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Preparando álbum de inéditas, TZ da Coronel fala sobre origem na favela: 'As oportunidades eram pequenas'

Cria do Morro do Limão, em Cabo Frio, cantor é um dos maiores nomes do trap nacional e tem mais de 1 milhão de seguidores no Instagram

TZ da Coronel é um dos maiores nomes do trap no Brasil
TZ da Coronel é um dos maiores nomes do trap no Brasil -
Em poucos anos, Matheus Santos viu sua vida mudar completamente. Cria do Morro do Limão, em Cabo Frio, na Região dos Lagos, TZ da Coronel saiu das batalhas de rima e emplacou hits que viraram sucesso em todo o Brasil. Hoje, com apenas 20 anos, o jovem relembra a sua origem na favela e fala sobre seus planos para a carreira, prometendo um álbum de músicas inéditas em breve.  

De cara, o artista explicou a origem de seu nome artístico, que veio da abreviação do apelido Matheuzinho, que com o tempo acabou virando apenas TZ, vulgo que acabou sendo completado com o local onde ele morava. Matheus contou também, que apesar de não ter nascido em Cabo Frio, foi morar lá logo cedo.

"Coronel era o nome da rua onde eu morava lá no Morro do Limão. Quando precisei escolher meu nome artístico, um amigo sugeriu que eu colocasse assim e eu gostei. Eu nasci bem longe de lá, mas fui morar em Cabo Frio antes de fazer 1 ano de idade, eu tinha alguns meses. Saí de lá no finalzinho de 2020, um pouco antes de me tornar conhecido nacionalmente", explicou.

O cantor compartilhou alguns detalhes de sua infância no Morro do Limão, explicando que atualmente a comunidade está mais perigosa do que antigamente.

"Era maneiro! Uma infância normal. Soltava pipa, jogava bola, apertava a campainha dos outros e saía correndo, caía da árvore… Percebo que a molecada que cresce hoje lá não faz mais isso. A comunidade está perigosa. Minha família continua morando no Morro do Limão e, sempre que posso, fico uns dias com eles e com meus amigos que ainda moram lá", disse ele, que atualmente mora no Recreio, na Zona Oeste do Rio.
TZ da Coronel é cria do Morro do Limão, em Cabo Frio - Foto: Padrin / Divulgação
Sobre as principais dificuldades que enfrentou por crescer na favela, TZ da Coronel foi direito e reto.

"A maior dificuldade sempre foi a opressão da polícia em cima dos moradores. Você não podia ficar na lama, marcando, os caras paravam toda hora. Se pegasse alguém sozinho na madrugada, também, já sabe. Era pesadão. As oportunidades eram pequenas para as pessoas de lá. Era muita gente e pouco trabalho. Lá em casa éramos eu, dois irmãos, minha mãe e meu padrasto. Sou o filho mais velho e me sinto responsável por eles. Meu irmão mais novo tem 10 anos e sempre está comigo quando pode", contou.

Apesar de todo o sucesso, o jovem artista ainda está no início de carreira. O trapper contou como foi o seu primeiro contato com a música, algo que mudou para sempre a sua trajetória.

"Foi em 2017 que eu comecei na batalha de rima com 16 anos. Na época essa batalha virou moda e geral ouvia. Nós fazíamos a batalha lá perto de onde eu morava, íamos rimando e postando no Facebook. A batalha ficou famosona. Em pouquíssimo tempo o local das batalhas estava lotado e eu, que sou tímido, ficava cheio de vergonha! Nessa época eu mudei de escola e coloquei meu vulgo (nome artístico) na camiseta do colégio. Daí conheci um menor que perguntou: "Você é MC?" Daí eu falei que era e ele me chamou para o lugar de um menino do grupo dele que tinha desistido de cantar. Comecei e não parei mais. Só tenho a agradecer por esse convite. Tô felizão até hoje! Pena que essas batalhas estavam no Facebook e hoje é difícil de achar", contou ele, que antes de entrar no mundo da música, tinha um sonho comum a muitos garotos:

"Eu queria ser jogador de futebol. Mas jogador de futebol é muito difícil, papo reto. A música pra mim sempre foi mais fácil. Mas eu jogava bem, sagaz! Sério, jogava em qualquer posição. Atacante, meio de campo... Mas sempre gostei mais de jogar na quadra, jogar no campo eu não sou muito fã, não. Meu time? Flamengo, claro!", disse ele, rindo.

TZ também comentou sobre os impactos que a vivência no Morro do Limão teve em sua forma de fazer arte, contando que saiu do local com a finalidade de dar uma vida melhor para quem ele ama.

"Influenciou em várias coisas. Modo de viver, como suportar as dificuldades. Me ajudou, principalmente, a saber o que não fazer. Se não fosse minha infância lá eu não teria feito a principal escolha na minha vida, a música. Eu escolhi a música para sair de lá e poder dar uma vida melhor pra todo mundo que eu amo."

Com hits como "Trajado de Glock Ela Joga Na Cara", "Anota Placa", "Animais Traidores - part. VEGA" e "Corte do Jaca", TZ vem transitando entre funk, rap e o trap. O artista explicou que apesar de não se ver preso a um gênero, tem a sua preferência.

"Eu acho que eu sou tudo isso junto, mas o meu foco principal é o trap. É natural esse ritmo pra mim. Acho que é pela minha vivência mesmo, a favela acaba ficando no subconsciente. Nós misturamos tudo e sai um trap. Meus fãs curtem essa mistura. Mas agora eles querem música nova, sempre. E já estou trabalhando no meu primeiro álbum de estúdio", disse o artista.
TZ da Coronel é o dono dos hits "Trajado de Glock Ela Joga Na Cara" e "Anota Placa" - Foto: Lucas Nogueira / Divulgação
Com 1,3 milhão de seguidores no Instagram, TZ da Coronel tem fãs espalhados por todo o país. O trapper contou que ainda está aprendendo a lidar com a fama.

"Às vezes, é difícil! Não estou muito acostumado com essa vida. Na verdade, agora já está ficando suave. Agora já dá pra levar mais fácil. Eu acho normal quando me reconhecem na rua, não tenho problema com esse assédio, tiro foto na boa", contou ele, relatando algumas experiências engraçadas com fãs.

"Tem fã que faz umas paradas sinistras. Tem uma em show aleatório, mas é um show muito longe. Ela fica no cantinho do palco esperando o show acabar. Quando a gente está saindo ela chega só pra pedir para eu gravar um vídeo pro menino que ela gosta. E o show longe pacas", disse ele, aos risos.

Ainda sobre o seu sucesso, o cantor ressaltou a importância das redes sociais, incluindo o TikTok, que ajudou a popularizar alguns de seus hits.

"As redes sociais são tudo para mim e para muitos artistas. Elas são a principal ferramenta de comunicação com os fãs e ajudam demais no nosso crescimento. Tipo assim, eu não gosto muito de ficar postando as coisas direto não. Mas tenho que postar. É o que eles (fãs) esperam do TZ."

No trecho de "Anota Placa", o cantor diz: "Eu só acredito no sorriso das crianças". TZ diz que tenta inspirar outros jovens que assim como ele, cresceram em comunidade.

"Eu acredito que a minha música sirva de inspiração para esses meninos, sim. Assim como eu sonhei e realizei meus sonhos um dia eles também podem. O importante é não desistir e manter a fé em Deus."
TZ da Coronel diz que tenta inspirar outros jovens que assim como ele, cresceram em comunidade - Foto: Allan França / Divulgação
Quando começou a ganhar destaque na cena musical, TZ acabou se envolvendo em uma polêmica com a Purple Rain, sua antiga gravadora. Na época, o trapper chegou a acusar a empresa de hackear suas redes sociais e desativar sua conta no YouTube. Por conta desses problemas, o cantor tomou uma decisão.

"Atualmente eu estou sozinho. Agora eu sou um artista independente e tenho pessoas que somam comigo. Tenho o meu time. Mas sobre a minha antiga gravadora, o que passou, passou. Vamos para frente. Só quero saber daqui pra frente! Tenho muita música nova para lançar."

No mês passado, TZ participou do REP FESTIVAL, maior festival de rap do país. O cantor falou sobre o sentimento de estar sendo reconhecido com um dos maiores nomes da cena.

"Gratificante. É o reconhecimento do meu trabalho, de todo o esforço é o resultado, também. Só tenho a agradecer mesmo."
TZ da Coronel participou do REP FESTIVAL no em fevereiro - Foto: Lucas Nogueira / Divulgação
Ao falar sobre seus sonhos, TZ da Coronel contou que o maior deles é fazer carreira internacional. O artista contou que inclusive está se preparando para isso.

Na verdade, meu maior sonho é a carreira internacional. Já estou até começando a fazer aula de inglês. Também sonho em cantar no Rock in Rio. Imagina o trap no palco do Rock In Rio? Aí eu zero o game!"

Por fim, TZ prometeu um álbum de músicas inéditas em breve, e uma delas se chamará "Mão na Gola".

"Nesse ano de 2022 eu estou preparando um álbum para os meus fãs, só "caixa pura", pode esperar que esse ano vem! Vai sair quando menos vocês esperarem. Só música inédita", disse ele, que completará 21 anos em julho, e já antecipou que terá festa.  

"Esse ano completo 21 e quero comemorar ao lado dos meus amigos e minha família. Ano passado, teve comemoração aqui no Recreio, mas esse ano eu quero festão! Se ano passado saiu na mídia, imagina esse ano?", finalizou.
TZ da Coronel é um dos maiores nomes do trap no Brasil Lucas Nogueira / Divulgação
TZ da Coronel é cria do Morro do Limão, em Cabo Frio Padrin / Divulgação
TZ da Coronel falou sobre a opressão da polícia com moradores de favela Foto: Padrin / Divulgação
TZ da Coronel é o dono dos hits "Trajado de Glock Ela Joga Na Cara" e "Anota Placa" Lucas Nogueira / Divulgação
TZ da Coronel participou do REP FESTIVAL no em fevereiro Foto: Lucas Nogueira / Divulgação
TZ da Coronel tem mais de 1 milhão de seguidores no Instagram Foto: Lucas Nogueira / Divulgação
TZ da Coronel diz que tenta inspirar outros jovens que assim como ele, cresceram em comunidade Foto: Allan França / Divulgação

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