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Massacre de Suzano: Padrão de atiradores envolve crise de baixa autoestima, insegurança e carência, diz especialista

Especialista alerta também para responsabilidade dos pais nas relações familiares

Escola Professor Raul Brasil, em Suzano, local do massacre
Escola Professor Raul Brasil, em Suzano, local do massacre -

Baixa autoestima, insegurança e carência afetiva. São os principais traços de personalidade de pessoas que cometem tragédias como a da Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, São Paulo, com 10 mortos e 11 feridos, e na Nova Zelândia, que fez 50 vítimas fatais.

De acordo com a psicóloga Marcia Modesto, é fato que essas pessoas têm algum tipo de dificuldade de relacionamento. Ainda segundo ela, de maneira geral, elas se isolam, vivem muito influenciadas pelas redes sociais e internet.

"Isso faz com que tenham baixa autoestima e, muitas das vezes, algum transtorno de personalidade. São geralmente pessoas, inseguras, com carências, relatos de abandono, rejeição e violência familiar. Amedrontadas, vêem na violência uma maneira para se sobrepor ao outro", avalia.

Marcia Modesto assegura que a arma de fogo também é um elemento que empodera pessoas que têm uma deformidade psíquica. "Elas se mostram como se tivessem uma força invisível, que naquele momento se materializa. Um super-homem, mas não um super-herói e, sim, um vilão", pontua a especialista, que defende que a família tem papel relevante na identificação de comportamentos que podem ligar o sinal vermelho para tais práticas.

"As famílias, muitas vezes, têm um comportamento que minimizam o comportamento de isolamento e não vêem isso como um sinal de um problema grave. Uma família que vê um filho isolado não pode considerar isso normal. É uma luz vermelha, o natural é viver, produzir e estar com outras pessoas", completa.

Marcia Modesto defende também que, se for o caso, a família também deve ser tratada. "A família também precisa ser tratada quando se tem algum membro com comportamento disfuncional. A família não enxerga muitas das vezes porque ela também precisa de um suporte psicológico. Os pais não têm culpa, mas responsabilidade. Pais são comandantes do navio, se deixam à deriva, o barco afunda", conclui.

A especialista critica ainda a chamada 'dark web'. "Na Dark Web temos a receita de um a sociedade fracassada. Espaço de pessoas que têm algum tipo de transtorno. Elas trabalham na sombra, com o seu lado escuro e por lá encontram seus pares. Já foi uma guerra silenciosa, hoje as pessoas perderam isso com o virtual, porque nesse mundo virtual as pessoas expõem suas ideias e sempre de uma forma como se sempre tivessem razão”, aponta.

O poder do não

Há 20 anos, um estudante de Medicina entrou em uma das salas de cinema do Morumbi Shopping e abriu fogo contra a plateia. Três pessoas morreram, quatro ficaram feridas e o atirador só parou quando foi contido por policiais. Em abril de 2011, 10 pessoas foram mortas e 9 ficaram feridas na Escola Municipal Tasso da Silveira. Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou no colégio alegando que iria para uma palestra de ex-alunos antes de começar o massacre.

"O não é um estruturante da personalidade humana. Pessoas que não lidam bem com as frustrações acabam não interagindo no mundo. Porque o mundo te diz não o tempo todo. E se os pais não estabelecem regras de convivência, deixam sem limites e não exercem os limites temos a receita para o fracasso da sociedade como um todo", defende Marcia Modesto.

“A atitude para um responsável que observa qualquer mudança de comportamento em seu filho é buscar ajuda. Temos os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em todo o Brasil, não temos o melhor serviço de saúde, mas temos possibilidade de atendimento”, finaliza a profissional.