Buscapé em 'Cidade de Deus', Alexandre Rodrigues se prepara para voltar à TV em "Aruanas"

Impossível falar dos quase 20 anos de Cidade de Deus sem mencionar as aventuras de Buscapé, protagonista-narrador do filme, que encontrou ferramentas para não ser fisgado pelo crime, apesar do ambiente violento em que cresceu. Ah, se todos fossem Buscapé! Realidade que Alexandre Rodrigues, ator que deu vida ao personagem, conhece de perto.

Nascido em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, ele mudou, aos 5 anos, para o Cantagalo e, logo depois, morou no Vidigal, ambas favelas da Zona Sul. O filme, claro, foi a grande virada da sua vida. "O início de uma vida de sonhos realizados, vitórias, mas alguns fracassos. A vida é como um eletrocardiograma: cheia de altos e baixos. Não pode ser linha reta, senão é o fim", reflete, contabilizando filmes e mais de 15 novelas no currículo — a última foi O Outro Lado do Paraíso, da Globo. 

E, assim como o menino Buscapé, que viu na fotografia uma fuga da dura realidade onde foi criado, Alexandre apostou no poder das artes, sua grande paixão, para um novo caminho. Mas também teve um empurrão dos puxões de orelha da mãe, Rosângela.

"Dores sempre tivemos e teremos independente de onde moramos. Mas perdi amigos de infância para o tráfico, alguns se encontram presos... brincamos na mesma viela, mas não conseguiram ver que o mundo é maior que a comunidade. Minha mãe sempre me tirou dessa realidade com conselhos e também com alguns tapas quando necessário (risos). Ela veio da rua, mas sempre teve uma visão superior. Me criou pra ser independente, trabalhador e de bom caráter", conta.

Vivendo o apogeu do Funk Brasil, lá pelos anos 1990, os bailes de favela estavam na lista de diversões de Alê, mesmo com a desaprovação da família. "Minha mãe não me deixava ir. Eu era doido pela Furacão 2000. Fui muito cedo trabalhar com meu pai: então, quando não tinha aula, estava com ele, com ela ou em cursos. Ela (a mãe) sempre me impulsionou para frente e para longe das más companhias", lembra o ator de 38 anos, pai de João Pedro, de 13.

De voltas às telinhas!

Não é à toa que, após tantas ocupações, Alexandre focou na carreira de ator e hoje valida projetos sociais para uma nova consciência e juventude. "Acredito e sou resultado disso. Sou formado em diversos cursos da prefeitura. As oportunidades estão a nossa volta, basta ver e ter vontade para fazer".

E o resultado? Coragem para seguir em frente! Assim como a maioria dos brasileiros, Alexandre vai se virando como pode. Com o fim da última novela, o ator se reinventou e atacou de motorista de Uber. Águas passadas, já que, agora, prepara-se para a segunda temporada de Aruanas, da GloboPlay, e dois longas: Abestalhados 2 e O Morto no Pântano. "Minha carreira está fluindo! Estou gravando a série e, ano passado, rodeis os filmes", adianta ele, que vive em São Paulo.

Da temporada ao volante ficaram lembranças curiosas. "Era muito conhecido pelos passageiros! Alguns achavam que estavam num programa de TV, ficavam procurando as câmeras no carro", diverte-se.

De volta a televisão!