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ONGs vão aonde o poder público não chega

Colunista convidada da semana, artesã Camilla Barcelos fala da importância da Favela Mundo na vida de crianças, jovens e adultos das comunidades

Camilla Barcelos é artesã, professora e produtora da ONG Favela Mundo
Camilla Barcelos é artesã, professora e produtora da ONG Favela Mundo -
Sou Camilla Barcelos, artesã, professora e produtora da ONG Favela Mundo. Ex-moradora do Morro do Timbau, no Complexo da Maré, hoje resido em Belford Roxo. Como moradora de comunidade, sempre tive muita dificuldade de acessar produtos e serviços que para muita gente parecem simples e fazem parte do cotidiano.
Ter acesso à educação e saúde de qualidade, como todos sabem, é um luxo e na comunidade a situação é ainda pior. Mas não para por aí!
Nosso futuro não oferece muitas opções. Sempre corri atrás e trabalhei com tudo que se possa imaginar. Me encontrei no artesanato e ele é que paga as despesas de minha família. Aprendi tudo sozinha, mas sei que essa noção de empreendedorismo precisa ser ensinada.
A Favela Mundo já capacitou mais de 1.800 pessoas - Favela Mundo / Divulgação
Somos educados para servir, para não evoluir, para repetir o que nossos pais e avós fizeram. Somos educados para saber até onde podemos ir e, normalmente, não é muito além dos limites de nossa comunidade.

Poucos conseguem romper essa barreira, poucos conseguem ingressar no mundo que deveria ser de todos. Poucos conseguem perceber que o Rio de Janeiro também pode ser seu. E se as instituições públicas não conseguem nos mostrar isso, quem faz esse importante papel são as ONGs.
Foi na Favela Mundo que cresci profissionalmente. Foi ali que reconheceram meu trabalho, mostraram que tinha valor e hoje eu capacito cerca de 100 pessoas por ano. Mas o trabalho da Favela Mundo vai para outros setores e áreas.
Seis mil crianças e jovens já estudaram na Favela Mundo - Favela Mundo / Divulgação
Enquanto mais de 6 mil crianças e jovens já estudaram com a gente, em aulas de teatro, música e dança no contraturno escolar (redescobrindo o valor, a importância e a vontade de estudar através da arte), os pais, mães e adultos das comunidades aprendem uma nova profissão.
A Favela Mundo já capacitou mais de 1.800 pessoas em maquiagem, tranças e turbantes, fantasias e adereços e decoração de unhas. As ONGs estão devolvendo a dignidade a nós moradores de comunidades. Estão mostrando que podemos ser reconhecidos e respeitados com nosso trabalho.

Hoje, moro na Baixada e, se no Rio a coisa está difícil para quem busca profissionalização e maiores chances de crescer na vida, imaginem como é por aqui. Sinto falta de mais projetos sociais, de atividades para que crianças e jovens possam fazer e no futuro terem escolhas diversas.
Camilla é professora na ONG - Favela Mundo / Divulgação
Ao longo desses últimos sete anos que estou na Favela Mundo, vi vidas serem transformadas, pessoas ganhando autoconfiança, se redescobrindo, se reinventando e ganhando o valor que todos nós sabemos que temos, mas o mundo faz com que a gente esqueça e acredite que não somos nada, que não chegaremos a lugar nenhum.
Onde o poder público não chega, o papel de ONGs como a Favela Mundo é fundamental para o crescimento de nossa população, para o empreendedorismo e para a economia.
* O texto é de responsabilidade do autor.
Camilla Barcelos é artesã, professora e produtora da ONG Favela Mundo Favela Mundo / Divulgação
Seis mil crianças e jovens já estudaram na Favela Mundo Favela Mundo / Divulgação
Artesã fala do trabalho desenvolvido pela ONG CACAU FERNANDES/RJ-21-988387921
Camila é professora de artesanato CACAU FERNANDES/RJ-21-988387921
A Favela Mundo já capacitou mais de 1.800 pessoas Favela Mundo / Divulgação
Camilla é professora na ONG Favela Mundo / Divulgação
Atualmente, professora mora em Belford Roxo Favela Mundo / Divulgação
.Artesão já morou no Complexo da Maré Favela Mundo / Divulgação

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