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Conheça a história de Diego San, repórter-karateca que brilha em série da TV Globo

Sonho do ouro na Olimpíada de Tóquio joga luz na luta contra o racismo

Diego conta como consegue conciliar as duas profissões: repórter e karateca
Diego conta como consegue conciliar as duas profissões: repórter e karateca -

Rio - Pisar no tatame para enfrentar um adversário, às vezes bem mais forte, não assusta Diego Moraes. A luta do repórter da TV Globo, filho de uma família pobre em Macaé, começou bem antes de o menino sonhar com o ouro olímpico. A caminhada até o pódio das competições de karatê teve degraus muito mais altos do que seus fãs imaginam. Prestes a lançar três novos episódios da série "Diego San", no Esporte Espetacular, ele conversou com o Meia sobre sua história e o desafio de conciliar duas profissões.

O verbo "desistir" nunca fez parte do vocabulário de Diego, apesar da falta de apoio dentro da própria casa: o pai metalúrgico, com quem não tem contato há 3 anos, não teve nenhuma participação em sua vida acadêmica, muito menos na esportiva. Já a mãe, é a maior inspiração. Dona Anairdes, professora de português, foi quem apresentou o esporte ao filho — aos 3 anos, o menino entrou na natação e, aos 6, já praticava karatê.

Diego Moraes durante o Mundial de Karatê de 1998 - Arquivo Pessoal

“Competi nas piscinas até os 16 anos e, no tatame, até os 18. Sempre fui melhor no karatê, mas parei em 2005 porque não via muito futuro. O esporte ainda não era olímpico e conseguir patrocínio era muito difícil. A confederação brasileira não arcava com nada, tudo saía do meu bolso”, conta Diego, que na época já havia sido vice-campeão mundial, no Japão; sétimo lugar no Pan-Americano do Uruguai; campeão brasileiro juvenil e tricampeão estadual.

A dificuldade levou o atleta a outro caminho, mas não muito distante. Diego se formou em jornalismo e, à beira do gramado e das quadras, uniu a profissão à paixão pelo esporte. Mas os desafios não pararam por aí.

“Quando virei repórter, senti mais na pele o preconceito. Chegar em lugares mais altos é difícil pra todo mundo, mas pro negro é pior. Você acaba sendo sempre a única voz que as pessoas querem calar. Várias vezes esbarrei nessa questão, mas nunca foi um limitador. Se tenho que ser o melhor pra conseguir uma bolsa, uma oportunidade, vou ser. Por isso tenho que fazer bem feito e me esforço ao máximo tanto no karatê quanto no jornalismo. Meu sonho é chegar um dia numa redação e metade ser negra, sem que isso seja uma novidade", diz Diego, o único repórter negro a cobrir esportes no Rio para a TV: “Normalmente as pessoas pensam que o racismo é só ver o negro como pobre e bandido. Mas o que mais me incomoda é a contestação da nossa intelectualidade. É duro saber que acham que a gente é sempre burro”.

Inveja e fé 

Há dois anos, durante a cobertura da Rio-2016, o repórter sentiu que poderia estar (também) do outro lado do microfone. O anúncio de que o karatê seria esporte olímpico acendeu em Diego a vontade de voltar aos tatames. Mas não apenas isso: o objetivo é conquistar uma vaga na Olimpíada de Tóquio, em 2020. Veio daí a ideia de criar a série que tem feito sucesso na Globo, mostrando a rotina de competições, treinos e viagens:

A série Diego San tem feito sucesso na Globo, mostrando a rotina de competições, treinos e viagens - Divulgação

“Não é fácil ter uma série com essa repercussão. Tenho que saber lidar com a inveja no karatê e no jornalismo. Não posso falhar, porque é exatamente isso o que as pessoas esperam de mim. Tô curtindo o momento, mas sei que é temporário”.

Pelo menos as lesões também são. Logo no primeiro ano da série — no ar desde 2017 —, Diego machucou o joelho esquerdo. Foram sete meses de tratamento, com sessões que chegavam a durar oito horas por dia. A fé era sua companhia.

“Tem uma hora que a recuperação não evolui, esse momento é o pior. Comecei a trabalhar a parte psicológica e ir à igreja pra fortalecer minha fé. Outra coisa que ajudou foi assistir a documentários de pessoas que me inspiravam. Um deles contava a história do Usain Bolt, que teve a carreira marcada por lesões e conseguiu ser o que é”, conta.

Mas Diego é mesmo lutador: de volta aos tatames, o repórter-karateca teve um desempenho surpreendente e chegou à liderança do ranking brasileiro. Para ir a Tóquio, precisa chegar ao top 10 mundial. Aí Dona Anairdes terá (ainda mais) motivos pra se orgulhar...

* Estagiária sob a supervisão de Marco Antonio Rocha

Diego conta como consegue conciliar as duas profissões: repórter e karateca Reprodução TV Globo
Diego Moraes durante o Mundial de Karatê de 1998 Arquivo Pessoal
A série Diego San tem feito sucesso na Globo, mostrando a rotina de competições, treinos e viagens Divulgação