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Abuso sexual, tráfico e sucesso: Azzy lembra traumas e diz que sua vida vai virar filme: 'As pessoas merecem saber o que superei'

Cria do Rio do Ouro, cantora é uma das grandes vozes femininas do rap nacional e já teve seu rosto estampado até nos telões da Times Square, em Nova York

Azzy é um dos grandes nomes da nova geração do rap brasileiro
Azzy é um dos grandes nomes da nova geração do rap brasileiro -
"De São Gonçalo pro mundo. Você não queria, mas eu vinguei". Cantando a sua própria realidade, Isabela Oliveira, conhecida no mundo da música como Azzy, superou os traumas do passado, que vão desde abuso sexual até o envolvimento com o tráfico, para se tornar uma das grandes vozes femininas do rap brasileiro, tendo o seu rosto estampado, inclusive, nos famosos telões da Times Times Square, em Nova York. Cria do Rio do Ouro, bairro entre os municípios de Niterói e São Gonçalo, onde participou de suas primeiras batalhas de rap, a artista, que ainda foi mãe aos 17 anos, abriu o jogo sobre a sua vida. Hoje, aos 20 anos, e com mais de dois milhões de seguidores no Instagram, relembrou o passado difícil, e contou as diversas novidades que vêm por aí, incluindo um documentário sobre sua vida.
AZZY apareceu em um dos disputados telões da Times Square, dm Nova York - Foto: ONErpm Studios
Envolvida com a música desde pequena, Azzy começou a compor suas primeiras letras ainda no começo da adolescência.

"Eu sempre fui muito fã de música. Sempre tive um leque bem extenso de referências. Comecei a compor com 12 anos de idade, mas minha ligação com a música, posso dizer que é desde quando eu nasci. Sempre me acalmou. Quando eu era criança, parava tudo o que eu tava fazendo pra escutar, cantar e dançar”, disse ela, que citou suas referências musicais.

"Sempre fui muito ligada ao hip-hop. Mas as minhas referências antes do rap vão de Bonnie Tyler, Michael Jackson, Mariah Carey, passando por Martinho da Vila, Ana Carolina… Como eu falei, sou bem eclética."
Abuso sexual e envolvimento com o tráfico

Azzy falou também sobre um período traumático, que mudou para sempre sua vida. Aos 12 anos de idade, se viu obrigada a fugir de casa, pois assim como diversas jovens brasileiras, sofria abuso sexual de um parente.

"É sempre um pouco duro dizer o motivo que me fez sair de casa tão cedo. Ter sido abusada sexualmente é um trauma que eu carrego pra vida inteira e anda lado a lado comigo. Porque a gente não esquece, e isso desperta diversos gatilhos. Mas eu vejo a minha saída de casa tão nova como um ato de liberdade.

Ao sair de casa, Isabela chegou até a morar na rua. Diante de tantas dificuldades, aos 14 anos a jovem acabou encontrando um refúgio no tráfico de drogas.

"Quando a gente vai pra rua, a gente entende que tem que ter algum lado. Seja para se proteger ou para ter pessoas que te protejam. E eu optei por me defender. Por ter minha própria segurança. E por ter saído de casa por conta de abuso sexual, eu nunca senti vontade de me prostituir. Eu nunca vi a prostituição como uma saída. E eu acabei me envolvendo com pessoas da periferia, fazendo amigos. E ali dentro dessas idas e vindas na periferia, eu acabei me sentindo segura dentro do tráfico. Foi uma fase da minha vida bem louca. Porque por mais que eu soubesse o que estava fazendo, eu não tinha consciência do quão perigoso e arriscado era. O quanto a minha vida e a de todas as pessoas que são envolvidas no tráfico também estava em risco", lembrou ela.
Azzy participou das edições 4, 6 e 11 do projeto Poesia Acústica - Foto: Steff Lima
Mesmo muito jovem, Azzy já é mãe de duas meninas. A cantora falou sobre os impactos que a maternidade prematura trouxe para sua carreira.

"Minha primeira gravidez foi aos 17 anos de idade. Eu sou mãe de duas crianças, a Lua e a Dominic. Ter sido mãe nova, dentro da minha carreira, me fez alcançar um público de mães jovens. Meu público, eu posso dizer que 70% é mulher, e 30% delas são mães e novas. Então eu meio que acabei me tornando uma inspiração pra essas mães, que assumem a responsabilidade de criar suas filhas, independente de estar com um cara ou não", relatou ela, que não parou de trabalhar durante a gravidez.

"Eu nunca paro de trabalhar. Nem antes da gravidez, nem durante e nem depois. Pra mim é uma coisa normal trabalhar grávida. É mais cansativo, doloroso e desgastante. Mas vale a pena porque é a garantia do futuro das minhas filhas. Independente de como eu esteja, se eu conseguir levantar da cama, tô indo trabalhar".
Documentário sobre sua vida

Com tantas histórias de superação, Azzy ouviu diversas vezes que sua trajetória poderia virar um filme. De tanto ouvir isso, a cantora resolveu dar luz a essa ideia. Em primeira mão, a artista deu detalhes sobre essa novidade que será lançada no final de fevereiro de 2022.

"O documentário foi uma ideia em conjunto. O Kauê Maschella (empresário), teve a brilhante ideia de fazer isso acontecer, mediante a todas as situações que eu passei na minha vida, que todo mundo quando escuta, e até eu mesmo, quando paro pra pensar, vejo que daria um filme. E eu acho que as pessoas merecem saber que eu superei e passei por todas essas coisas e ainda estou de pé. A gente precisa de pessoas assim. Acho que a minha história pode mudar a vida de muitas pessoas também", disse ela.
Tendo que sair de casa aos 12 anos, Azzy chegou a morar na rua - Foto: Steff Lima
Cheia de ideias, Azzy também lançou há pouco tempo o seu próprio podcast, o "Azzydeia". A cantora deu detalhes sobre o que a motivou a entrar nesse ramo tão em alta atualmente.

"O Azzydeia é um projeto que nasceu junto com a Azzy, mas não tinha uma direção. Desde que eu fechei com a produtora DK, eu tive a oportunidade de estudar o projeto com todo mundo. Aí surgiu a ideia do podcast. E eu já tinha um nome. Sempre vi o Azzydeia como um programa. Não tinha pé nem cabeça ainda, mas era uma ideia que já tava ali no coração. Aí saiu do papel e tá sendo muito legal. Sempre gostei de apresentar e eu gosto muito de me comunicar com as pessoas, de ter essa troca de energias. E o podcast tá me trazendo isso".
Poesia Acústica: "Muito importante saber que eu participei de algo tão grande"

Tendo gravado hits como a faixa "Buzz Lightyear", em parceria com Choice, além das músicas "Privê" e "Faixa Rosa”, Azzy, que já gravou até com Ronaldinho Gaúcho, explodiu de vez em 2018, quando participou pela primeira vez do projeto Poesia Acústica, que reúne grandes nomes do rap, e que soma milhões de views no Youtube em suas 11 edições. Tendo participado das edições #4, #6 e #11, ela falou sobre a importância desses projetos em sua carreira

"Poesia Acústica é um marco histórico. Os projetos tomaram uma proporção que abriu um espaço gigantesco no rap nacional. E não tem como falar da minha carreira sem falar da grandeza que o Poesia foi na minha vida. Não só como artista, mas como Isabela também. É muito importante saber que eu participei de algo tão grande. Ser uma mulher no meio de tantos caras nesse projeto me traz uma representatividade muito foda também. A gente foi indicado ao Grammy, foi trilha sonora de novela das 21h. Acho que ninguém imaginava que daria esse boom todo, mas deu e eu tô lá no meio", celebrou.
Falando em representatividade, Azzy também comemorou o espaço cada vez maior dado às mulheres no rap, gênero que ainda é majoritariamente masculino. A cantora ressaltou a importância de ser uma das grandes vozes desse movimento.

"Ser um grande nome entre as mulheres no rap nacional hoje, me traz a lembrança de que já vieram outras mulheres antes. Que tem uma porta aberta pelas mulheres que surgiram antes da minha geração. Pessoas na qual eu me inspirei pra fazer rap. Poder ser mais uma voz ouvida é muito bom. Porque não é só a minha voz que está sendo ouvida, é a voz de todas as mulheres que passam por coisas que eu passei. Que passam por abuso sexual, que são oprimidas, que tem as suas vozes caladas, que não tem liberdade pra ser o que querem ser. Pra mim, representar essas mulheres é muito importante.”

Mesmo estando muito ligada ao rap, Azzy não se limita ao gênero. Além de ter gravado há duas semanas o clipe da música "Tormento", com Cleo Pires e Karol Conká, recentemente ela também fez parcerias com Belo e Lucas Lucco, se aventurando no pagode e no funk respectivamente. A cantora falou sobre as experiências e ainda contou algumas novidades que estão por vir.

"Eu sempre tive uma versatilidade musical muito legal. Eu não me limito a estilos musicais", disse ela, antes de emendar:

"Eu vou lançar um clipe agora. O nome da música é "Vale Nada". Esse clipe eu roteirizei e ajudei a dirigir. Eu já tava com a ideia toda na minha cabeça, só que estava programado mais pra frente. Mas do nada, durante um ensaio de fotos, me deu a louca e eu falei: "Vou fazer um clipe". E tá lindo! Dia 21 já tá no ar. Vai sair também o meu funk com o Lucas Lucco, no canal Otrafitta, que é um projeto bem legal de colab entre artistas. E ano que vem, segura que a Azzy tá vindo com tudo!", prometeu.
Azzy foi convidada para participar do projeto Future.Love, do cantor Belo - Reprodução / Instagram
Por fim, a cantora deixou um recado pra mulherada que também quer fazer rap, mas ainda tá insegura

"É o seguinte. Passa seu gloss. Bota sua lace e aquela roupa. Toca uma batida e deixa o sonho sair do papel. De início é difícil pra todo mundo. É um espaço que é muito fechado, é uma bolha. Mas você tem que estar disposta a furar a bolha. Não abaixar a cabeça pra ninguém. Entender que seu trampo, independente do gênero, é um trabalho grandioso. Arte é uma coisa grandiosa. Não se limite. Não se rotule. Não deixe que as pessoas digam o que você tem que fazer. Faça o que você quer fazer. Se entrega de corpo e alma, porque a música é muito egoísta. Se você não se entregar 100% pra ela, você não vai ter retorno. Então, corre atrás do seu sonho e acredita. Quem diria que eu, que vim lá de São Gonçalo, saindo de casa com 12 anos de idade, ia tá onde eu tô hoje. Então, se eu consegui, imagine vocês. Só bora!", finalizou.


Azzy é um dos grandes nomes da nova geração do rap brasileiro Foto: Steff Lima
Mãe de duas meninas, Azzy se tornou inspiração para outras mulheres que também foram mães cedo Foto: Steff Lima
Tendo que sair de casa aos 12 anos, Azzy chegou a morar na rua Foto: Steff Lima
AZZY apareceu em um dos disputados telões da Times Square, dm Nova York Foto: ONErpm Studios
Azzy participou das edições 4, 6 e 11 do projeto Poesia Acústica Steff Lima / divulgação
Azzy terá sua história de vida contada em um documentário, que será lançado em fevereiro de 2022 Foto: Steff Lima
Azzy foi convidada para participar do projeto Future.Love, do cantor Belo Reprodução / Instagram

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