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Mãe de menino morto na Chatuba: 'Tiro de fuzil não é bala perdida'

Adolescente que foi atingido em ação da Polícia Militar na Baixada queria ser policial

Parentes e amigos de Kauan protestaram durante o enterro
Parentes e amigos de Kauan protestaram durante o enterro -

Com faixas e mensagens, amigos e familiares participaram da despedida ao menino Kauan Pimenta Peixoto, de 12 anos, morto durante uma operação da Polícia Militar na Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, no Cemitério de Olinda, em Nilópolis. A família optou por retirar o corpo para o sepultamento nesta segunda-feira antes de receber o laudo cadavérico, que deve ser divulgado em 15 dias. Segundo a mãe, Kauan queria ser policial militar.

"A médica disse: 'Seu filho está muito mal, não vou negar, mãe. Como eles colocam uma algema num garoto de 12 anos e jogam no camburão?'. Vamos insistir, porque meu filho não era criminoso. O laudo diz que o tiro que matou ele foi o do pescoço. O tiro do abdômen perfurou o pulmão direito. Eles destruíram uma família inteira. A minha menor não dorme desde sábado. Assim que soube o que aconteceu, fui ao lugar onde foi baleado e não achei nada. Nenhuma cápsula ou sinal de confronto. O que se confirmou com a desistência dessa lógica de confronto. Três tiros de fuzil não é bala perdida", disse Luciana Pimentel, mãe de Kauan. Durante o cortejo, Luciana passou mal e foi enviada à UPA de Nilópolis.

Segundo um parente, que esteve no local onde Kauan foi baleado e preferiu não se identificar, os policiais usaram uma luva para retirar os projéteis de dentro do corpo do menino. Eles teriam, inclusive, coletado todas as cápsulas. "Eles teriam saindo rindo. Os moradores de lá disseram que os policiais pareciam que queriam levar alguém. Ele levou o primeiro tiro e o segundo ele já estava no chão", disse.

"Era um aluno complicado, mas ele era um menino bonzinho. Respeitava os professores. Ele tinha bastante amigos na escola. Alguns estão chorando tanto que nem aguentam. Dei aula para quase a família toda. Ele era como se fosse um filho. Tinha problema pra acordar, mas fora isso, era um ótimo menino", disse Sheyla Miranda, professora do colégio municipal Sagrado Coração de Jesus.

Na ocasião da morte de Kauan, a assessoria da PM afirmou que os policiais patrulhavam a região conhecida como Boca do Arrastão por volta das 22h30, deste sábado. Eles foram atacados por criminosos quando chegaram na rua Roldão Gonçalves esquina com Magno de Carvalho. Houve confronto. Após a ação, os militares encontraram Kauan ferido. Foram apreendidos 288 trouxinhas de maconha, 235 pedras de crack, 362 capsulas de cocaína, três rádios transmissores e R$98,00 em espécie.

Parentes e amigos de Kauan protestaram durante o enterro Reginaldo Pimenta
Kauan Pimenta Peixoto Arquivo pessoal