Rio - O Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) começa a julgar, nesta sexta-feira (30), a madrasta Cintia Mariano Dias Cabral, acusada pela morte da própria enteada Fernanda Cabral, de 22 anos, por envenenamento. A primeira audiência prevê o depoimento de 28 testemunhas, entre acusação e defesa, além da ré e do outro enteado, Bruno Cabral, de 16 anos, que também foi envenenado, mas sobreviveu. A instrução começou às 13h20.
Jane Carvalho Cabral, mãe dos jovens envenenados, compareceu à audiência e afirmou estar confiante. "Estou muito confiante em todos os órgãos competentes, principalmente em Deus. Aqui não tem ira de vingança, mas sim de justiça. Ela [Cintia] em nenhum momento se mostrou arrependida, fez primeiro com a minha filha e depois com meu filho, que graças a Deus está aqui hoje. Peço que ela pague tudo em dobro, o sofrimento e a saudade é grande demais, nada vai trazer a Fernanda de volta, mas a gente está aqui para afastar essa mulher da sociedade para que ela não faça mais nenhuma vítima. Acredito que essa mulher é um ser enviado pelo mal e fez tudo por ganância, com vontade de matar", disse na entrada da sala de audiência. Jane chegou no Fórum vestindo uma blusa com a foto dos filhos.
Bruno também chegou acompanhado da mãe. Bastante nervoso, ele disse ter esperado muito por essa audiência. "Eu estava aguardando esse dia para fazer justiça para mim e para minha irmã. Só tenho que agradecer muito a Deus", disse.
As amigas de Fernanda também compareceram ao julgamento da madrasta. Elas contam que como foi a morte da jovem e lembram da frieza da madrasta. "Espero que a Justiça seja feita e que ela esteja em paz. É como se revivêssemos tudo da época que ela estava internada. Quando a Fernanda faleceu, eu arrumei as coisas dela para serem doadas. A Cintia estava do lado o tempo todo, não esboçava nenhuma reação. Sempre solicita. Quando a Fernanda estava internada, levava cobertor para ela e mandava fotos do maninho (Bruno) rezando por ela. Nunca desconfiei de nada", conta Amanda Barros. Ela ainda completa: "Foi um baque. A Jane [mãe de Fernanda] já suspeitava. Para mim tinha sido uma coisa que já era predestinada, que a gente não espera. Foi uma surpresa e uma grande decepção a nossa amiga ser levada por tanta crueldade".
Gabrielly Andrei, também amiga da vítima, relembra que na época da internação de Fernanda, ela não entendia o motivo daquilo estar acontecendo. "A gente não entendia o motivo para ela estar passando tão mal. Os médicos não sabiam o que ela tinha e eu sempre falava: "Gente, tem alguma coisa acontecendo". Mas a gente não imaginava que viria algo assim da própria madrasta. Nunca desconfiamos de nada. Ela [Cintia] visitava ela. A Fernanda estava com uma alimentação super saudável, estava muito feliz antes disso acontecer. A falta que ela faz é inexplicável. Ela foi a melhor pessoa que já conhecemos. Parece tudo coisa de filme. Um pesadelo", diz.
Relembre o caso
A Polícia Civil do Rio indiciou Cíntia Mariano pelo homicídio de Fernanda, e pela tentativa de homicídio de Bruno Carvalho. Os dois eram enteados dela e foram envenenados, de acordo com as investigações. Segundo a 33ª DP (Realengo), ela teria colocado chumbinho na comida dos irmãos no dia 15 de março e 15 de maio, respectivamente.
As investigações tiveram acesso ao celular de Cíntia e uma perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE-RJ) apontou que não foi encontrado conteúdo diretamente ligado ao crime, mas diversas mensagens foram apagadas, o que justifica as últimas pesquisas de Cíntia na internet, que digitou "como apagar mensagens de Whatsapp" nas buscas. Em conversas com os filhos, foi possível perceber a preocupação deles com o comportamento da mãe.
Em um diálogo no WhatsApp no dia 16 de maio, às 12h03, Cíntia fala com seu irmão Wesley sobre o envenenamento de Bruno: "Bruno almoçou aqui e foi envenenado. Uma desgraça tá acontecendo aqui " e Wesley responde: "Mas como assim? Se ele comeu aí, onde ele está?".
Em outra conversa, a filha de Cíntia, Carla Mariano Rodrigues, perguntou se a mãe lembrava de tudo que elas passaram com a separação: "Meu Deus, mãe. Você lembra de tudo que passamos? Na separação de vocês? Como a gente não vai desconfiar de você?". Na conversa, é possível ver várias mensagens que foram enviadas por Carla apagadas.
Em um diálogo no WhatsApp no dia 16 de maio, às 12h03, Cíntia fala com seu irmão Wesley sobre o envenenamento de Bruno: "Bruno almoçou aqui e foi envenenado. Uma desgraça tá acontecendo aqui " e Wesley responde: "Mas como assim? Se ele comeu aí, onde ele está?".
Em outra conversa, a filha de Cíntia, Carla Mariano Rodrigues, perguntou se a mãe lembrava de tudo que elas passaram com a separação: "Meu Deus, mãe. Você lembra de tudo que passamos? Na separação de vocês? Como a gente não vai desconfiar de você?". Na conversa, é possível ver várias mensagens que foram enviadas por Carla apagadas.
O laudo complementar de necropsia realizado no cadáver exumado de Fernanda, irmã de Bruno, atestou que a causa de sua morte foi intoxicação exógena, provocada por envenenamento. Mesmo o exame toxicológico não tenha sido capaz de identificar as substâncias, o documento do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IMLAP) comprova que a eliminação do organismo de chumbinho é rápida.
No laudo de exame complementar de pesquisa indeterminada de substância tóxica em amostra biológica apresentou evidências de compostos carbofurano e terbufós no material gástrico de Bruno. Esse documento comprovou que o pesticida, chumbinho, estava presente no organismo do estudante.
No laudo de exame complementar de pesquisa indeterminada de substância tóxica em amostra biológica apresentou evidências de compostos carbofurano e terbufós no material gástrico de Bruno. Esse documento comprovou que o pesticida, chumbinho, estava presente no organismo do estudante.