'CARNAVAL FAZ PARTE DA MINHA VIDA'

Quitéria Chagas está de volta ao posto de Rainha de Bateria do Império Serrano, após seis anos. À coluna, ela fala sobre esse retorno, sobre sua fantasia e muito mais. Confira a entrevista!

Como está a expectativa para o desfile do Império?

Ansiosa. Retornar como Rainha de Bateria, com enredo do carnavalesco Paulo Menezes tão emocionante, que trará esse hino da MPB que é a música do Gonzaguinha. Já me emociono nos ensaios, imagina na Avenida.

Como está sendo essa volta ao Carnaval como Rainha de Bateria?

Após o período de maternidade e dedicação à minha filha, quando ela desmamou depois de um ano, voltei mais para mim. Voltar a ser Rainha, para mim, não é pelo poder do posto, é pelo prazer de poder representar o coração da escola, a bateria, dar continuidade ao trabalho que fazíamos. Quando estamos juntos, é como se meu corpo e a batida de cada ritmista fôssemos um só. Fazer parte da história do Império Serrano é uma honra, berço do samba, tenho 17 anos de escola.

Você tem uma relação bem forte com o Carnaval, Quitéria. Isso pesou na hora de você aceitar o convite para voltar a ser Rainha?

Sim. Convite surgiu quando a presidente Vera Lúcia ligou, o benemérito Dionísio Lins nos reuniu novamente e me fez reviver, relembrar toda minha história de 17 anos com a escola. Muitas lutas e conquistas. Graças à comunidade, fui Rainha de Bateria, eles lutaram por mim para assumir o posto, tiraram e não aceitaram pessoas que financiariam pelo cargo na época, pagavam minhas fantasias. Tenho uma gratidão enorme. Se hoje posso ajudá-los um pouco e retornar, é por amor e gratidão. Brinco que sou filha do Carnaval, meus pais se conheceram no Carnaval, conheci meu marido no Carnaval. Carnaval faz parte da minha vida, é a arte que me impulsiona na vida.

Sempre rola aquele frio na barriga quando você pisa na Sapucaí?

Sempre. Êxtase máximo, tudo é muito espontâneo. Avenida é imprevisível, como diz o enredo do Império, é como a vida, isso me fascina. A resposta do público, quando gostam, respondem na Avenida. A energia das pessoas me impulsiona em conjunto com os ritmistas, faz o espetáculo acontecer. Esse mix dá muito frio na barriga, porém não fico tensa, fico feliz e extasiada.

Como será sua fantasia?

Essa fantasia será a mais impactante que já usei na Avenida. Trará mistérios da vida, um pouco de ilusão. Insinua o corpo, mostra, mas também esconde um pouco o jogo (risos).

As fantasias de Rainha são muito caras. Você faz questão de pagar pelas fantasias?

 A primeira vez que paguei fantasia foi ano passado, quando abri a escola vestida de chinesa. Nunca paguei fantasia na minha vida, nem quando fui Musa da Vila Isabel. Eles faziam e devolvia para reciclarem. As escolas que desfilei me viam como profissional do samba, era uma troca e respeito mútuo pela dedicação, frequência de ensaios, trabalhos, divulgação... Para ajudar o Império, será a primeira vez que estou investindo na minha fantasia de Rainha de Bateria, que realmente tem um alto custo, ainda mais por seguir o personagem que representarei no enredo de Paulo Menezes.

O que os torcedores do Império podem esperar do desfile deste ano?

Emocionante, impactante e inusitado como a vida.

Tem algum ritual antes de entrar na Avenida?

 Olho para cima e agradeço a Deus por tudo. Depois, faço alongamento, para preparar meu corpo antes de entrar na Avenida.

Tem um momento mais difícil de enfrentar na Sapucaí? E o mais prazeroso?

Sinto tanto prazer ao entrar na Sapucaí. Logo de início, receber todo aquele calor humano e carinho do setor 1. Se existe alguma dificuldade, ela morre ali. Agradeço a Deus, me seguro no calor do povo e na batida da bateria, me jogo, sigo e deixo fluir.

O que você faz para manter a boa forma? Algum treinamento especial para o Carnaval?

 Como moro em Milão, malho na Virgin Active em um maquinário fitness novo da Reaxing para treinamento funcional. Meu objetivo é somente tonificar, não quero crescer massa muscular. Alimentação saudável (comida mediterrânea), mudei meus hábitos, como pouca quantidade. Antes, comia muito, parecia que tinha que armazenar comida (risos). 

Como você lida com o assédio masculino no meio do samba?

Os homens olham, poucos chegam a falar diretamente comigo, mas sempre me tratam com respeito, não sinto assédio a ponto de incomodar e serem agressivos.

Você mora em Milão. Como consegue administrar a vida lá e aqui, com os ensaios, sua filha?

É uma logística complicada, desafio. Graças a Deus, com o apoio, paciência e incentivo do marido, está dando certo. Quando estou no Brasil, minha filha fica na escola. Fim de semana ele cuida da nossa filha, superpai, dedicado. Se não fosse ele, não daria mesmo. Vale a pena, estou feliz, isso importa também. Ser mulher, mãe, fazemos mil coisas ao mesmo tempo, somos guerreiras. Daqui a pouco, o Carnaval acaba e retorno aos cuidados da família e à psicologia com as mulheres gestantes na Itália.

Quando está na Itália, como é sua rotina lá?

Ser mãe, mulher, muito dedicada à família. Empenhada na validação do meu diploma de psicóloga para atuar na minha profissão em Milão. Para isso, também tenho que estudar algumas disciplinas na faculdade italiana, porque as grades curriculares no Brasil são diferentes e a carga horária inferior. Mas em pouco tempo, terei direito de atuar como psicóloga na Itália.

Seu marido, Francesco Locati, fica com ciúme de você desfilar no Carnaval ou lida bem?

Ciúme moderado é natural, até apimenta a relação, senão ele nem me ajudaria a voltar ao Carnaval. Devo muito a ele todo apoio e investimento. Ele sabe que me faz feliz o Carnaval. Estamos há 10 anos juntos.

Você sente falta de morar no Brasil?

 O que me afastou do Brasil foi a violência, que não sinto vivendo em Milão, o alto custo de vida no Brasil. Os trabalhos do meu marido e a qualidade de ensino para minha filha encontro na Europa. O que sinto falta do Brasil é do samba, Carnaval, felicidade e espontaneidade do nosso povo.