Entre cores, percussão e alegorias, muita exaltação à cultura africana e seus ritos de fé. Esse será o tema cantado nos enredos de nove das 14 escolas de samba da série A, que invadem a Marquês de Sapucaí, a partir das 22h desta sexta-feira, dando início ao carnaval carioca. Com uma administração municipal que não concedeu apoio financeiro às agremiações, os enredos focados em batuques africanos soam como uma crítica política, segundo o comentarista de carnaval Fabio Fabato.
"A série A vem falando de enredos africanos que remontam tradições das religiões de matrizes africanas. Hoje, nós temos uma lógica neopentecostal. Temos um prefeito evangélico que não apoia o carnaval, que tem batuques de macumba. Então se grande parte das escolas falam de macumba, é claro que os enredos são políticos. Essa é a tônica da série A, muitos enredos de matrizes africanas", explicou.
Conhecida por fazer grandes carnavais no grupo de acesso, a Unidos de Padre Miguel está entre as agremiações que irá cantar sobre a cultura afro. Com o enredo "Ginga", a escola da Zona Oeste vai contar a história da capoeira para tentar buscar o tão sonhado retorno ao grupo especial.
"Será a primeira vez que a Capoeira é o destaque principal de um enredo e vamos mostrar toda a sua grandiosidade, não só como luta, mas como um ato de resistência e hoje patrimônio cultural imaterial da humanidade. Nosso enredo começa com a capoeira ainda na África, a chegada dela no Brasil, sua luta de resistência e como ela se tornou essa potência que está presente em praticamente todas as partes do mundo. O público pode esperar uma escola feliz e cantando muito o samba", falou o carnavalesco Fábio Ricardo.
O carnavalesco da Padre Miguel ainda adiantou que a comissão de frente da escola será formada exclusivamente por capoeirista. "Um fato interessante é que a nossa comissão de frente é formada por capoeiristas. Não temos nenhum bailarino, todos são alunos, professores e instrutores de capoeira", contou Fábio Ricardo.
Além da Unidos de Padre Miguel, as outras escolas que atravessaram a Marquês de Sapucaí com enredos sobre a cultura africana serão Acadêmicos de Vigário Geral, Acadêmicos da Rocinha, Porto da Pedra, Acadêmicos do Cubango, Renascer de Jacarepaguá, e Império Serrano, que desfilam hoje. Amanhã, quem desfila com esse mesmo tema é a Acadêmicos do Sossego e Unidos de Bangu.
Retranca
Com muita tradição no carnaval, a Imperatriz Leopoldinense, que já levantou oito taças do grupo especial, irá cantar na avenida, o samba "Só da Lala", que irá homenagear o compositor Lamartine Babo. Para retornar a elite, a escola de Ramos apostou no carnavalesco Leandro Vieira, que já foi campeão com a Mangueira por duas vezes.
"Preparei para a Imperatriz um desfile muito alegre, leve, e por isso escolhi Lamartine Babo. Escolhi fazer um carnaval que fosse uma festa, para brincar, se divertir, porque a alegria impulsiona. E Lamartine era isso, ele é considerado o rei do carnaval", declarou Leandro Vieira.
A Imperatriz foi rebaixada para a série A no carnaval de 2019, mas é cotada como uma das favoritas para vencer no grupo de acesso.
"A escola vai reeditar o samba sobre Lamartine Babo, samba que originalmente foi cantado em 1981, e ainda tem o Leandro Vieira, grande carnavalesco contemporâneo. A Imperatriz é uma das grandes favoritas, junto com a Unidos de Padre Miguel. E, para mim, a Porto da Pedra está ali correndo por fora", opina Fábio Fabato.
A Inocentes de Belford Roxo irá cantar um enredo em homenagem às mulheres e quem irá representar a força e o emponderamento feminino será a jogadora Marta. Já a Acadêmicos de Santa Cruz vai levar o público ao interior do Ceará, com o enredo "Santa Cruz de Barbalha - Um conto popular no Cariri Cearense", enquanto a Unidos da Ponte cantará "Elos para a eternidade", mostrando o legado que o samba constrói com uma união com a comunidade. A Império da Tijuca irá sacudir a avenida com o enredo "Quimes de um eterno aprendiz".