, todos os dias nela. Minha infância foi muito sonhadora. Sempre fui um menino que já pensava em um pouco à frente dos meus amigos da época. Apaixonado por futebol desde os seis anos de idade, eu era gordinho, então era sempre escolhido pra agarrar, e ia bem. Aprendi a agarrar e passei a ser o primeiro a ser escolhido. Era uma forma de me expressar e ser respeitado durante a infância. Colecionava álbuns de figurinhas, sabia onde jogava cada um dos atletas. As seleções eu sabia de cor e salteado. O futebol sempre fez parte da minha vida. Aquelas fotos tradicionais da infância, a minha é com uma bola de futebol. Eu não sabia o que significaria na minha vida uma bola de futebol. Ela significou transformação.
Franklin, ONG Craques da Vida - ARQUIVO PESSOAL
A minha paixão por futebol surgiu em 1986 quando meu pai quase teve um infarto vendo França e Brasil, quando Zico perdeu o pênalti. Ali eu falei: 'pai, vou te dar alegrias com o futebol'. Pensava que seria jogador. Mal sabia eu que era perna de pau, mas um perna de pau que lutou até o último minuto. 
Em 1998 eu criei o projeto Craques da Vida. A gente tinha apoio escolar, futebol, street dance. Mas em 2007 acontece uma catástrofe: meus amigos foram assassinados a facadas no Rio. Eu fiquei traumatizado com o assassinato, mas em 2011 eu retorno para o projeto. Começamos a jogar várias competições no Brasil e no Rio. Copa Coca-Cola, Taça das Favelas, Copa Zico. Como não tinha naquela época ajuda - não tenho até hoje -, voltei só com o futebol. Assim foi nossa trajetória.
A minha inquietude em montar um projeto social é que eu achava que eu conseguia mudar o mundo. Achava que o mundo era só uma bola de futebol. Não posso mudar o mundo, mas poderia mudar a Vila Aliança. Tento deixar um legado, como meu avô deixou sendo o primeiro barbeiro da favela. Ele ajudava aqueles que não tinham condições de pagar. Eu quero devolver a minha comunidade tudo que eu tive. Os estudos que eu tive nunca paguei nada. É um capital social, um retorno. Meu jargão é que podemos perder um jogo no campo, mas na vida sempre seremos campeões. A Vila Aliança é meu país.
Franklin, do Craques da Vida, projeto na Vila Aliança ARQUIVO PESSOAL
Franklin, ONG Craques da Vida ARQUIVO PESSOAL
Franklin, ONG Craques da Vida ARQUIVO PESSOAL

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