Lee Taylor fala sobre machismo de personagem em 'A Dona do Pedaço'

Ele descobriu uma traição às vésperas do casamento, desmascarou a noiva no altar e, mesmo assim, ainda não esqueceu a ex. Lee Taylor, intérprete de Camilo, em A Dona do Pedaço, reconhece a gravidade das atitudes do seu personagem e conta que, na vida real, faria bem diferente. “Jamais iria expor alguém e a mim mesmo daquele modo”, afirma o ator, que vê na trama do personagem uma forma de gerar reflexão sobre o machismo na sociedade.

“Considero a atitude do Camilo desprezível, totalmente equivocada e desnecessária. Infelizmente compreendo que é uma escolha possível para alguém inserido naquelas condições e tentei expressar com o mínimo de humanidade”, destaca. O romance de Vivi Guedes (Paolla Oliveira) com Chiclete (Sergio Guizé) decolou de vez após a influenciadora digital ser largada por Camilo, e o novo casal já conquistou uma legião de apoiadores. Lee, no entanto, garante que existem mais semelhanças do que diferenças entre os dois personagens.

“Chiclete tem se revelado tão agressivo e machista quanto Camilo”, analisa o ator, que revela que a falta de empatia do público com o inspetor policial foi propositalmente criada pelo autor da trama, Walcyr Carrasco. “Na maioria das cenas entre Camilo e Vivi, ele estava censurando o comportamento dela e criticando suas escolhas. Não houve nenhuma cena romântica entre os dois. Não foi construído um laço afetivo forte, justamente para que o encontro entre Vivi e Chiclete fosse desejado e comemorado”, explica. A cena em que Camilo expõe a traição de Vivi bateu recordes de audiência, e Lee ressalta o enorme assédio do público que vem recebendo por conta da repercussão da novela das 21h.

Apesar do comportamento problemático de Camilo, o ator não tem recebido muitos xingamentos. “Fiquei perplexo ao perceber que a grande maioria das pessoas concordam com a atitude do Camilo e apoiam sua conduta”, diz. As mensagens carinhosas do público, inclusive, às vezes vêm em forma de cantada envolvendo a profissão do personagem, que é policial. “Acredito que, inconscientemente, sua profissão mexa com a imaginação dos espectadores”, analisa Lee, que não hesita na hora de definir como gostaria que fosse o desfecho do policial. “O mais tortuoso e inusitado possível”, conta.

Sem rótulo de galã
Mesmo tão elogiado nas redes sociais, Lee é modesto na hora de falar sobre si. “Honestamente, não tenho perfil de galã, o que me permite transitar entre personagens de características variadas e torna meu trabalho mais multifacetado e desafiador”, justifica. Devido ao ritmo das gravações de A Dona do Pedaço, o ator conta que não tem seguido uma rotina de exercícios físicos. “Ultimamente não tenho conseguido manter a disciplina devido aos compromissos profissionais”, conta ele, que não se define como vaidoso. “Sou bem desapegado com minha aparência, sempre estou a serviço de alguma personagem”, completa.

Além da atuação
No teatro, Lee já dirigiu seis peças. A mais recente — DOC. A. A. A.: Adictos de Afetos Anônimos — é motivo de orgulho para ele, que conciliou a direção da peça com a atuação na novela. “O trabalho alcançou um alto nível de excelência do ponto de vista estético, com uma linguagem arrojada e contemporânea, aliada a uma dramaturgia bem elaborada e um trabalho de atuação sensível e humano. É uma peça que convida o público para uma experiência e que emociona e surpreende por ser radical e não se utilizar de quase nenhum recurso teatral convencional”, explica Lee, que tem vontade de se aventurar na direção de um trabalho audiovisual. “É um desafio que estou me preparando para encarar em breve”, antecipa.

Experiência na Globo
Lee fez sua estreia na Globo em Velho Chico e, depois, participou da supersérie Onde Nascem Os Fortes. O ator destaca a inovação das duas produções na grade da emissora. “Ambos trabalhos são singulares e contaram com um olhar apurado, que resultou em obras ousadas para os parâmetros da televisão. Velho Chico e Onde Nascem Os Fortes foram trabalhos realizados por grandes artistas. São obras totalmente coerentes com a minha trajetória artística, com personagens complexas e encantadoras”, recorda.

* Estagiária sob supervisão da jornalista Karina Fernandes