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'Novo normal para quem?': Ativista de favela do Rio questiona termo e ajuda comunidade

Stellinha constrói rede de auxílio para quase 500 mulheres do Morro dos Macacos: "Para as mães pretas de favelas, o novo normal nunca vai existir. Nunca foi normal"

Projeto Mãe e Muito Mais
Projeto Mãe e Muito Mais -
O Morro dos Macacos cresceu no coração de Vila Isabel, bairro de classe média carioca. Ali, como em boa parte do Rio de Janeiro, duas realidades completamete diferentes estão a poucos metros de distância. Nos apartamentos muito se discute como será o retorno para o 'novo normal', após o fim da pandemia. Na favela, nem o antigo normal chegou. É o que avalia Stellinha Moraes, ativista social da comunidade e criadora do projeto 'Mãe e Muito Mais', que tem auxiliado centenas de mulheres da comunidade com alimentos e discussões sobre independência feminina.
"A gente visa dar alcance para essas mulheres no 'novo normal'. Eu sempre falo: 'novo normal para quem?' Para essas mães da camada mais baixa da sociedade, as mães pretas de favela, novo normal não vai existir. Nunca foi normal. E a demanda delas não é nova, só tomou um holofote muito maior agora", questiona Stellinha. No projeto 'Mãe e Muito Mais', as mulheres têm duas aulas semanais durante três meses com temas sobre assistência social, educação, integração social e terapia. "Fiz parceria com o CRAS (Centro de Referência de Assitência Social), Subsecretaria da Mulher, terapeutas, professoras, advogadas, historiadoras, e todas facilitaram temas que eu pedi". No início de setembro, 400 mães do Morro dos Macacos se formaram, com direito a diploma. Agora, outras 60 estão no processo. Todas elas receberam auxílio de alimentos e itens de higiene pessoal, como fraldas, durante a pandemia. Para continuar com o projeto, que terá duração de um ano, Stellinha tem buscado ajuda através de madrinhas, que podem ajudar com a colaboração mensal de R$ 20. 
"A gente sabe que nessas épocas de catástrofe, pandemia, o que mais funciona em curto prazo é o assistencialismo. A gente continua com isso, mas acreditamos que se a gente não trabalhar agora, quando voltar ao 'novo normal', essas mães não vão conseguir acessar esse novo normal porque elas não têm rede de apoio. Essa onda de solidariedade está linda, linda, mas vai acabar. As pessoas não vão continuar fazendo isso depois da pandemia. Acho que chegou o momento de unir o assistencialismo a ações de impacto".
Projeto Mãe e Muito Mais FERNANDA EINCHIN/DIVULGAÇÃO
Mães do Morro dos Macacos são auxiliadas por Grupo Anjos da Stellinha REPRODUÇÃO FACEBOOK

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