Mais Lidas

Mulher dá à luz no corredor de hospital público do Rio

Por falta de médicos e enfermeiros, a dona de casa Paula José Gomes, de 30 anos, deu à luz sua filha no chão, entre as cadeiras da sala de espera

Paula José Gomes deu à luz no corredor do Hospital Pedro II
Paula José Gomes deu à luz no corredor do Hospital Pedro II -

Rio - Por volta das 4h30 desta segunda-feira, Dalila veio ao mundo no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste. Mas por falta de médicos e enfermeiros, a dona de casa Paula José Gomes, de 30 anos, deu à luz sua filha no chão, entre as cadeiras da sala de espera. A imagem da mãe sentada em meio a uma poça de sangue, tentando fazer a bebê dar seu primeiro choro, viralizou nas redes sociais e causou comoção.

O drama da gestante começou por volta das 3h, quando ela sentiu as primeiras contrações. Ela foi levada de carro ao hospital pelo primo, Charles da Silva, junto com o marido, o auxiliar de enfermagem aposentado, Carlos de Castro, de 60.

O pai viveu momentos de tensão ao se deparar com a demora no atendimento. "A minha família trabalhou na área de saúde, mas eu nunca imaginei que isso fosse acontecer comigo. Perdi a cabeça com os funcionários do hospital, que, no lugar de darem atenção à minha mulher, estavam mais preocupados em preencher ficha de atendimento", disse Castro.

"Eu estou bem, a neném também está bem, graças a Deus. Tive a neném no corredor, mas está tudo bem com a gente", disse a mãe na enfermaria de obstetrícia, para onde foi levada após o parto.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a paciente chegou à unidade em trabalho de parto, mas não houve tempo para um atendimento imediato, porque os médicos quatro obstetras e três funcionários da equipe de Acolhimento estavam atendendo outras gestantes.

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) declarou que abrirá sindicância para apurar o caso.


'Modelo de saúde falido'

Membro titular da Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores do Rio, Paulo Pinheiro (PSOL) classificou o tratamento dado a Paula José Gomes no Hospital Pedro II como inaceitável. "Temos um modelo de saúde falido, em que se paga muito caro e não há retorno", disse o parlamentar, para quem o tempo de uma hora, período em que os familiares da gestante disseram ter esperado pelo atendimento, seria suficiente para acolher e atender a gestante: "Mesmo sem médicos, não é possível que o hospital não tenha uma maca, lençol limpo e par de luvas para acolher a mãe com um mínimo de dignidade". O Pedro II recebe um repasse de R$ 11 milhões por mês da Prefeitura do Rio, segundo o vereador. Os usuários reclamam da falta de estrutura da unidade.